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Ginásio do Tampa Bay Lightning, time sediado em Tampa, no estado da Flórida (EUA) | Eduardo Aguiar/Gazeta do Povo
Ginásio do Tampa Bay Lightning, time sediado em Tampa, no estado da Flórida (EUA)| Foto: Eduardo Aguiar/Gazeta do Povo

No futebol, a paixão clubística normalmente passa de pai para filho ou tem a ver com a cidade onde se vive. Mas, no caso das ligas norte-americanas, a variedade de critérios para se adotar um time é muito maior. Há quem tenha viajado aos Estados Unidos ou Canadá, assistido a alguma partida do time local, e assim nasce um torcedor. Outros começam a acompanhar o hóquei na época em que um time em particular está ganhando tudo, ou são influenciados por grandes estrelas – Jarome Iginla, dos Flames; Patrick Roy, do Avalanche; Martin Brodeur, dos Devils; e Mario Lemieux, dos Penguins, conquistaram muitos torcedores para seus times. Não faltam os que conheceram o hóquei pelos videogames e passaram a torcer na vida real pelo time que usavam no jogo. Soube até de um torcedor que adotou o Detroit Red Wings por causa da camisa de Cameron Frye, o melhor amigo de Ferris Bueller no filme Curtindo a Vida Adoidado (1986).

Thiago Simões, da ESPN, diz que, a julgar pelas interações dos fãs na internet e durante as transmissões, os times mais populares entre os brasileiros são Montreal Canadiens, Los Angeles Kings, Washington Capitals, New York Rangers, Anaheim Ducks (por causa dos filmes da Disney), Pittsburgh Penguins, Boston Bruins, Detroit Red Wings, Colorado Avalanche e Toronto Maple Leafs. Já vimos torcedores de todos os times nas redes sociais, até dos Sabres”, diz o comentarista, fazendo uma ironia com o time de Buffalo, que está indo tão mal nesta temporada que já há torcedores comemorando gols do adversário na arena, para que os Sabres terminem em último e, assim, tenham mais chance de ficar com a primeira escolha no draft de 2015.

Lá por 2001, quando eu estava planejando uma viagem a Toronto, passei a seguir mais de perto o Toronto Maple Leafs, um dos times mais tradicionais da NHL, e acompanhei a última grande chance de a equipe chegar às finais da Stanley Cup, perdendo a final da Conferência Leste para a zebra Carolina Hurricanes. Depois daquilo, nunca mais os Leafs chegaram tão longe.

Mas, como eu tinha conhecidos em Atlanta, resolvi adotar o time da cidade deles, o Atlanta Thrashers – o brown thrasher é o pássaro símbolo do estado da Geórgia. É meio parecido com um joão-de-barro, mas é parente do sabiá, e certamente é muito menos intimidador que o logo da equipe fazia parecer. Os Thrashers eram uma equipe nova, que estreou na temporada 1999-2000 e tinha dois garotos com tudo para se tornarem estrelas da liga, Dany Heatley e Ilya Kovalchuk. Só depois eu percebi que havia escolhido um time que amargava seguidamente as últimas posições no campeonato.

Sem tevê por assinatura, em uma era pré-smartphone e sem mídias sociais, o jeito de acompanhar os Thrashers era ouvindo as transmissões de rádio das partidas no site do time e participando de fóruns de discussão e listas de e-mails. Nas listas brasileiras, os que torcíamos para times mais fracos aguentávamos as piadas; no fórum do site oficial do time, fiz novos amigos, e em janeiro de 2003 fui a Atlanta especialmente para ver uma sequência de cinco partidas que os Thrashers fariam em casa e conhecer pessoalmente a turma do Nasty Nest, como ficou conhecido esse grupo de torcedores.

Não estava programado, mas a viagem coincidiu com a estreia de um técnico novo, Bob Hartley, que tinha conquistado a Stanley Cup com o Avalanche. Assisti a três vitórias (incluindo um 8 a 4 contra o St. Louis Blues, recorde de gols marcados em um único jogo até então), uma derrota e um empate. Após o 3 a 3 contra o Ottawa Senators, um dos melhores times na época, os torcedores saíram da Philips Arena gritando “we’re not last!” – na verdade, Hartley foi tão bem que o time chegou a ter uma esperança de ir aos playoffs naquela temporada.

O time foi melhorando e, em 2006-07, os Thrashers finalmente foram aos playoffs como campeões da Divisão Sudeste. Mas a alegria durou pouco: o time foi varrido pelos Rangers, 4 jogos a zero. No início da temporada seguinte, depois de seis derrotas em seis jogos, Hartley foi demitido. Um erro terrível, e os Thrashers nunca mais foram aos playoffs.

Em 2010 voltei a Atlanta, fazendo uma parada para um congresso em outra cidade, e pude ver um jogo de pré-temporada. Naquela época, já havia outros problemas assombrando os Thrashers: os proprietários não estavam se entendendo, e havia a possibilidade de a franquia ser vendida para outra cidade. De fato, após a temporada 2010-11, os Thrashers foram vendidos para um grupo de Winnipeg, no Canadá, e o time virou o Winnipeg Jets.

Os amigos, agora sem time, se voltaram para paixões passadas (muitos não eram de Atlanta, e voltaram a torcer para os times dos locais de onde vieram) ou para o Nashville Predators, o time mais próximo da cidade. Mas todos, inclusive eu, não deixamos de torcer pelo fracasso dos Jets (que estará nos playoffs deste ano), esperando que os jogadores de quem gostávamos tivessem sucesso em outras equipes. Quanto a mim, voltei a acompanhar os Leafs – sim, aquele time que não ganha uma Stanley Cup desde 1967.

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