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Livro 1

Cartas Persas

Montesquieu. WMF Martins Fontes, 392 págs., R$ 54. Romance.

Publicadas pela primeira vez de forma anônima em 1721 em Colônia, na Alemanha, as Cartas Persas foram planejadas pelo barão francês Montesquieu (1689-1755, na verdade Charles-Louis de Secondat), para dar a ilusão de que se lia a visão de dois amigos persas, Rica e Usbek, sobre o mundo Ocidental.

Há constatações surpreendentemente atuais para o século 18, como a de que, em Veneza, se encontra "uma população inumerável em um lugar onde só deveria haver peixes".

O destino da dupla é Paris, onde os dois observam e descrevem a corte de Luís XIV. As 161 cartas vão e vêm entre Europa e Pérsia (atual Irã), e o leitor se inebria com o fantástico mundo dos haréns, do culto muçulmano e das tradições orientais. Os conflitos entre as concubinas e destas com seus eunucos protetores fazem a parte mais colorida do livro.

A publicação de cartas anônimas, por escritores que alegavam tê-las recebido de alguma forma misteriosa, foi corrente no século 18. Lendo-as como um romance de ficção de autoria europeia, tem-se um rico acesso ao imaginário iluminista sobre o mundo oriental, com seus preconceitos, mas também com uma visão de vanguarda de que a valoração de culturas é relativa. (HC)

Livro 2

Beethoven Era 1/16 Negro

Nadine Gordimer. Companhia das Letras, 168 págs., R$ 41. Contos.

Uma coletânea de contos de uma das vozes mais autênticas da literatura sul-africana chega ao Brasil pela Com­­panhia das Letras. A obra de Nadine Gordimer, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 1991, é em prosa inquieta e urgente, tratando da situação atual do continente africano, em constante modificação social e política.

Por meio de personagens – negros, mulatos, imigrantes, mulheres e até papagaios – a situação inconstante da África do Sul pós-apartheid se revela. Os conduzidos de Nadine tentam se encaixar na nova configuração política e nos novos parâmetros sociais que, embora vislumbrem liberdade, ainda revivem as amarras racistas. O caráter humanístico dos protagonistas e o ar cotidiano das situações colorem a obra.

O mote do primeiro conto – que dá título ao livro – serve para exemplificar onde a narrativa mergulha. A possível ascendência negra do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827), por exemplo, é a fórmula encontrada pelo locutor branco de uma rádio para justificar a emissão de suas obras para quarteto de cordas. "Antes havia negros que queriam ser brancos. Agora há brancos que querem ser negros. É o mesmo segredo", escreve a autora. (CC)

CD 1

Ao Vivo em Porto Alegre

Pouca Vogal. Som Livre, preço médio: R$ 19,90. MPB.

Humberto Gessinger é um homem de muita fé. Tudo o que ele faz, artisticamente falando, prospera. Gessinger acredita no que faz, no poder da palavra escrita, na força de suas canções. Depois de uma bem-sucedida trajetória à frente da banda Engenheiros do Hawaii, com centenas de músicas entre as mais tocadas em rádios de todo o país, ele deu um intervalo em seu conjunto e se uniu a Duca Lein­decker (líder da ban­­da Cidadão Quem).

Do encontro, nas­­ceu, no segundo se­­mestre de 2008, a banda Pouca Vogal, numa referência aos sobrenomes Ges­­singer e Leindecker. Os dois fizeram canções em parcerias, a exemplo de "Depois da Curva". Mas, de maneira geral, reuniram músicas dos Engenheiros do Hawaii e do Cidadão Quem (principalmente dos primeiros) para apresentar nos shows do Pouca Vogal.

O resultado? Canções repletas de clichês, tanto do ponto de vista de melodia, como das letras. Tudo muito previsível, óbvio, no entanto, muito sedutor, bem feito, com ecos de Beatles e outros ícones da música pop. Mesmo em uma primeira audição, todo o repertório contagia e fica presente no imaginário do ouvinte. O show, que rendeu esse CD, foi gravado em Porto Alegre, teve as imagens captadas e também se transformou em DVD, com preço médio de R$ 30,90. (MRS)

CD 2

Chorume

Numismata. Pimba/Tratore, preço médio: R$ 19,90. Indie Rock/ MPB.

