Obra de Anita Malfatti foi uma das aquisições recentes feita pelo museu| Foto: Imegens: Divulgação/MON

Estrutura

MON também é criticado por ter centralizado espaços

Uma das principais queixas da classe artística em relação ao Museu Oscar Niemeyer (MON) é a de que o museu teria concentrado esforços e olhares, restringindo ao espaço as exposições de grande porte e também recursos financeiros. Além disso, a visitação também teria migrado e deixado os outros museus da cidade com um público inexpressivo.

"Houve uma concentração de verba. Evidentemente, isso teve seus benefícios, como grandes visitações. Quem trabalha com artes plásticas jamais imaginou um público tão amplo e heterogêneo", diz a artista plástica Eliane Prolik que aponta como solução para o problema uma política conjunta entre instituições.

A atual diretora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), Maria José Justino, crê que é necessário brigar para que os outros museus tenham um nível de estrutura semelhante ao MON. "Se o MON é uma referência hoje, queremos que os outros sejam iguais, e não o inverso."

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Raridade: obra de Vicente do Rego Monteiro é uma das mais importantes do acervo
Em dez anos de existência, MON não conseguiu instituir um projeto para aquisições periódicas de obras de arte
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As mais de três mil obras que ocupam a ampla reserva técnica do Museu Oscar Niemeyer, de artistas como Cândido Portinari, Ianelli e Daniel Senise, revelam raridades bem guardadas, ao mesmo tempo em que escancaram o que, talvez, seja o maior gargalo dentro da instituição: a política de formação de acervo. Conhecido pela grandiosidade de sua arquitetura e por ser o museu mais visitado do estado, o MON, nesses 10 anos de existência, não conseguiu instituir um projeto para que aquisições de arte, sobretudo brasileira, sejam periódicas e deixem de depender somente da boa vontade da doação de artistas e famílias.

"Ainda não temos um projeto. O ideal era que isso fosse desenvolvido junto ao conselho artístico", admite a diretora do museu, Estela Sandrini. No ano passado, o MON aproveitou a comissão que formou o primeiro acervo do espaço para fazer uma seleção de obras. Assim, conseguiram adquirir trabalhos de contemporâneos como Beatriz Milhazes, uma das artistas brasileiras mais valorizadas no mercado internacional. Um quadro de Anita Malfatti é outra compra recente, mas o acervo, que é considerado o primordial na constituição do que é um museu, ainda tem muitos buracos para preencher.

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O embrião do que existe hoje no MON veio do extinto Museu de Arte do Paraná, o MAP, instituição que também foi formada pela vontade da classe artística. Durante a gestão de João Elísio Ferraz de Campos (1986-1987), reivindicaram que obras importantes fossem retiradas de secretarias e prédios do governo. "Com isso se iniciou o MAP", conta Estela. Somaram-se a essas obras outras do antigo Banco do Estado do Paraná (Banestado), considerado um acervo irregular. "Misturava materiais dos salões de arte do banco ao que os gerentes ganhavam", diz a diretora do MON.

No início da gestão de Maristela Requião (em 2003), logo após a inauguração do museu em 2002, pelo então governo de Jaime Lerner, uma comissão formada pela diretora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), Maria José Justino, e pelos críticos Fernando Veloso, Fernando Bini, Enio Marques Ferreira e Geraldo Leão, escolheram o que veio do Banestado e deveria ser incorporado ao MON. "Foi uma seleção extremamente criteriosa. Em torno de 15% das obras do banco entraram. Os critérios que assumimos foram o valor artístico da obra, além da relevância histórica", explica Maria José.

Ao longo de sua gestão como diretora, Maristela Requião incorporava aos projetos das mostras, via Lei Rouanet, a compra de uma obra do artista em exposição, método que é mantido pela direção atual. "Fiz um esforço grande para comprar, foi uma inovação incorporar a aquisição na lei." Segundo Maristela, doações "maravilhosas" também ocorreram, como a de quadros de Ianelli (1922-2009), feitas pela filha do artista. Maristela também frisa que não existia verba específica para essas compras (assim como não há hoje). "Era tudo por meio da lei. A única captação era o ingresso da entrada, que é simbólica, e nunca cobriu nem exposições. Fizemos a loja e o café. Com essa renda conseguimos algumas obras."

Vazios

Para a curadora Consuelo Cornelsen, o que foi adquirido e doado ao MON ao longo desses 10 anos ainda está longe de ser um acervo pelo qual "o público se interesse." "Mas, serve muito para a Ação Educativa, e neste quesito o MON é imbatível. O trabalho de formação que é realizado com escolas com certeza terá reflexo nas gerações futuras."

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Maria José Justino salienta que preencher essas lacunas implicaria em diversas pautas. "Se falarmos em arte brasileira, seria necessário pensar em Tarsila do Amaral, por exemplo. Temos um desenho da Tarsila, uma gravura do Di Cavalcanti. Não temos uma grande obra desses artistas." Maria José, assim como Estela Sandrini, lembra que não se pode comprar sem critérios, "mas com uma curadoria que detectasse as falhas." Já o crítico Fernando Bini questiona a exposição das obras de acervo. "Uma ala inteira deveria ser somente para a arte paranaense, e não uma pequena sala."

Detecção

A artista plástica Eliane Prolik acredita que falta resolver o que se deseja para o acervo e, assim, buscar a verba necessária. "Há de se ter um objetivo claro", frisa ela que, em 1996, participou de um grupo que conseguiu adquirir obras da Exposição de Gravuras, que ocorreu um ano antes via Lei Municipal. Um autorretrato de Andy Warhol e gravuras de Louise Bourgeois (que estão no acervo da Fundação Cultural) foram algumas das obras compradas. Já Maria José se diz favorável à busca de um mecenas. "Se um senhor rico, que tenha condições, virar o padrinho do museu, seria extraordinário."