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Livro

Iluminuras

Arthur Rimbaud.Tradução, notas e ensaio de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça. Editora Iluminuras. 192 págs., R$ 44.

Um gosto de cinzas flutua no ar, diz Arthur Rimbaud em "Frases", um dos poemas de Iluminuras, que a editora, vejam só, Iluminuras traz novamente ao mercado literário, após um hiato de 20 anos do lançamento no Brasil.

Traduzido pelos londrinenses Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça, a obra, escrita em 1886, apresenta a quase delirante prosa poética de Rimbaud, que transpassa pontes, estradas e cidades em expansão. É uma série de acontecimentos semânticos, flashes, sensações e memórias desordenadas: "o perfume púrpuro do sol dos polos", "possessões de aristocracias feéricas ultrarrenanas", "animais de sonho vão aparecer sob as notas mais sufocantes, para me afogar até os olhos na nascente da seda".

À primeira vista, a sucessão de frases e imagens isoladas assusta pela musicalidade estrangeira, a ignorar todas as noções narrativas e ligar palavras conflitantes. Entretanto, o mérito inegável de Rimbaud é inaugurar um certo jeito de ver o mundo que mudava com cada vez mais velocidade e incompreensão.

O esforço de traduzir uma época (e uma individualidade) garante a permanência de um texto caótico e belo: "Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole considerada moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não encontrará menor sinal de nenhum monumento de superstição".

Confira um dos poemas de Iluminuras, de Arthur Rimbaud:

Marinha

As carroças de prata e cobre –As proas de aço e prata –Espancam espumas, –Singram ramos de sarças.As correntezas dos pântanos,E os rastros imensos do refluxo,Fluem em círculos rumo a leste,Rumo aos pilares da floresta, –Rumo aos troncos do cais,Cujo ângulo é ferido por turbilhões de luz

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