Chorume é o líquido que escorre da matéria orgânica em de­­composição: é aquela água fedorenta que cai do caminhão de lixo. O que escorre do segundo disco da banda paulista Nu­­mismata, no entanto, é samba e saudade. O adjetivo "orgânico" é a única semelhança com o substantivo que dá nome ao trabalho.

Formado por Felipe Veiga (bateria), Russo (voz e percussão), Adalberto Filho (guitarra), André Vilela (guitarra), Carlos H. (baixo) e Piero Damiani (voz, teclados e percussão), o sexteto brinca com a música. Em um mesmo disco, estão valsinhas singelas (" A Passos Largos"), choro ("Anhanguera"), jazz-cabaré ("Viralatas") e marcha ("A Vida Como Ela É"). Há ainda blues, baladas tristíssimas e dream rock psicodélico que remetem à David Bowie. O que parece incoerente é, na verdade, uma tentativa ousada – e acertada – de mergulhar nas nuances musicais brasileiras. Do samba de Noel Rosa ao rock oitentista nacional, tudo em tempo real. Formado em São Paulo, a banda Numismata se auto-entitula como grupo de "exploradores musicais", que pesquisam a tradição do samba e da MPB mas não pretendem resgatar nenhum movimento. A novidade – e a ótima surpresa – está na criação de experimentos musicais inéditos. (CC)

Livro 3

Oração aos Moços

Rui Barbosa. Hedra, 96 págs., R$ 20. Ensaio.

Os formandos da turma de 1920 da Faculdade de Direito de São Paulo escolheram como paraninfo Rui Barbosa (1849-1923). O advogado, já ilustre, estava doente, e não pôde participar, de corpo presente, da cerimônia.

De toda forma, ele escreveu um discurso que foi lido na ocasião pelo professor Reinaldo Porchat. O texto, um clássico, foi reeditado agora pela Hedra, e é um primor que pode ser aproveitado como leitura de cabeceira por advogados ou não.

Rui Barbosa elabora, em Oração aos Moços, um discurso encadeado, em que faz muitas recomendações, sugerindo que é necessário aliar trabalho com oração (ação e fé).

O Águia de Haia propõe aos futuros advogados que eles sejam cautelosos, que saibam o valor de cada gesto, e que não desanimem diante de adversidades.

Ele observa que, se os amigos são necessários, os inimigos são indispensáveis, pois apenas o oponente é capaz de apontar os defeitos e fazer um homem se superar (superação essa que, como ele repete, deve ser temperada com ação somada à fé).

O célebre advogado revela, nesse texto que é uma espécie de profissão-de-fé, que ele (Rui Barbosa) nunca foi surpreendido deitado na cama pela luz do sol. Ou seja, ele dá a entender que realmente "Deus ajuda a quem cedo madruga", e, mais do que apenas ler, Rui Barbosa recomenda que as pessoas aprendam a pensar com as suas próprias cabeças. (MRS)

DVD

Mad Men

(EUA, 2008). Direção de Matthew Weiner e outros. Drama. 585 min. Classificação indicativa: 18 anos.

Quatro discos reúnem os 13 episódios da primeira temporada de Mad Men, série de tevê criada por Matthew Weiner. A produção se passa, na maior parte do tempo, na Sterling & Cooper, uma das agências publicitárias mais solicitadas de Nova York (o "mad" do títulos se refere à avenida Madison, endereço do escritório). E o fato de ser disputada por clientes importantes – como o cigarro Lucky Strike – tem tudo a ver com um dos profissionais do lugar, o talentoso Don Draper (Jon Hamm). Ele é o protagonista da história que se passa nos anos 1950 e se desdobra em subtramas envolvendo outros dez personagens. A reconstituição de época é um dos pontos fortes do seriado. Para se ter uma ideia, todos no filme bebem e fumam muito (muito mesmo), inclusive médicos, dentistas e mulheres grávidas. Aliás, as mulheres sofrem terrivelmente na mão dos homens. Está-se numa época pré-movimento feminista e elas não podem aspirar a nada diferente de ser dona de casa ou trabalhar como secretária. A tensão entre os profissionais da agência é crescente porque não há uma alma que não queira ascender na hierarquia do lugar. Esses embates, mais o passado sombrio de Draper, respondem pelos melhores momentos da série. Antes de Mad Men, Weiner escreveu e produziu dezenas de episódios para a Família Soprano. Não precisa de referência melhor. (IBN)

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