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Candangas

• As sessões no Cine Brasília foram muitos quentes, mas no sentido do calor sofrido pelo público. A sala tem pouco mais de 600 lugares, mas, como tem corredores largos, que permitem a acomodação de muitos espectadores, acaba recebendo sempre mais de mil pessoas em cada sessão. O ar-condicionado não dá conta de tanta gente presente.

• O diretor do Festival de Brasília, Fernando Adolfo, anunciou à imprensa local que, em 2009, o evento também vai ser aberto a curtas realizados em vídeo digital. Eles participarão de uma competição ao lado dos filmes feitos em 16mm. Este ano, o Festival de Gramado extinguiu sua mostra 16mm, bitola pouco utilizada no cinema atualmente.

• O evento foi palco de lançamento de vários DVDs, como O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, um dos principais filmes brasileiros de todos os tempos, e também raridades como Superoutro, cultuado e pouco visto média-metragem do baiano Edgar Navarro (Eu Me Lembro).

Brasília (DF) – Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, e Falsa Loura, de Carlos Reichenbach, conquistaram a platéia do 40.º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em sessões realizadas no fim de semana na capital federal. As duas produções foram muito aplaudidas, em contraste com Cleópatra, de Julio Bressane, vaiado após apresentação na sexta-feira.

Bodanzky retornou ao evento que a projetou em 2000 (na estréia vitoriosa de Bicho de Sete Cabeças), para lançar um filme de tom extremamente emocional. Chega de Saudade (apresentado no domingo) acompanha um baile para pessoas de meia-idade em diante, realizado no bairro da Lapa, em São Paulo. Entre as mesas e a pista de dança, vão acontecendo dramas (alguns melancólicos) envolvendo personagens interpretados de forma primorosa por Tônia Carrero, Leonardo Villar, Betty Faria, Cassia Kiss, Maria Flor e Stepan Nercessian (o grande destaque do elenco). Boa parte da ótima trilha sonora – organizada pelo produtor musical BiD – é interpretada por Elza Soares e Marku Ribas, que dão verdadeiro show como cantores do baile.

Depois de dois fracos trabalhos, Garotas do ABC e Bens Confiscados, Reichenbach retoma o caminho do bom cinema com Falsa Loura (que passou no sábado), mais um filme que tem como personagem central uma operária, muito bem defendida pela jovem Rosane Mulholand – atriz que está em vários filmes recentes do cinema nacional. A protagonista vive um romance com um roqueiro (vivido por Cauã Raymond), mas é apaixonada por um cantor romântico (Maurício Mattar) – o que propicia muitas seqüências musicais. O longa tem momentos deliciosos de breguice assumida, como uma cena que conta com letra romântica impressa na tela, (como se fosse um karaokê), enquanto Mulholand e Mattar dançam no estilo baile de debutante.

Como sempre faz, Bressane pediu à platéia paciência e tolerância com seu filme. E o público brasiliense até que foi respeitoso (apenas algumas reclamações ecoaram durante a projeção), mas, no final, as vaias vieram. O cultuado diretor carioca apresentou sua versão do mito da rainha egípcia Cleópatra, com toda a erudição que lhe é característica – algo que é praticamente inacessível ao espectador médio de cinema – e as tradicionais seqüências com sexo (feito de forma nada ortodoxa em alguns momentos).

O cineasta foi infeliz na escolha dos atores protagonistas. Apesar de não ser teatral, o texto do longa exigia uma postura de teatro mais sério, algo que Miguel Falabella (como Julio César) e Bruno Garcia (Marco Antonio), identificados com a comédia, não conseguiram alcançar – Falabella até se esforça, mas Garcia é constrangedor. Para completar, Alessandra Negrini atua com um sotaque muito estranho, sibilante (não dá para explicar muito, só vendo).

Premiação

A cerimônia de premiação do 40.º Festival de Brasília acontece logo mais à noite, no Teatro Nacional, com a entrega dos troféus Candango e boas premiações em dinheiro para os vencedores.

Sem contar Anabazys, documentário e Joel Pizzini e Paloma Rocha (sobre A Idade da Terra, último longa de Glauber Rocha), que seria apresentado ontem à noite, antes do fechamento desta edição, é possível apontar Chega de Saudade como o principal favorito aos prêmios do evento candango. A produção paulista deve disputar a preferência da votação popular com Falsa Loura. Além dos dois, Cleópatra também dever ser considerado candidato ao prêmio de melhor filme do festival, pois júris oficiais tendem a ser respeitosos demais com Bressane (que já foi três vezes vitorioso em Brasília). Na direção, Carlão Reichenbach, muito querido por toda a área cinematográfica, merece o troféu, mas Bressane, pelo motivo já citado, deve ser sempre considerado.

Stepan Nercessian disputa com Eucir de Souza (Meu Mundo em Perigo) na categoria de melhor ator. Entre atrizes, Rosane Mulholand (por Falsa Loura; está também em Meu Mundo em Perigo) só perde o prêmio principal se o júri decidir reconhecer o trabalho coletivo do elenco feminino de Chega de Saudade (não há protagonista definida e todas estão ótimas). Os coadjuvantes certamente serão Tônia Carrero e Leonardo Villar, uma homenagem mais do que justa a dois dos mais importantes artistas brasileiros.

Chega de Saudade pode conquistar ainda alguns prêmios técnicos, principalmente os de som e trilha sonora. Na fotografia, o respeitado Walter Carvalho concorre por Cleópatra e pelo filme de Laís Bodanzky. Os filmes de Pizzini são reconhecidos pelo apuro e esmero técnico, por isso, Anabazys também deve ser considerado em várias categorias.

O repórter viajou a convite do festival.

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