Confira entrevista com o poeta Ricardo Pozzo:

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Seus poemas são urbanos e, mais que isso, falam de um pedaço de uma cidade especifica e em especial um pedaço dela (Centro e São Francisco), por onde você efetivamente se desloca e atua. Como esta geografia – meio trágica – informa tua poesia?

Moro na periferia, que é o interior da capital em todos os sentidos, há quase 20 anos. Porém, é no Centro que todas as classes sociais se encontram e desencontram diariamente. Ao invés de correr a favor do mundo ou contra ele, estar onde todas as coisas ocorrem observando-o girar talvez seja a melhor posição para alguém que deseja estabelecer um ponto crítico e desvendar quais elos da engrenagem se relacionam entre si. E nesse aprendizado, o da vida junto com o do fazer poético, neste momento penso que o ambiente controlado que é a cidade, exige o sacrifício do selvagem da espécie humana, e essa percepção do selvagem, que não é o bestial, é o que nos sanaria da angustia existencial ou do sem sentido que a vida às vezes parece ter. Ou seja, o ambiente urbano, feito para funcionar 24 horas por dia sob extrema vigilância, age com violência sobre o aparelho físico e psíquico da espécie humana. É sobre isso e as suas ramificações que eu tento construir a minha lírica.

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No texto de apresentação do livro, o poeta Rodrigo Madeira te compara a um “fotógrafo de guerra” mirando a urbe conflagrada. Você aceita a comparação? Esta é a posição do poeta?

Concordo sim e fico satisfeito que isso seja perceptível tanto na minha pesquisa fotográfica quanto na pesquisa poética. Porque o fotógrafo de guerra é aquele que registra o absurdo que significa justamente a perversão do selvagem, que é o que podemos chamar de barbárie, ou seja, o fato de, ao livrar-se de seus predadores naturais, o homem tornar-se predador de si mesmo, seja no campo econômico, psicológico ou existencial. Todos estes conceitos não são novos. Estão nos textos de Georg Simmel, Jean Baudrillard, George Orwell, Aldous Huxley, Isaac Asimov, entre tantos outros pensadores.