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Os filmes do Festival Bruce Lee 75, em cartaz no Espaço Itáu até o dia 2, em Curitiba, se inscrevem em uma antiga tradição literária chinesa, a do chamado wuxia (“武侠”, literalmente “herói marcial”), cujas primeiras obras datam do fim do período histórico dos Reinos Combatentes, no século 3 a.C. Entre elas estão o poema que inspirou a animação “Mulan” (século 2) e os clássicos “À Margem das Águas” (século 12) “O Romance dos Três Reinos” (século 14) e “Jornada para o Oeste” (século 16).

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A característica essencial dos romances e dos filmes wuxia (o primeiro, “O Incêndio do Templo do Lótus Vermelho”, foi filmado em 1928 e tinha 27 horas de duração!) é a presença de situações em que emerge a figura do herói, normalmente mostrado como uma pessoa de boa índole e conhecimento de kung-fu que se vê levada às vias de fato por conta de injustiças perpetradas por bandidos a serviço de uma inteligência tão refinada quanto maligna.

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É o que se vê, por exemplo em “O Dragão Chinês” (1971), primeiro filme a ser apresentado no festival. Nele, Bruce Lee interpreta Cheng Chao-An, um jovem boa praça que, ao ver sua família vitimada por bandidos, resolve consertar as coisas usando a cabeça, punhos, cotovelos, pés, joelhos e, em algumas cenas, objetos capazes de infligir dor.

“Sessões faixa-preta”

Nos anos 70 e 80, salas de cinema de todo o mundo viveram o fenômeno das “sessões faixa-preta”, dedicadas aos filmes orientais de pancadaria, em especial produções de estúdios de Hong Kong como Shaw Brothers e Golden Harvest. Em Curitiba, o “circuito marcial” incluía os cines São João, Scala, Astor e Itália, que reuniam adolescentes loucos por kung-fu.

É o mesmo argumento de “O Voo do Dragão” (1972), que tem como curiosidades a ambientação em Roma e a famosa luta em que Bruce Lee e Chuck Norris se enfrentam no Coliseu.

Em “A Fúria do Dragão” (1972), o enredo enfatiza a primeira das chamadas “Cinco Relações” do Confucionismo, que se estabelece entre pai e filho. Ao voltar para Xangai, o lutador Chen Zhen (Bruce Lee) descobre que seu mestre de kung-fu, Ho-Yuan Chia, foi assassinado. Em busca de vingança, ele acaba enfrentando agentes imperiais japoneses interessados em desestabilizar e conquistar a China.

“Jogo da Morte” (1978) regata outro elemento comum no universo Wuxia, o do herói que enfrenta oponentes sucessivos em um labirinto repleto de câmaras. O filme, que inspirou jogos eletrônicos dos anos 80 como “Yie Ar Kung-Fu” e “Kung-Fu Master”, tem lá sua nota tétrica: concluído após a morte de Bruce Lee, aproveita, como parte do enredo, cenas do funeral do próprio ator. De quebra, traz uma luta com o astro do basquete Kareem Abdul-Jabbar no papel do “Louva-a-Deus, guardião da quinta câmara” – sensacional.

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