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Keaton vive um ator assombrado pelo sucesso do super-herói que interpretou no passado | Miguel Nicolau Abib Neto/Especial para a Gazeta do Povo
Keaton vive um ator assombrado pelo sucesso do super-herói que interpretou no passado| Foto: Miguel Nicolau Abib Neto/Especial para a Gazeta do Povo

Cinema

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É preciso se deixar levar pela linguagem de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). Brilhantemente montado como se fosse um longo plano-sequência e carregado de um humor sarcástico, obscuro e veloz, o quinto longa-metragem do mexicano Alejandro González Iñárritu (de Amores Brutos e 21 Gramas) por vezes quase perde o ponto na agilidade com que apresenta temas densos e se alterna entre realidade e delírio. Mas, uma vez transportado para o perturbado universo de Riggan Thomson (Michael Keaton), ator que monta uma pretensiosa adaptação de um livro de Raymond Carver para a Broadway enquanto lida com fantasmas do passado – o maior deles, o super-herói Birdman, com o qual ganhou fama mundial nos anos 1990 –, o público é recompensado com uma comédia estranha, genuinamente diferente e divertidíssima.

O óbvio paralelo do personagem central com a biografia de Keaton, que interpretou os dois Batmans de Tim Burton entre 1989 e 1992, é apenas um ingrediente cômico extra. A identificação não vai muito longe, já que Keaton, aos 63 anos, afirma nunca ter sido atormentado pelo homem-morcego. Riggan, por outro lado, está em uma profunda crise pessoal, e vê sua obsessão pelo reconhecimento se tornar patológica. Doença que, por sua vez, imprime elementos fantasiosos e filosóficos dos mais interessantes – profundidade que Iñárritu e seus corroteiristas conseguem oferecer em Birdman sem pedantismo.

Keaton brilha no papel, mas não é o único. Emma Stone está ótima como Sam, filha de Thomson, e Edward Norton, como o insolente ator Mike, não perde a mão mesmo sendo protagonista das cenas mais escrachadas.

Por meio deles, Iñárritu pinta um retrato curioso dos bastidores do teatro, do entretenimento e do mundo das celebridades. Ataca a indústria dos blockbusters, mas não poupa seus detratores. No fim das contas, conforme o próprio diretor explica e torce para ser entendido, a questão central é o ego. Uma temática que não parece destinada a divertir. Birdman, no entanto, consegue fazê-lo. E por isso ganha tanta força.

É impossível prever se referências a tendências aparentemente tão efêmeras quanto as franquias de super-heróis no cinema e a corrida pela popularidade nas mídias sociais não farão com que o longa de Iñárritu, um dos favoritos ao Oscar, fique rapidamente datado. Mas, por hora, pode-se dizer que Birdman consegue ter, no mínimo, relevância – algo que seu personagem central persegue a um custo assombroso. E que pode ser um conceito bastante frágil, como ele mesmo mostrará.

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