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Depois de passar três décadas num trabalho em que agentes são informantes, tramas precisam ser frustradas, e não imaginadas, e deixar de cumprir um prazo final pode significar a morte, Stella Rimington parece estar aliviada por ter mudado de ramo, ingressando na ficção.

Contudo, apesar de já estar em seu quinto thriller de espionagem, a ex-diretora do serviço de segurança britânico MI5 fala sobre seus escritos com imparcialidade, como se um processo tão imbuído de fantasia ainda lhe provocasse alguma desconfiança.

"(Escrever livros) é um mundo diferente, sob todos os aspectos", disse ela em entrevista à Reuters.

"Com certeza essa coisa da imaginação é uma diferença muito grande. Você não trabalha com fatos. Pode deixar sua imaginação passear por aquilo que poderia ser ou ter sido, e não o que realmente é", acrescentou.

Rimington, 73 anos, não é a primeira ex-espiã a ter enveredado pela literatura popular. Graham Greene, Ian Fleming e John le Carre trabalharam na inteligência britânica no exterior. O romancista americano Charles McCarry é um agente aposentado da CIA.

Mas, pelo fato de ser a primeira mulher a comandar o MI5, encarregado de combater ameaças domésticas e não lançar exóticas missões de espionagem no exterior, Rimington traz algo de singular a um gênero que ganhou destaque com a "guerra ao terror" liderada pelos EUA.

A heroína de seus livros é Liz Carlyle, oficial de 30 e poucos anos do MI5 que, discretamente, enfrenta agentes da Al Qaeda, exilados russos que se combatem em solo britânico, um informante do IRA e tentativas de inviabilizar uma cúpula de paz entre Israel e Síria.

Ela também enfrenta o sexismo ocasional no escritório e a dificuldade de encontrar romance em sua vida, enquanto leva adiante sua carreira sigilosa.

"Liz é filha de uma época em que as mulheres podem fazer o mesmo trabalho que os homens", disse Rimington. "Já eu, quando ingressei na agência, enfrentei uma estrutura de dois níveis. As mulheres só podiam ser assistentes. Liz já é muito mais moderna."

Diferentemente de muitos livros de ficção de espionagem, em que choques ocorridos nas sombras refletem divergências políticas, ideológicas e até filosóficas mais amplas, os livros de Rimington - "At Risk", "Secret Asset," "Illegal Action" e "Dead Line" são imbuídos do ambiente prático e positivo que, segundo a autora, é típico do MI5.

As histórias de Rimington são inspiradas em fatos atuais e também em suas experiências, mas o exame prévio obrigatório de cada manuscrito pelo MI5 a impede de revelar segredos da agência desavisadamente.

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