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Voo United 93: trunfo estético do britânico Paul Greengrass | Imagens: Divulgação
Voo United 93: trunfo estético do britânico Paul Greengrass| Foto: Imagens: Divulgação
  • Guerra ao Terror conquistou crítica e se transformou em libelo contra ações militares
  • As Torres Gêmeas, de Oliver Stone, enfrentou pouca disposição das plateias
  • Leões e Cordeiros: pouco público e pouca repercussão
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Até Guerra ao Terror derrubar Avatar e vencer o Oscar de melhor filme, em 2010, era consenso entre grandes estúdios de Hollywood e produtores independentes que longas-metragens que de alguma forma lidassem com temas relacionados aos ataques do 11 de Setembro e à luta contra o terrorismo estavam provavelmente fadados ao fracasso. À exceção do documentário Fahrenheit 11 de Setembro (2004), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e grande sucesso internacional de bilheteria, poucos títulos que ousaram colocar o dedo na ferida aberta pelos atentados tiveram maior repercussão.

Oliver Stone não contrariou sua reputação de polemista de plantão e provocador político e realizou, em 2006, o filme que muitos acreditavam ser cedo demais para sair do papel: As Torres Gêmeas, drama que reconstitui o dia dos atentados do ponto de vista heroico e humanizado de um grupo de policiais e bombeiros. Estrelado por Nicolas Cage, Michael Peña, Maria Bello e Maggie Gyllenhaal, As Torres Gêmeas, um drama honesto porém convencional e beirando o estilo televisivo, não chegou a naufragar nas bilheterias – custou US$ 65 milhões e arrecadou US$ 70 milhões nos Estados Unidos. Mas ficou muito aquém das expectativas, rendendo mais dinheiro (US$ 93 milhões) no mercado internacional do que no doméstico, atestando que os norte-americanos não estavam tão dispostos assim a ver tão cedo na tela grande tudo a que haviam assistido ao vivo, e de forma muito mais dramática, na vida real.

Melhor sorte teve Voo United 93, também lançado em 2006, que deu ao diretor britânico Paul Greengrass (de Supremacia Bourne) uma merecida indicação ao Oscar de melhor direção. É incrível o trabalho de reconstituição, passo a passo e sem excessos melodramáticos, da história de como os passageiros teriam conseguido derrubar em um descampado no estado da Pensilvânia o avião que, nas mãos dos terroristas da Al-Qaeda, estaria destinado a se chocar, como um míssil tripulado, contra a Casa Branca ou o Capitólio, em Washington.

Com um orçamento modesto, estimado em US$ 11 milhões, arrecadou US$ 76 milhões e foi o primeiro sucesso comercial de uma dramatização relacionada ao 11 de Setembro. Seu grande triunfo, contudo, é mesmo estético. O estilo orgânico e documental da direção de Greengrass deu ao filme verossimilhança capaz de convencer que a arte poderia, de fato, dar conta da dimensão extraordinária da tragédia.

Fracassos

Filmes interessantes e bastante críticos em relação às guerras do Iraque e do Afeganistão, como No Vale das Sombras (2007) e Leões e Cordeiros (2007), apesar de dirigidos por cineastas de prestígio e estrelados por grandes atores, foram praticamente ignorados. No primeiro, assinado por Paul Haggis (de Crash – No Limite), Tommy Lee Jones (indicado ao Oscar por sua atuação) é um militar aposentado linha dura, que perde seu filho no front e quer pôr a história a limpo, desiludindo-se com o nacionalismo que tanto defendeu por toda a vida. No segundo, dirigido por Robert Redford, Meryl Streep vive uma repórter investigativa que enfrenta – e é intimidada por – um deputado federal republicano (Tom Cruise), para quem a Guerra do Afeganistão é um trampolim político e um negócio lucrativo em vários aspectos. Apesar de questionadores, os dois filmes não conseguiram atrair o público esperado e, pior, nem a discussão merecida.

Oscar

Guerra ao Terror, portanto, parecia estar fadado ao mesmo fim de No Vale das Sombras e Leões e Cordeiros, apesar de ter sido bem recebido no Festival de Veneza de 2008. Foi só quando estreou comercialmente, num circuito limitado, em junho de 2009, que o filme de Kathryn Bigelow iniciou o caminho que o levaria à consagração na cerimônia do Oscar em 2010, derrotando o megablockbuster em 3D Avatar, maior bilheteria internacional de todos os tempos.

Apesar de ter sido pouco visto – arrecadou apenas US$ 17 milhões nos cinemas americanos –, Guerra ao Terror foi ovacionado pelos críticos que, no fim de 2009, o colocaram em todas as listas de melhores do ano.

O retrato claustrofóbico do cotidiano de um esquadrão antibombas na Guerra do Iraque, filmado com vigor e originalidade por Bigelow, primeira mulher a vencer o Oscar de melhor direção, rendeu um dos mais tensos filmes de guerra já feitos. É o absurdo do conflito visto do lado de dentro, de uma perspectiva muito pessoal. Seu reconhecimento pela Academia de Hollywood o legitimou como um libelo antibelicista na era Obama.

O mesmo pode ser dito de O Mensageiro (2010), uma espécie de versão doméstica de Guerra ao Terror, ao retratar a dura missão de soldados encarregados de informar às famílias sobre a morte de seus pais, filhos, irmãos, maridos, esposas e companheiros no front. O longa de estreia de Oren Moverman também foi elogiado pela crítica e rendeu ao diretor uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original, apesar de seu desempenho comercial discreto.

Televisão

Paralelamente, na televisão aberta, o seriado 24 Horas, da rede Fox, que estreou em 2001 e se estendeu até o ano passado, trazia o mais eficiente dos heróis ficcionais da era pós-11 de Setembro: o agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland), cuja grande – e eterna missão – é evitar que novos ataques, de toda e qualquer ordem, ocorram.

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