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O cantor Justin Timberlake contracena com Jesse Eisenberg, o protagonista de The Social Network | Divulgação
O cantor Justin Timberlake contracena com Jesse Eisenberg, o protagonista de The Social Network| Foto: Divulgação
  • Cartaz original do filme de David Fincher

Depois de meses de angústia tentando decidir como iria reagir ao filme The Social Network (A Rede Social, em tradução livre), do cineasta David Fincher (O Curioso Caso de Benjamin Button), a cúpula do Facebook parece ter resolvido que a melhor estratégia é ignorar o longa-metragem e esperar que o público faça o mesmo.

Nos bastidores, porém, sabe-se que Mark Elliot Zuckerberg e seus colegas entraram em um tenso impasse com os produtores do filme, que retrata a origem do Facebook como uma série de traições. The Social Network defende a ideia de que a rede social mais acessada no planeta foi criada para explorar o desejo in­­saciável de quase todos os seres humanos por "amigos" – o termo pelo qual o Facebook identifica aqueles que se conectam a suas páginas on-line – que nunca serão amigos de verdade.

Zuckerberg, hoje um bilionário aos 26 anos, e seus sócios estão temerosos em relação à repercussão do longa, cuja história tem início na intimidade de um encontro romântico noturno na Universidade de Harvard há sete anos, e mostra o nascimento de um fenômeno da web nos corredores do dormitório onde seu fundador morava na faculdade.

Segundo Zuckerberg, grande parte do filme simplesmente não corresponde aos fatos. The So­­­­­cial Network é baseado num livro de ficção do jornalista Ben Mezrich, The Accidental Billionaires ["os bilionários acidentais", ainda sem tradução para o português], certa vez descrito por seus divulgadores não como "reportagem", mas como "ótima e suculenta diversão".

"É uma coisa maluca, porque, de repente, o Mark se torna essa pessoa que criou o Facebook pa­­­ra ganhar meninas ou poder", diz Chris Hughes, cofundador do Facebook, que deixou a empresa em 2007 para trabalhar na campanha presidencial de Obama. "Não foi assim que aconteceu. A história é um pouco mais monótona e cotidiana do que isso."

Scott Rudin, produtor de A Rede Social, conta que dois executivos do Facebook, Elliot Schrage, vice-presidente de comunicações, e Sheryl Sandberg, diretora de operações, "viram o filme há algum tempo, e não gostaram".

Rudin descreve meses de contatos discretos, durante os quais tentou amaciar as relações com Zuckerberg, permitindo que as­­sessores do chefão do Facebook lessem o roteiro, e até fizessem pequenas alterações nele para satisfazê-los. O Facebook, contudo, insistia em fazer mudanças maiores, que os produtores rejeitaram. Por fim, afirma Rudin: "Fizemos exatamente o filme que queríamos fazer".

Zuckerberg não quis ser entrevistado para esta reportagem. Numa aparição pública recente, disse: "Honestamente, eu gostaria que quando as pessoas tentassem fazer jornalismo ou escrever sobre o Facebook que, pelo menos, fizessem as coisas direito". Mais tarde, acrescentou: "Esse filme é ficção".

Mas Rudin alega que o filme fala de verdades conflitantes, como lembraram o próprio Zuckerberg e seus sócios, em boa medida, em dois processos judiciais que terminaram em acordos. "Não existe algo como a verdade", observa o produtor do filme.

Em comunicado, a empresa reconheceu que "é um sinal do impacto do Facebook que sejamos objeto de um filme – mesmo que de ficção".

A Rede Social rapidamente se tornou cotado para prêmios por levar a assinatura de uma das duplas mais poderosas de Hol­­lywood, o diretor David Fincher e o roteirista Aaron Sorkin (da série The West Wing e do filme Jogos do Poder). Os dois realizaram o projeto sem ter adquirido direitos junto a Zuckerberg e outros personagens, preferindo confiar no livro de Ben Mezrich, e na proteção jurídica à liberdade de expressão, além de contarem com o trabalho diplomático de Rudin.

Negociação

O livro se baseia muito em entrevistas com Eduardo Saverin, cofundador do Facebook e ex-amigo de Zuckerberg, que se sentiu injustiçado ao ser, a certa altura, afastado da empresa.

Rudin conta que durante meses conversou com Schrage e outros acerca de uma colaboração que previa incorporar o trabalho de David Kirkpatrick, na época escrevendo outro livro sobre o Facebook. Com o tempo, ficou claro que "não íamos trabalhar juntos", relata o produtor, embora ele tenha mantido contato por tempo suficiente para chegar a exibir uma versão quase finalizada do filme para os executivos Schrage e Sandberg.

Os cineastas muitas vezes optam por não negociar direitos para personagens que figuram apenas marginalmente num filme. É assim também com filmes feitos para a televisão, que se pautam basicamente em episódios de domínio público. Mas os estúdios preferem fechar acordos com aqueles protagonistas de filmes que ainda estejam vivos, ao menos para não se verem presos a uma verdade literal quando produzem esse tipo de história.

Rudin afirma que a negociação de direitos era desnecessária nesse caso, em parte porque há extenso registro legal dos fatos.

Entre aqueles considerados incontestáveis no roteiro de Sorkin – uma versão do qual vazou na web faz um bom tempo –, está o de que Zuckerberg, então um estudante universitário de 19 anos de idade, dedicou-se intensamente à criação de uma rede social on-line que cresceu a partir de algumas centenas de usuários, em 2004, para talvez cerca de meio bilhão, hoje.

O filme, que será lançado pela Sony Pictures no dia 1.º de outubro, claramente aspira a ser um acontecimento importante. "Quero um corpo perfeito, quero uma alma perfeita", canta um coro de vozes na parte do trailer do filme que mostra Zuckerberg, interpretado por Jesse Eisenberg (de A Lula e a Baleia), ganhando proeminência na internet como um tipo inescrupuloso.

Na versão de Sorkin, Zuckerberg não é tanto um vilão quanto um anti-herói, um ser humano imperfeito, cuja profunda necessidade de aceitação se torna a força motriz por trás de um site que oferece exatamente a ilusão de ser aceito.

Se O Poderoso Chefão era sobre família e Rede de Intrigas sobre raiva, A Rede Social parece falar principalmente de um vazio. "Minha idéia é pegar toda a estrutura social da faculdade e colocá-la on-line", alvoroça-se o personagem principal da trama em seu momento "eureca".

O filme lida com temas muito familiares a Hollywood, como amizade e traição, mas não se esforça muito para explicar o Vale do Silício ou o fenômeno Facebook. Na verdade, grande parte da história se serve de depoimentos de ex-sócios em processos movidos contra a empresa – Saverin, Divya Narendra e Tyler, além de Cameron Winklevoss – nos quais falam sobre a fundação e posterior apropriação e controle do Facebook.

Quanto à forma como Zuckerberg é retratado, o produtor não se desculpa. Zuckerberg é "simultaneamente um construtor e um destruidor", diz Rudin. "É um grande personagem. Um grande personagem americano."

Tradução de Christian Schwarz.

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