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No centro, a atriz Ailime Huckembeck dança com curioso. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
No centro, a atriz Ailime Huckembeck dança com curioso.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

“É acupuntura?” O morador de rua provavelmente apela para a coisa mais esquisita de que já ouviu falar para entender as quatro artistas esparramadas pelo chão da Casa Hoffmann. Instrumentos de percussão e corda estão à porta, e ele faz só uma breve cerimônia (“não tomei banho...”) antes de entrar e experimentar alguns, o olho vidrado no grande espelho da sala e na surpresa do encontro com sua própria imagem.

Interações espontâneas como essa estão no cerne da proposta das Filhas da Fruta, coletivo curitibano que se define na fronteira entre a música e as artes cênicas e visuais. Semanalmente, seu trabalho se espalha por gramados da feira de orgânicos do Passeio Público. E durante as próximas duas semanas, elas estão à disposição na Casa Hoffmann, com oficinas, uma exposição em constante mudança e um chamativo cortejo-mico-final ao qual os participantes são instados a usar fantasias.

Assista a um vídeo da performance

O projeto envolve três semanas de atividades no local como contrapartida de uma residência apoiada pelo Ministério da Cultura que elas realizaram em Lisboa, no inspirado Centro Em Movimento. Ao longo da semana passada, elas fizeram tardes de batuque com as portas da Casa Hoffmann abertas, e não foram poucos os que se sentiram convidados a entrar. No momento acompanhado pela reportagem, na quarta-feira, os ânimos musicais se elevaram tanto que todos pareciam velhos conhecidos celebrando algo muito bom.

Arte na vida

Veja os horários para interagir com as Filhas da Fruta nas próximas duas semanas:

Exposição

“Corpos em Viagem”. Até 18 de setembro, das 9 às 12h e das 14h às 16h. A ideia é ocupar a sala principal da Casa Hoffmann com uma instalação mutante.

Oficinas

“Sumo do Dia”. Divididas em livres e para instituições de ensino, vão de 9 a 18 de setembro, das 16 às 18h.

Frutas na Feira

Sábados, das 9h às 13h, no Passeio Público

Encerramento

“Mico _ o cortejo disfarçado”. Dia 19 de setembro às 17 horas, com saída da Casa Hoffmann. Fantasias são bem-vindas.

Pelo método Filhas da Fruta, são elas que se adaptam ao que der na telha do público, que se forma espontaneamente, sem data de estreia, horário ou palco formal de apresentação.

Foi assim que o músico mineiro Romano, recém-chegado à cidade, se tornou protagonista de uma roda de samba com muito rebolado, mas também tímidos, desconfiados e uma pessoa que recebera alta naquela manhã do hospital.

Hospedado em frente à Casa Hoffmann, Romano viu o papel A4 escrito com caneta: “Quer um café”? Pensou “aqui tem mineiro”. Foi o suficiente para se instalar num cajón ao qual passou a infligir sonoras pancadas, entoando sucessos que remontam ao seu saudoso Clube da Esquina, o grupo de Milton Nascimento e Beto Guedes onde todos eram bem-vindos.

Enquanto isso, Má Ribeiro, Camila Jorge e Ailime Huckembeck faziam evoluções conforme a música, interagindo entre elas e com os novos agregados da roda. A quarta integrante, Lídia Ueta, acompanhava na percussão enquanto registrava o momento. “Eu trabalhava só com fotografia, mas era insuficiente para atender as questões que me interessavam em relação ao outro. Precisamos sair dos espaços institucionalizados”, explica.

É por essa insatisfação com as apresentações formais que o grupo elegeu a Feira de Orgânicos do Passeio Público como sua casa, onde estão todo sábado das 9 às 13 horas. Lá são conhecidas como “as meninas”, e cativam seriamente corações com o do “senhor Hugo”, que faz compras ali toda semana e um belo dia lhes dedicou um samba de sua autoria.

Visitante se encarregou da percussão durante roda de música.Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Referências

Olhando de relance confunde-se o trabalho com música de rua – mas os interesses das garotas e as horas que investem em debate teórico as colocam em outro “lugar”, para usar um jargão das artes.

Entre as referências artísticas do quarteto estão os performers Renato Cohen e Flávio de Carvalho e o teórico Nicolas Bourriaud. Este último escreveu sobre a estética relacional, que valoriza o momento de compartilhamento da arte e o relacionamento do artista com seu ambiente e público mais do que a obra em si.

O próximo passo do grupo virá em outubro, quando elas farão suas Rotas pela Cidade, ocupando determinados pontos da região central de Curitiba com seu barulho. No mínimo, dá samba.

Batuque solto

As Filhas da Fruta abrem a roda e dançam conforme a música do espectador. Assista a um trecho da bagunça que elas armaram na quarta-feira (2), na Casa Hoffmann.

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