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Protestos, homenagens e um ovacionado discurso de Sebastião Salgado marcaram a abertura do Festival do Rio, ontem, no Teatro Oi Casa Grande, onde houve a projeção de "O sal da Terra", documentário sobre o fotógrafo dirigido pelo seu filho, Juliano Ribeiro Salgado, e pelo alemão Wim Wenders. Acostumado a fazer sozinho as muitas viagens que resultaram em sua extensa e celebrada obra, Salgado contou como foi ter uma equipe acompanhando os bastidores de seu trabalho.

"O cinema e a fotografia têm algo em comum: a imagem. A diferença é que nós, fotógrafos, somos instintivos, e vocês, cineastas, são intelectuais. Vocês se programam com antecedência", disse Salgado, ao lado de Juliano e da mulher, Lélia Wanick Salgado, arrancando risos e aplausos dos convidados ao lembrar as orientações que recebia do próprio filho. "Tivemos esse pequeno conflito, mas sobrevivi. Hoje eu considero o trabalho dos cineastas fenomenal".

O fotógrafo lembrou também as primeiras vezes em que levou Juliano, ainda adolescente, em suas viagens, forçando-o a testemunhar situações fortes, como em Ruanda, onde "todos os aspectos do genocídio que se seguiria já estavam se juntando". Mas divertiu o público ao citar a visita que fizeram a moradores próximos a um canal que estava sendo construído na Índia.

"Uma senhora havia acabado de dar à luz. Ela estava amamentando, e o bebê engasgou. Parecia que ele ia morrer. Então, um homem foi para fora da casa e matou um cabritinho. Nós saímos dali, e o tradutor nos explicou que o animal havia sido sacrificado. Se não houvesse um cabrito, teria matado um de nós, e provavelmente o mais jovem!".

Antes, a atriz Claudia Raia apresentou vídeos em tributo ao documentarista Eduardo Coutinho e ao ator José Wilker. Em seguida, pediu que subissem ao palco as diretoras do festival, Ilda Santiago e Walkíria Barbosa, que ofereceu um discurso com tons políticos. Ela defendeu a redução da burocracia e da tributação sobre o setor audiovisual e falou sobre propriedade intelectual.

"O Brasil não pode continuar sendo o segundo maior consumidor de pirataria do mundo. Isso é uma vergonha", disse Walkíria.

Manifestação

Do lado de fora do teatro, no Leblon, integrantes do movimento "Rio: mais cinema, menos cenário" aproveitaram o evento para distribuir panfletos e chamar atenção para a maneira como são feitas as políticas públicas voltadas à produção audiovisual. O grupo criticava o que considerava um repasse privilegiado de verbas ao cinema comercial, através de editais reembolsáveis, em detrimento dos cineclubes e do cinema mais autoral.

Entre os manifestantes, que usaram camisas e estenderam uma faixa com o slogan do movimento, estava o documentarista Silvio Tendler. Ele reclamou da demora para o lançamento de um edital não reembolsável pela Secretaria municipal de Cultura.

"O Rio, que era a capital do cinema, está a reboque dos outros estados. Isso depois de muitas promessas. É muito importante resgatar a importância da RioFilme, até porque eu ajudei em sua criação".

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