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Livro 1

O Melhor das Horas e da Vida – Cartas e Poemas do Escritor Marcos Rey

Linda Palma. Nova Alexandria, 92 págs., R$ 25. Cartas.

Marcos Rey (1925-1999) é um dos personagens mais interessantes da literatura brasileira. Atuou na adolescência e escreveu publicidade, roteiros para rádio, cinema e tevê (Vila Sésamo, Sítio do Pica-Pau Amarelo) e dezenas de livros. Alguns muito notórios, como Memórias de um Gigolô (1968), premiados, como O Enterro da Cafetina (1967) e outros tantos subestimados.

A compilação destas cartas inéditas por sua companheira de toda a vida faz surgir uma dimensão nova e insuspeitada do autor. Amoroso, engraçado, ferino com a política nacional, amedrontado pela velhice e a doença (o autor sempre escondeu os efeitos da hanseníase contra a qual lutou por anos). A leitura das cartas encerra um misto de ternura e melancolia.

Por que ler? Para quem, como eu, tem interesse voraz em literatura epistolar este é um dos melhores livros recentes do gênero. Um exemplo de como a escrita íntima pode reconfigurar um grande escritor, abrindo a cortina para a sensibilidade que já está nos seus livros, mas é mais aguda sem filtros sociais e comerciais. (SM)

Livro 2

A Árvore do Halloween

Ray Bradbury. Tradução de Natalie Gerhardt. Bertrand Brasil, 160 págs. R$ 32. Ficção.

A literatura inglesa nunca careceu de escritores monumentais de ficção científica. De J.G. Ballard a Arthur C. Clark, sem esquecer dos panoramas sociológicos-distópicos de George Orwell, algo em comum: um certo gosto pela escuridão. O norte-americano Ray Bradbury (1920-2012) não destoa da lógica. Ele fez do gênero sci-fi, a partir, principalmente, de seu Fahrenheit 451, escrito em 1953, uma nova fusão de elementos dramáticos – a censura como disfuncionalidade. Entretanto, A Árvore do Halloween, escrito em 1972, e que chega às livrarias agora pela Bertrand Brasil, com ilustrações belíssimas de Joseph Mugnaini, é bem outra coisa. O livro traz um narrador quase flertando com a doçura, evocando ao Dia de Los Muertos de um modo estranhamente poético, a partir do desaparecimento de uma criança.

Preste atenção: Bradbury recupera todo o imaginário de símbolos do Halloween e personifica a noite. A sua prosa, simples e vigorosa, contribui. Estamos aqui diante de uma aparente história infantojuvenil. Mas não se engane: todo o universo alegórico de Bradbury, muitas vezes sinistro, está lá. (DZ)

Livro 3

Cícero Alves dos Santos [Véio] – Esculturas

Rodrigo Naves. WMF Martins Fontes, 200 págs. R$ 89. Arte.

Quando menino, o escritor Cícero Alves costumava ser a única criança a interagir com os idosos de Nossa Senhora da Glória, no Sergipe, onde nasceu. Ele ouvia as histórias e se posicionava sobre vários assuntos como um adulto – por isso, logo ganhou dos amigos o apelido de "Véio", hoje um dos mais importantes artistas brasileiros vivos do país.

O livro, recém-lançado pela WMF Martins Fontes, é de autoria de Rodrigo Naves, crítico, historiador de arte, professor doutor em Estética pelo Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo e consultor para artes visuais do Instituto Moreira Salles, e traz uma análise da obra de Cícero. Artista desde criança, quando copiava na cera de abelha a vida do sertanejo, ele acabou demorando a se reconhecer como tal: o que fazia era visto como "errado", já que, na visão dos pais, ele deveria estar trabalhando na roça ao invés de "brincar" com a cera.

Com textos críticos (todos bilíngues, em português e inglês) e várias imagens dos trabalhos, o livro retrata o estilo único de Véio: seu trabalho, feito a partir de materiais naturais, como galhos, troncos e raízes, acabam revelando uma aura "pop" pelas cores vivas que aplica nas esculturas – geralmente, animais e outras formas abstratas e inquietantes.

Não deixe de ler: a entrevista com o artista, em que ele conta toda a sua trajetória de vida e artística. (IR)

Livro 4

Os Cavalos de Einstein

Sérgio Capparelli. Ilustrações de Ana Gruszynski. L&PM, 32 págs., R$ 29. Infantojuvenil.

O festejado e premiado autor de livros infantojuvenis Sérgio Capparelli é fascinado por ciências. Já transformou em livro a geometria euclidiana e outros encantos da matemática. Neste livro chega à física quântica e à teoria da relatividade em 26 poemas visuais em que faz um malabarismo com as palavras para partilhar com o leitor o estado de alumbramento diante dos prótons, quarks, galáxias e buracos negros.

Com ilustrações da ótima artista gráfica Ana Gruszynski, as páginas exploram de forma muito engraçada o conteúdo quase poético da macrofísica e a sua implicação nas angustias cotidianas dos adolescentes.

Preste atenção: Nascido em Uberlândia, Capparelli chegou a morar durante um tempo em Curitiba quando era professor universitário. Autor de 30 livros, é "pentacampeão" do prêmio Jabuti por livros como Os Meninos da Rua da Praia (1978) e Vovô Fugiu de Casa (1981). A mistura entre a sua narrativa lúdica e uma educada dose de erudição tem ajudado, há décadas, a despertar em jovens almas o gosto pela literatura. (SM)

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