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O ser humano tem a capacidade de se adaptar a tudo, e por isso sobrevive. Dos desenhos em paredes de cavernas ao mundo virtual, tudo é suporte para dar o recado.

O Twitter, com o limite de 140 caracteres, é a plataforma para veicular o que hoje chamam de microcontos.

"Gosto de dizer que o microconto é simplesmente contar uma história com o mínimo de palavras. Não narrar uma história por completo, mas editá-la de tal modo a sugerir, trabalhar com o silêncio", diz Samir Mesquita, de 27 anos, curitibano que cresceu em Campo Largo e hoje vive em Lisboa, um conhecido mi­­cro­­contista brasileiro.

Para exemplificar o que é, ou pode ser um microconto, Mesquita cita um de seus breves textos, chamado "Vida No­­va": "Só ontem consegui jogar fora a escova de dente delas".

Mesquita, após dizer o que é, e citar um, diz o que não é um microconto: "Muitos confundem microconto com piada, haicai ou aforismo. O que diferencia o microconto é o trabalho com a palavra. Um microconto pode ter humor, lirismo, reflexões, mas sempre será a narrativa o mais forte do texto. Se não existir uma história por trás daquelas palavras, não há conto", argumenta.

O microconto foi inventado pelo es­­critor guatemalteco Augusto Monterroso, em 1959.

Desde então, diversos autores, no mundo todo, também trilharam a possibilidade dessas formas brevíssimas.

Mesquita explica que no Brasil o precursor do microconto é o curitibano Dalton Trevisan, que em 1994, com o livro Ah, É?, reinventou o microconto. Uma década depois, o pernambucano Marcelino Freire organizaria a primeira antologia brasileira do gênero: Cem Menores Contos Brasileiros do Século.

O microconto se anunciou no horizonte de Mesquita durante uma oficina que ele participou, ministrada por Marcelino Freire, na capital paulistana.

Logo no primeiro encontro, o escritor-professor apresentou o tema e pediu que os alunos voltassem, na semana seguinte, com alguns microcontos.

Durante sete dias, e sete noites, Mesquista escreveu 80. Ele se deu conta de que poderia transformar aquele surto de prosa breve em um livro.

"O livro mais rápido de se ler, um livro pra se ler em dois palitos, expressão paulistana para tudo que é rapidinho", conta.

O livro já estava batizado: Dois Palitos, que tem 50 microcontos, com até 50 letras cada, e vem dentro de uma caixinha de fósforo de verdade.

Dois Palitos foi lançado em dezembro de 2007 e já vendeu seis mil exemplares. Detalhe: foi o livro mais vendido da Livraria da Vila, uma das mais badaladas de São Paulo.

Em abril do ano passado, Mesquita lançou 18:30, um livro-mapa com 40 microcontos impressos sobre a imagem de um congestionamento feito por carrinhos em miniatura. "Cada microconto aborda o que cada um daquelas pessoas presas no trânsito estariam vivendo, pensando, sonhando", explica.

No ritmo pós-moderno

Se o conto seria o signo do homem moderno, afirmação de Guilhermino César citada no texto de abetura deste G Ideias, então o microconto pode ser uma tradução do homem pós-moderno. "O homem da brevidade, que depressa nasce, depressa vive, depressa produz, consome e morre", diz Jane Tutikian, da UFRGS.

Microcontos, completa a professora Salma Ferraz, da UFSC, são o reflexo da pressa do homem pós-mídia ou midiático. (MRS)

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