| Foto: Divulgação

Ante a vastidão inescrutável do oceano, Fernando Moreira Salles abraça o minimalismo em seu terceiro livro de poesia, A Chave do Mar.

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Composta de 45 poemas, quase todos sintéticos, a obra mergulha no imaginário marinho, uma memória cara ao autor carioca e tornada aqui a sua "dicção de espuma".

"Aprendi a nadar no posto 3, um momento marcante de liberdade e autonomia. E sempre tive medo da ilha Rasa", explica Moreira Salles, em entrevista por e-mail, sobre duas evocações trazidas à tona no livro. "Só/ neste mar/ dispo minha sombra/ Só/ neste mar/ sou outro/ que ela", escreve, em "Nu".

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Poeta, editor e empresário, o autor revela ter buscado "uma concisão mais radical" que a de seus livros de versos anteriores, Ser Longe (2003) e Habite-se (2005).

É uma escrita que remete ao haicai: "Falso/ instante:/ nem espera/ nem adeus" ("A Volta"); "Esse nada/ iníquo/ todo meu" ("Abismo"); "cada/ verso/ retrato/ reverso" ("Espelho"); "Antes/ do nada/ é tudo/ virtual" ("Contra Sartre").

Sobre a comparação, ele afirma: "Entendo que possa parecer assim. Sem a métrica severa, sem o rigor formal do haicai, tento dizer o que sinto com um mínimo de palavras". Porém ressalva: "Mas tento uma concisão não redutora, aberta ao leitor".

Antes da poesia, o autor escreveu teatro, Eu Me Lembro (1995) e Entrevista (1998). A primeira peça, levada aos palcos por Irene Ravache e por Paulo José, foi uma adaptação de Memorando, escrito em parceria com Geraldo Mayrink (1942-2009).

Filho mais velho do banqueiro e diplomata Walter Moreira Salles (1912-2001), irmão dos cineastas Walter Salles e João Moreira Salles (e do banqueiro Pedro), Fernando evita falar do que conduz a família à arte, mas celebra o traço que o une aos irmãos. "Não sei se entendo bem de onde nascem vocações. Sei que, no nosso caso, elas nos aproximam, nos mantêm muito próximos."

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Sócio da editora Companhia das Letras e diretor da empresa de mineração e metalurgia CBMM, Moreira Salles diz que "nunca há conciliação" entre o fazer poético e suas outras atividades, recordando Vinicius: "A poesia vem quando quer, anda onde há espaço".

Questionado sobre a opção em publicar por sua própria editora, e não em outra casa, como preferem alguns autores-editores, afirma: "É meu ofício. Devo pedir a outro que o faça? Além disso, onde mais encontraria uma editora de poesia como Heloisa Jahn?".

Serviço:

A Chave do Mar, de Fernando Moreira Salles. Companhia das Letras, 80 págs., R$ 35.