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Profusão de personagens: analistas financeiros estimam aumento de vendas de brinquedos com a estreia de “Guerra Civil” | Divulgação
Profusão de personagens: analistas financeiros estimam aumento de vendas de brinquedos com a estreia de “Guerra Civil”| Foto: Divulgação

“Capitão América – Guerra Civil” tem tanta emoção quanto andar de Fórmula-1 a 40 quilômetros por hora. O filme tem as obrigatórias cenas de ação, prédios explodindo, lutas entre heróis, mas não vai a lugar nenhum. A Disney simplesmente extirpou tudo que havia de relevante nos quadrinhos para criar uma estéril “aventura para toda a família”.

A maravilhosa cena inicial da série em quadrinhos – lançada em 2007 – na qual os Novos Guerreiros participam de um reality show e, de olho na audiência, acabam provocando uma catástrofe com centenas de vítimas, entre elas crianças, foi totalmente modificada. E substituída por algo com um milésimo do impacto, para não dizer totalmente anódino.

É fácil entender o motivo. No mundo de conto de fadas da Disney, nenhum super-herói pode ser responsável pela morte de civis, quanto mais crianças. Nos quadrinhos da Marvel – sempre à frente do seu tempo, desde a década de 1960—a ambiguidade sempre foi um traço inerente aos personagens com superpoderes. Nos filmes, no entanto, todos os heróis precisam ser mocinhos exemplares o tempo todo.

Outros momentos emblemáticos dos quadrinhos, que ficariam perfeitos no cinema, foram alterados para pior, ou simplesmente esquecidos. A dramática morte do personagem Golias, um dos pontos altos da série de 2007, é trocada pela queda do Coronel Rhodes no filme, sem um décimo da emoção. Outra vez, seria impossível o comitê de executivos da Disney aprovar Thor matando outro herói (mesmo que nos quadrinhos seja um clone cibernético do deus asgardiano).

Homem-Aranha

E a participação do Homem-Aranha, tão explorada nos trailers, é absolutamente dispensável. Ele é recrutado no meio do filme, participa de uma batalha, e volta para casa. Sem contar o desperdício do talento de uma atriz como Marisa Tomei, vencedora do Oscar, reduzida ao absurdo papel de Tia May.

Nos quadrinhos, a presença do Homem-Aranha é fundamental. Ele, ao revelar sua identidade, dá aval ao Homem de Ferro, que pode continuar com seu programa de registro de super-humanos. É essencial para ganhar a opinião pública, uma discussão totalmente ausente no filme.

US$ 1,3 bilhão

É quanto a Disney fatura anualmente com a venda da licença dos direitos do Homem-Aranha para a produção de brinquedos. Com os Vingadores, 325 milhões. Por ano, a Disney fatura mais de 40 bilhões de dólares com a licença de todas as suas marcas.

O único motivo para Homem-Aranha estar presente, neste contexto, é fazer a engrenagem bilionária de venda de brinquedos da Disney girar. Dessa forma, não adianta reclamar do roteiro ou de qualquer outro aspecto técnico ou artístico de “Guerra Civil”. O filme é, na verdade, um grande trailer de 170 milhões de dólares para os brinquedos licenciados dos super-heróis. Cada cena e cada uniforme são pensados em crianças e adultos que compram bonequinhos ou action figures para brincar ou colecionar, respectivamente.

Homem-Aranha, sozinho, vende por ano 1,3 bilhão de dólares em marcas licenciadas de brinquedos. Os Vingadores, 325 milhões. Todas as licenças das Disney rendem mais de 40 bilhões de dólares por ano. As vendas da Hasbro, empresa de brinquedos que detém os direitos dos personagens da Marvel, cresceram 16% nos primeiros quatro meses deste ano. Segundo os analistas, graças aos estreitos laços com a Disney.

Guerras Secretas

Claro que ganhar dinheiro com brinquedos não é o problema. A própria Marvel, em 1984, muito antes de ser vendida à Disney, criou “Guerras Secretas”, uma das melhores séries em quadrinhos de todos os tempos, para vender bonecos. Na época, a DC e a Mattel, com He-Man, vendiam seus personagens como água.

Nas mãos competentes do roteirista Jim Shooter, a série se tornou um clássico. A Disney, por sua vez, abdicou de qualquer outra ambição que não seja vender plástico made in China.

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