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Quem é?

Saiba mais sobre o curitibano Homero Gomes:

Formação

Homero Gomes nasceu em Curitiba em 1978. É escritor e professor de Língua Portuguesa.

Trajetória

Foi colaborador de revistas e jornais literários como Rascunho, Cronópios, Vaia, Cult, Escritoras Suicidas, Rapadura e TriploV Portugal), entre outros veículos.

Poesia

Em 2013 lançou seu primeiro trabalho, o livro de poesia Solidão de Caronte, pela editora Patuá.

Romance

Seu primeiro romance Tempo do Corpo tem lançamento previsto para o segundo semestre deste ano, pela editora Terracota.

Entrevista

"Não precisamos carregar eternamente a nossa condenação"

O trabalho do escritor tem a ver com a tragédia de Sísifo?

Estas figuras de condenação eterna sempre me interessaram muito. Aqueronte, Sísifo, Prometeu... Como eu tento escrever muito imageticamente, vislumbrei este Sísifo desatento que se esqueceu de empurrar a pedra morro acima porque parou para contemplar o vale. Como consequência, a pedra agora está sobre ele. Acho que no mundo de hoje já chegamos neste nível: não estamos mais condenados a levar a nossa própria condenação para todos os lugares e para sempre. A pedra já está sobre a nossa cabeça e temos que nos libertar de outra forma.

Este é seu primeiro livro de prosa. Você teve algum cuidado especial em função disso?

Eu não quis trabalhar apenas a linguagem. Há autores que se preocupam principalmente com a linguagem e deixam a história como que de lado. Eu quis trazer tramas que se desmontassem por si próprias e, assim, desmontassem a linguagem.

Homero Gomes, escritor

Lançamento

Sísifo Desatento

Homero Gomes. Editora Terracota. 156 págs., R$ 30. Contos.

Narrativas breves sobre grandes mistérios. Histórias solidamente construídas com linguagem respeitosa com o leitor. Estes foram alguns dos objetivos que o escritor curitibano Homero Gomes se impôs para escrever os 28 contos que estruturam o livro Sísifo Desatento (Terracota), lançado no último final de semana em São Paulo. Um evento de lançamento em Curitiba deve ser confirmado para o mês de junho.

O livro é a primeira experiência individual do autor em prosa. A maior parte dos textos fez parte do projeto de Homero que foi classificado entre os finalistas do prêmio de literatura do Sesc no ano de 2007.

Depois de algumas tentativas frustradas de publicação, Gomes consegue agora lançá-los com uma unidade entre sentido e narrativa que ele acredita que os textos não tinham originalmente.

"Acredito que consegui fazer uma antologia que não é apenas uma coletânea de textos soltos, mas que se aproxima das preocupações com o sujeito, com o outro e com o destino", avalia.

Gomes explica que os textos escritos na década passada foram retrabalhados a partir de algumas leituras críticas de amigos escritores e de um amadurecimento de seu processo de escrita.

"Do projeto original, incluí outros contos, alterei a estrutura de alguns e elaborarei melhor a linguagem. Eu acho que, neste livro, já há a voz que eu estou buscando para outros projetos que estão vindo", acredita.

Nos contos, há perceptivelmente uma contínua atmosfera escura. O bizarro e o inesperado parecem estar sempre à espreita. Há crimes bárbaros nas ruas. Nas casas, há sótãos insuspeitos. As pessoas se transmutam, ficam cegas, são tomadas de moléstias súbitas e inexplicáveis. Símbolos como a sombra e a cobra são recorrentes para ajudar a compor um universo em que mitologia e filosofia, sempre com muita ironia, estão unidas para mostrar que tudo está sempre mudando, o tempo todo.

Os contos são divididos em quatro partes, separados por temas que têm afinidade entre si "como se fossem contos irmãos". Morte, caos e transformação são o escopo de alguns destes cortes temáticos. Cada um deles é aberto por texto em prosa poética, que dá o tom do que advém.

Ao final, um capítulo intitulado "O livro azul turquesa" (texto publicado na íntegra na revista Jandique deste mês ) fecha o livro fazendo "uma cosmogonia, que fala como foi a criação do mundo e sobre a era em que a gente está", explica o autor.

Mito

O título foi tirado de um texto de seu livro anterior, A Solidão de Caronte (Patuá, 2013), que já fazia uma referência à mitologia grega – neste caso, ao barqueiro que conduzia as almas para o mundo dos mortos.

Sísifo era um rei ardiloso, meio malandro, que por reiteradamente tentar enganar os deuses foi condenado a um castigo pior do que a morte: empurrar até o cume de um monte uma grande pedra que invariavelmente caía da montanha sempre que o topo era atingido. Um processo que se repetiria eternamente.

Para Homero Gomes, o escritor atualmente pode se permitir ser um "Sísifo desatento".

Sentado sobre a cerca, comida por cupins e pela umidade, vejo que ao redor da casa o brejo subsiste. Ele fede a esterco.

Pensava que após todos esses anos em que me perdi pelos meus caminhos, encontraria alguém pra atormentar além de meu pobre avô adoentado.

Ele continua gemendo em cima daquela cama dura de capim trançado. Não há o que fazer, ele só não vem me encontrar porque é teimoso. Muito mais do que eu consegui ser. Ouço o soluço desesperado que o velho dá pra não morrer. Ele luta: não sei por quê. O azul caiado da parede já está sumindo. A vida dele, enquanto ainda tinha forças e família já era um completo inferno. O que será que ele pretende com essa teimosia toda? Pra morrer não lhe falta nada; basta fechar os olhos.

Mas ele não fecha. Ficou cego. O ar daqui não é bom, ele deveria saber. O olho ganhou pus e agora está tão seco quanto a pele do infeliz. Mas o velho desgraçado não fecha...Trecho do conto "Uma Casa", parte do livro Sisifo Desatento, de Homero Gomes

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