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Maérlio Barbosa, o Ceará, batucando o pandeiro enquanto prepara festa para o sábado (20). | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Maérlio Barbosa, o Ceará, batucando o pandeiro enquanto prepara festa para o sábado (20).| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Enquanto parte da equipe se ocupa de esticar os varais de bandeirinhas juninas, numa velha máquina Singer, Marilene Barbosa faz força nos pedais e costura os panos coloridos para os assentos das cadeiras do salão.

Ela é um dos sete irmãos do sujeito que está no palco, de sandálias e camisa xadrez, Maérlio Barbosa, o Ceará, batucando o pandeiro enquanto olha o gibão de couro cru pendurado numa das paredes. O traje típico parece evocar lembranças, pois Ceará deixa o pandeiro no chão e some na coxia.

Volta com um chápeu redondo de couro branco que ajeita, orgulhoso, na cabeça. “Este aqui eu ganhei de Dominguinhos. É o chapéu do rei. Agora dá pra dizer que o Calamengau voltou pra casa”, afirma.

Após sete anos longe da sede da sociedade Vasco da Gama, o forró Calamengau está definitivamente de volta ao lar. Ao todo, foram 12 anos no salão do “Vasquinho”, nas décadas de 1990 e 2000.

No espaço, Ceará e seu Calamengau receberam músicos como Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Geraldo Azevedo, Elza Soares e outros tantos. Mais do que isso, colocaram o forró e outros elementos da cultura nordestina na ordem do dia dos curitibanos.

“Aqui o forró deslanchou e foi incorporado pela sociedade de Curitiba como manifestação cultural própria e não mais alguma coisa exótica e folclórica. Hoje temos uma família ‘forrozeira’ na cidade que conhece a história da música, gosta de dançar e coleciona discos”, diz Ceará.

Ceará trouxe o Cariri à Curitiba

Nascido numa família de oito irmãos em Juazeiro do Norte, na região do Cariri cearense, Maérlio Barbosa cresceu numa casa onde tinha “festa todo dia”.

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Criado em 1984, a banda de forró Calamengau nunca foi só um grupo de músicos que tocava música típica do nordeste do país. Sob a liderança de Ceará, foi sempre mais do que hoje chama de “projeto” ou “coletivo”, atacando em várias frentes: na produção de shows (os primeiros na sede da AABB), culinária (que incluiu uma petiscaria ao lado da Reitoria da UFPR da qual herdou o nome) e atuação política e cultural.

Os anos no Vasquinho foram o auge da trajetória interrompida depois que Ceará cansado dos rigores e burocracias da vida noturna, quis trocar a zabumba pelas panelas e abriu um restaurante de comida nordestina. Não deu tão certo e Ceará sabe os motivos.

“Rapaz, eu amo cozinhar, mas é que nem namorar: quando vira uma obrigação, perde a graça. E, por mais que eu tenha me distanciado da música em alguns momentos, ela nunca de distanciou de mim”, explica.

Ele conta que era cobrado nas ruas sobre uma possível volta da programação regular do Calamengau no Vasquinho.

“Achei que era a hora de voltar porque senti que a cidade está precisando dessa alegria”, diz. “Quando cheguei aqui, Curitiba às vezes parecia um tabuleiro em que a gente não podia mexer as peças fora da ordem estabelecida. O forró foi uma música alternativa para essa sisudez e hoje a coisa mudou. Ela já faz parte da cultura da cidade, que também mudou bastante”, diz Ceará.

Eventos

Festa Junina de São João e aniversário de 31 anos do Forró Calamengau. Sábado (20), às 21 horas. Sociedade Vasco da Gama (Roberto Barrozo, 1.190, Bom Retiro), (41) 3078-7766 . Shows de Calamengau e Trio Caruá. Ingresso: R$ 20.

São João

O retorno ocorre ao poucos. No dia 11 de abril, a casa reabriu sem alarde. “Vieram mais de mil pessoas e a gente esperava a metade”, diz Ceará. No último sábado (13), houve a primeira festa junina, para Santo Antônio.

No próximo sábado, dia 20, é a festa “pra valer” do retorno: no dia de São João é aniversário de 31 anos do primeiro forró do Calamengau.

“O forró é brincadeira para família inteira. Em 12 anos aqui, nunca teve uma briga ou alguém que passou mal por beber demais. As pessoas vêm aqui para dançar, para ficarem alegres e é isso que queremos trazer de volta”, diz Ceará.

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