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Ian McEwan, ontem na Flip: matriz em Shakespeare | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Ian McEwan, ontem na Flip: matriz em Shakespeare| Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo

Serena

O novo romance de Ian McEwan chegou antes às livrarias brasileiras, e pelas mãos de um tradutor curitibano, Caetano Galindo, professor de Literatura da Universidade Federal do Paraná.

"Possíveis experimentações, inovações, vêm de algum lugar. A forma de elaborar personagens, de lhes conferir complexidade, tem sua matriz em Shakespeare, na literatura do início do século 19, com os romances de Janes Austen."

Ian McEwan.

O escritor britânico Ian McEwan vive uma situação incomum em sua carreira. Aos 64 anos, ele é hoje um dos mais festejados autores de língua inglesa, tanto pela crítica e quanto pelos leitores ao redor do mundo. No entanto, seu novo romance, Serena, chegou primeiro às livrarias brasileiras do que aos mercados livreiros britânico e norte-americano. E pelas mãos de um tradutor curitibano: Caetano Waldrigues Galindo, professor de Literatura da Universidade Federal do Paraná.

McEwan, autor de clássicos contemporâneos como Reparação e Amsterdam, participa neste ano pela segunda vez da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que se encerra hoje, e sua sua vinda ao evento tem muito a ver com o lançamento antecipado de Serena no mercado nacional. "Quando minha participação foi confirmada, meu publisher, o Luiz Schwarcz [diretor da Companhia das Letras], disse que se nos apressássemos, a tradução brasileira poderia ser lançada em tempo. E estou feliz que tudo deu certo", disse o autor ontem, em concorrida coletiva de imprensa realizada na Pousada do Ouro, no setor histórico da cidade do litoral fluminense.

Criação

A personagem-título de Serena é fascinante: matemática de dotes intelectuais notáveis, ela é recrutada como espiã pelo Serviço de Segurança da Grã-Bretanha nos anos 70 e se vê enredada em uma trama de segredos e mentiras. A obra, no entanto, não é uma história de espionagem, aos moldes dos livros de Ian Fleming, criador do agente secreto James Bond, ou de John LeCarré. "O meu foco é na relação entre os personagens, na história de amor."

O fato de ter optado, como em outras de suas obras, por construir sua narrativa em torno de uma personagem jovem, no início de seus 20 anos, tem a ver, conta McEwan, com a constatação de que é nessa fase, da pós-adolescência, que muitas primeiras grandes escolhas, decisões e perdas são vivenciadas. "Porque eu tenho mais de 60 anos, não significa que tenha de dedicar a minha obra toda a personagens mais velhos, que se digladiam com a mortalidade."

A escolha por uma mulher como protagonista também não é fonte de inquietação, embora McEwan seja muito questionado sobre sua habilidade na construção de personagens femininas complexas, tridimensionais, como a Briony, narradora e figura central de Reparação. "Eu fui criado por uma mulher, sou casado com uma. Elas também são seres humanos, não tão diversas assim dos homens. Não enxergo tantas distinções. Se eu me proponho a mergulhar na personagem, a compreendê-la, acho que é um desafio tão complexo quanto me dedicar a construção de um homem."

Mais complicado, por vezes, é iniciar um romance, as primeiras páginas, a frase de abertura. "É como pescar trutas com a mão, uma técnica próxima à hipnose, que dispensa anzol. É a arte de seduzir o leitor."

Influências

McEwan disse que vem de uma longa tradição de autores britânicos, de uma forte tradição narrativa, da qual nunca achou necessário se desvincular. "É o mar em que eu nado. Possíveis experimentações, inovações, vêm de algum lugar. A forma de elaborar personagens, de lhes conferir complexidade, tem sua matriz em Shakespeare, na literatura do início do século 19, com os romances de Janes Austen."

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