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Basta uma olhadela mais atenta nas estantes de lançamentos das grandes livrarias para perceber que o tema da religiosidade é um dos mais frutíferos. Há desde obras que mais se aproximam da autoajuda até títulos, como as de Paul Johnson e de Terry Eagleton, que fazem uma abordagem de viés mais acadêmico e reflexivo.Para Cesar Kuzma, teólogo e professor da PUCPR, a religião sempre exerceu enorme fascínio sobre as pessoas. "Essa busca pelo sagrado, como um sentido para o mundo, é instrínseca à condição humana." E, no caso das religiões monoteístas, como o judaísmo, o islamismo e o cristianismo, há uma interação ainda maior do indivíduo com essa entidade superior – entre os cristãos, há também o fator de Deus também ser apresentado como homem, na figura de Jesus Cristo.

Houve um tempo, lembra Kuzma, que a religião estava na base da sociedade, no horizonte da própria vida, pautando a conduta, o estilo de vida, os valores das pessoas. No presente, na maior parte das sociedades, sobretudo nas ocidentais, esse não é mais o caso e há outras forças de influência que podem derminar o comportamento, que vão da psicologia à política, passando, é claro, pelas ideologias. E, para muitos, ficou uma lacuna, um vazio, que valores meramente intelectuais ou racionais não conseguem preencher. Por isso, o retorno ou a descoberta das religiões fazem sentido. Isso também explicaria a popularidade de obras relacionadas ao tema.Recusa e curiosidade

Quando surgem livros como Deus, um Delírio, de Richard Dawkins, ou Deus Não É Grande, de Richard Hitchens, e outros que questionam as religiões, defendem o ateísmo ou até propõem credos alternativos, pessoas que têm convicção em suas crenças religiosas, e cuja fé é algo sólido, tendem a não se afetar. Ainda que tenham curiosidade em ler essas obras que colocam em xeque aquilo em que acreditam.

Mas Kuzma afirma que também há quem reaja com revolta e agressividade, ou, por outro lado, se deixe influenciar e abalar pelo que os textos trazem de novidade ou de questionamentos. Em ambos os casos, aponta o teólogo, há uma falta de solidez na relação entre a pessoa e sua religião, uma inconsistência.

Por último, o teólogo aponta que existe no mundo contemporâneo uma certa tendência de se particularizar o relacionamento com a fé, como se as pessoas pudessem prescindir de algo muito valoroso em qualquer religião – o convívio coletivo, social, entre os adeptos, experiência que ajuda a consolidar e fortalecer o entendimento daquilo em que se acredita.

Sozinhas, as pessoas podem se tornar mais suscetíveis a uma diluição das crenças. Se agregarem um pouco de tudo que ouvem e leem àquilo em que creem, podem acabar com outro tipo de grande vazio.

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Estante

Confira outros livros que discutem o tema religião:

A Tentação do Cristianismo

Luc Ferry e Lucien Jerphagnon. Objetiva, 112 págs., R$ 24,90. Filosofia.

Como uma religião excêntrica como o cristianismo tornou-se a síntese da cultura ocidental? Essa foi a indagação norteadora que provocou o debate entre os intelectuais franceses Luc Ferry e Lucien Jerphagnon num encontro com a equipe do Collège de Philosophie na Universidade Sorbonne, de Paris, em 2008.

As Aventuras do Menino Jesus

Alberto Manguel. Planeta do Brasil, 192 págs., R$ 29,90. Literatura.

Reunião de textos sacros, profanos e até mesmo heréticos sobre a infância de Jesus Cristo, sem qualquer propósito espiritual.

Manguel é nascido na Argentina, mas foi criado em Israel. Tem nacionalidade canadense e hoje vive na França.

Cristãos Que Se Beijam

João Paulo dos Reis Velloso. Civilização Brasileira, 432 págs., R$ 49,90. Teologia.

Cristãos Que Se Beijam e o Crespúsculo dos Deuses mostra como o cristianismo se expandiu depois do surgimento de Jesus Cristo. E que o beijo era uma das características mais marcantes da cristandade nascente. Analisa como a interação dessa doutrina, de raízes judaicas, com a cultura grega, a romana, os povos bárbaros e o Islã clássico.

36 Argumentos para a Existência de Deus

Rebecca Newberger Goldstein. Companhia das Letras, 536 págs., R$ 59. Romance.

Cass Seltzer é um professor de Psicologia da Religião numa universidade de segunda categoria. Seu livro de estreia, no entanto, é um sucesso editorial e lhe traz status intelectual, dinheiro e uma proposta de emprego irrecusável em Harvard. Cass ganha o apelido de "ateísta com alma", pois, apesar de derrubar em seu livro um por um dos 36 argumentos a favor da existência de Deus, ele demonstra notável conhecimento da experiência religiosa e espiritual.

Para Entender o Catolicismo Hoje

Luiz Felipe Pondé. Bemvirá, 136 págs., R$ 19,90. Religião.

Neste pequeno livro, o filósofo e ensaísta pernambucano traça um painel histórico da

Igreja Católica e faz reflexões pertinentes sobre as grandes questões da maior instituição religiosa do Brasil, seus desafios e contradições.

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