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O culto à Legião Urbana e a Renato Russo continua muito forte, mesmo nove anos após a morte do vocalista da banda de rock brasileira. Desde 1996, a cada ano, chega ao mercado um novo produto musical relacionado ao antigo trio brasiliense – acústico da MTV, shows antigos, trabalhos-solo de Renato –, aumentando o catálogo disponível ao público, que continua consumindo (e muito) qualquer material do grupo.

O baú parecia ter se esvaziado no ano passado, com o lançamento de As Quatro Estações Ao Vivo (registro do show do disco mais vendido da Legião). Mas a arqueologia continua com o CD MTV Especial: Aborto Elétrico, lançado esta semana. Para quem não é familiarizado com a história do rock no Brasil, Aborto Elétrico foi a primeira banda punk de Brasília, formada em 1978 por Renato Russo, Fê Lemos e André Pretórius. Dela se originaram a Legião Urbana (fundada por Renato) e o Capital Inicial (por Fê), que agora regrava todas as canções compostas pelo Aborto para um novo selo da emissora musical, destinado a "resgates históricos" – na verdade, mais uma ação que amplia a parceria de sucesso de MTV com as gravadoras, que têm lançado diversos produtos nos últimos anos.

Oportunismo? Não há como escapar desse pensamento em meio ao atual cenário de pasmaceira do mercado musical brasileiro, em que impera o investimento apenas no que é certeza de retorno: discos ao vivo, a maioria com sucessos antigos (correr atrás de boas novidades é raridade nas gravadoras). Juntou-se o Capital Inicial, banda em alta depois do grande retorno com um disco acústico (de 2001), o revival oitentista que está na moda, o eterno interesse pela Legião Urbana/Renato Russo e a marca MTV, símbolo de grandes vendas no mercado – vale lembrar que a iniciativa agora é da Sony & BMG e nada tem a ver com a EMI, detentora do espólio da Legião.

Tudo isso acaba ofuscando a importância histórica do material resgatado. São 18 músicas, sendo nove nunca gravadas em disco (o DVD do projeto sairá em breve) – as outras já haviam sido registradas pela Legião Urbana (como "Conexão Amazônica" e "Química") e o próprio Capital Inicial (como "Fátima" e "Veraneio Vascaína").

Fê Lemos (bateria), Flávio Lemos (baixo), Dinho Ouro Preto (voz) e Yves Passarel (guitarras) mantêm a pegada punk das canções originais e conseguem bons momentos no disco. Os clássicos da Legião não soam muito bem na voz de Dinho, por terem sido eternizados por Renato Russo, mas o vocalista do Capital não compromete nas faixas desconhecidas do grande público.

O que marca no disco é conhecer novas letras do Aborto Elétrico, compostas sob a inspiração e rebeldia de quem vivia na capital federal nos início dos anos 80 – algumas mais políticas ("Helicópteros no Céu", "Que País É Esse?", "Verde Amarelo ou Despertar dos Mortos"), outras sobre o cotidiano da cidade ("Anúncio de Refrigerante", "Música Urbana"), quase todas representando a ingenuidade da juventude. Nota dez pelo documento, mas zero pelo oportunismo. GG1/2

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