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Grupo Pé de Ouro da Ilha de Valadares, em Paranaguá, referência do fandango, dança e música típicas do litoral do Paraná | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Grupo Pé de Ouro da Ilha de Valadares, em Paranaguá, referência do fandango, dança e música típicas do litoral do Paraná| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Sotaque eletrificado e experimentação

O sotaque paranaense aparece bastante na atual música popular produzida por aqui. Peguemos, por exemplo, a banda Blindagem (www.bandablindagem.com.br). Pioneira no rock paranaense, está há mais de 30 anos na estrada. Lançou o primeiro disco, homônimo, em 1981, já trazendo a parceria com o poeta Paulo Leminski - iniciada ainda antes, com o vocalista Ivo Rodrigues (Porto Alegre, 1949 – Curitiba, 1910) na precursora banda A Chave. Esse grupo conseguiu unir o rock com a música sertaneja, um movimento iniciado pelo trio Sá, Rodrix & Guarabira nos anos 70, também em paralelo com a curitibana A Chave.

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A bossa poética dos versos

No início, era a poesia. A canção popular feita no Paraná tem, ao menos, uma característica: a letra elaborada, com perícia e lirismo. O responsável por essa, hoje, tradição é o poeta multimídia Paulo Leminski (1944-1989). O primeiro álbum da banda Blindagem, de 1981, apresenta, por meio da voz de Ivo Rodrigues, toda a bossa do Leminski letrista, com destaque para o reggae "Sou Legal, Eu Sei": "Eu sei que sou legal/ O duro é provar/ Que sou legal, eu sei/ Mas isso não sei/ Se vão deixar dizer."

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Para além dos pinheirais

Há duas décadas era tudo mais complicado. Para gravar uma fita demo, uma banda precisava desembolsar uma boa quantia a fim de cobrir os custos de um estúdio, depois fazer manualmente as cópias dos cassetes e enviá-los país afora pelos Correios. A resposta demorava a chegar – às vezes nunca chegava – e até acontecer um contato formal para shows em outras cidades e estados, passavam-se meses.

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Desatando o nó

O burburinho causado há algumas semanas por conta da programação da Rádio Educativa, que colocou no ar bandas paranaenses e novos grupos que se destacam na música brasileira, serve como bom termômetro para se analisar o estado da produção e divulgação do que é feito por aqui. A conta é simples: há quem produz e há quem consuma. Talvez o meio do caminho entre esses dois pontos é que não esteja bem definido.

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Palcos para todos os gostos

Além da divulgação feita em redes sociais, é elementar a qualquer banda que deseje se tornar conhecida fazer bons shows ao vivo. Para isso, é preciso procurar um espaço que dê oportunidade para formações de música autoral em meio aos inúmeros bares que se espalham por Curitiba (leia mais no quadro ao lado).

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O Paraná é um estado obcecado por identidade. A razão para isso acontecer é simples: ele não a tem, ou, pelo menos, ela não é tão aparente quanto as de outros estados semelhantes em tamanho de população e riqueza, como a Ba­­hia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul ou Pernambuco. Já São Paulo também não tem lá muita identidade, mas compensa essa au­­sência pela história e pela riqueza, em muito superior às dos de­­mais estados do país. Essa personalidade paranaense – ou paranista, como preferem alguns – é buscada desde o início do século passado e as artes foram uma das formas utilizadas para tentar dar ao estado esta "característica própria". Esta edição do Caderno G Ideias falará um pouco sobre a identidade do estado – ou a falta dela – e a música. Fiz este preâmbulo para introduzir o tema que me foi proposto, o de discutir se a produção musical reflete temas e a identidade locais.

Para responder diretamente a questão acima, afirmo que a música feita no Paraná não reflete e nem deve refletir temas e identidades locais. Não, não estou dizendo que não se deve fazer música sobre as coisas do Paraná. Apenas que a música feita no Paraná não deve ter como preocupação única o paranismo. Fazer isso é assinar a declaração de isolamento do resto do país e do mundo. Seria muito provincianismo. É claro que belas canções falando de nosso povo, nossa geografia, nossos costumes e idiossincrasias vão e devem continuar sendo feitas. Mas não exclusivamente isso. E os artistas não devem ter essa obrigação em mente quando estiverem criando.

