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Desconfortáveis com relação ao passado de sua máfia e principalmente com o retrato que Hollywood faz dela, os cineastas italianos derrubaram seus próprios tabus com "Romanzo criminale", que ganhou elogios no Festival de Cinema de Berlim na quarta-feira.

Gângsteres italianos que matam uns aos outros, mas continuam personagens simpáticos, foram durante décadas uma marca dos filmes americanos, mas deixaram a Itália desconfortável com o estereótipo.

O épico "Romanzo criminal" encheu uma tarde da Berlinale com duas hora e meia de esfaqueamentos, tiroteios, bombas e quase que toda forma de assassinato imaginável.

Inspirado em um livro escrito pelo juiz Giancarlo De Cataldo, o filme tem como cenário o crime organizado e os ataques terroristas da extrema esquerda e extrema direita que abalaram a Itália durante 25 anos, a partir dos anos 1970.

- A Itália nunca analisou seriamente nossa história, nossa história criminal - disse De Cataldo durante uma entrevista coletiva após a première internacional do filme, que foi um sucesso nas bilheterias italianas no ano passado e ganhou vários prêmios locais.

- Houve bombas, banhos de sangue, conspirações e golpes e o serviço secreto estava envolvido nisso tudo - acrescentou, antes de comparar sua história ao clássico americano "Os bons companheiros". - Se tudo aquilo tivesse sido estudado por historiadores sérios, um livro como este teria sido menos chocante.

Filmes sobre heróicos promotores italianos já apareceram em Berlim antes, mas nunca um trabalho que fazia o espectador simpatizar com o assassino.

Críticos locais viram um paralelo com filmes recentes alemães que deram a Adolf Hitler e a autoridades nazistas um lado humano; eles chocaram a princípio, mas foram grandes sucessos de bilheteria na Alemanha e no exterior.

- Elas são, de fato, figuras humanas, e têm seus momentos em que são simpáticas - disse o diretor Michele Placido sobre a história, baseada em gangues que assombraram Roma com um lucrativo comércio de drogas nos anos 1970.

O longa mostra como os gângsteres eram leais uns aos outros.

- Eles também são ruins, mas não tão ruins e maus quanto alguns políticos. Quis dar a essas pessoas que vivem à margem um lado positivo, porque as pessoas que vivem no topo da pirâmide são quem realmente provocam o mal. Elas são as verdadeiras vilãs.

A Itália vem demonstrando certa sensibilidade com a imagem retratada por Hollywood em filmes como "O poderoso chefão". Em 2004, Robert De Niro foi acusado de promover "estereótipos negativos", e um movimento que queria dar ao ator americano - que costuma interpretar personagens mafiosos - a cidadania italiana foi bastante contestado.

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