O hino

Vamos começar pelo início, com um pouco de história. Existe uma música fundamental que foi feita para representar o Paraná. Sim, claro, estou falando do "Hino do Paraná" – vocês podem ver a le­­tra nesta página. A música é de Bento Mossurunga (1879-1970) e a letra de Domingos Nascimento (1863-1915). A dupla criou a obra em 1903, mas ela só foi oficializada como hino do estado em 1947, ou 32 anos depois da morte do poeta, um dos precursores do Simbolismo, movimento poético do fim do século 19 e início do século 20, que foi mais forte e duradouro no Paraná do que no resto do país.

Além de escritor, Nascimento foi ainda militar (defensor da Re­­pública), jornalista (criador e co­­laborador de vários periódicos no Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) e político (chegou a deputado federal). Também é o autor do "Hino de Paranaguá", oficializado em 1910. Figura im­­portante de nossa história, que deveria ser mais ensinada nas escolas.

Eu não gosto de ufanismos e, por­­tanto, de forma geral, não gosto de hinos. Mas, comparando, vemos que no "Hino Nacional" há referências claras à história e ao povo brasileiro. O mesmo não acontece no hino paranaense. Tire-se a palavra Paraná e a substitua por qualquer outra – Amapá, por exemplo, para preservar a métrica e a rima, mas poderia ser Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro – e o hino se mantém. Fora o no­­me do estado, não há nada que caracterize a letra como sendo feita para o Paraná. Não há referências. Isso não é nenhum juízo de valor estético, apenas uma constatação.

Já o maestro Bento Mossurun­­ga é uma das maiores referências históricas da música paranaense. Nasceu em Castro dentro de uma família musical, estudou piano e vio­­lino em Curitiba, transferiu-se pa­­ra o Rio de Janeiro em 1905, onde morou por 25 anos trabalhando com música, e voltou a Curitiba em 1930. Aqui deu aulas, compôs e criou grupos musicais, entre os quais a Orquestra Sinfônica da Uni­­versidade do Paraná (futura UFPR). Compôs música erudita, valsas, sambas, choros, mazurcas, tangos e até marchinhas carnavalescas. Não ficou conhecido por se dedicar a uma música que tivesse a característica do Paraná. Nem mesmo o hino do estado é uma "música do Paraná".

Fandango

O que seria a música do Paraná? Bom, tem o fandango, com suas violas de fabricação própria, com afinações únicas e o sapateado de tamancos. É tão característico que há a promessa do Instituto His­­tórico e Artístico Nacional (Iphan) de transformá-lo em bem imaterial. Se a promessa for cumprida, seria o primeiro bem imaterial do sul do país. A capoeira, o frevo e o samba, por exemplo, já são bens imateriais brasileiros. Por­­tanto, se formos falar em mú­­sica de característica paranaense, falaremos do fandango produzido no nosso litoral. No entanto, é música e dança de origem europeia que foram apropriadas pelos caiçaras do sul, principalmente no Litoral do Paraná, mas com incidência também em São Paulo.

O Grupo Fato (http://www.fato.org/), fundado em 1994, em Curitiba, que mistura MPB e pop, estudou o fandango e incorporou-o às suas composições e arranjos. O resultado ficou de bom gosto, mas não se trata de um grupo folclórico – é uma banda que também mistura tendências e ritmos de outras partes do mundo (do rock ao samba) para fa­­zer um som atual e criativo. Tam­­bém dá muito espaço aos poetas paranaenses. Ou seja, nos cinco discos já lançados, canta o Paraná, mas tem um som universal.

Interatividade

Você acha que há em Curitiba espaços suficientes para absorver a produção das bandas e artistas locais de música autoral?

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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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