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Coleção do marchand Jean Boghici era repleta de  tesouros  da arte brasileira e mundial | Léo Pinheiro / O Globo
Coleção do marchand Jean Boghici era repleta de tesouros da arte brasileira e mundial| Foto: Léo Pinheiro / O Globo
  • Samba, de Di Cavalcanti, foi destruída pelo incêncio

Um incêndio no apartamento do colecionador de arte romeno Jean Boghici, iniciado por volta das 18 horas desta segunda-feira, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, atingiu uma das mais importantes coleções particulares de quadros de artistas brasileiros no país. O acervo ficava no 12.º andar de um dúplex onde mora Boghici, ex-dono da Galeria Relevo.

De acordo com testemunhas, as chamas teriam começado no ar-condicionado e se espalhado pelo apartamento. Suspeita-se que tenha havido um curto-circuito. Boghici e a mulher conseguiram escapar sem ferimentos, mas os bombeiros demoraram cerca de duas horas para controlar o incêndio. Peritos estiveram no edifício na manhã de ontem. Segundo a Defesa Civil, o laudo oficial deve sair em 15 dias.

De acordo com os bombeiros, o primeiro andar da cobertura ficou inteiramente destruído, enquanto o segundo foi em parte preservado. Segundo amigos do marchand, o andar inferior, o mais atingido, era o local onde ficava o maior número de obras de arte.

O galerista, que é um dos maiores do país, assistiu da calçada à destruição do apartamento que abrigava um acervo de importantes nomes da arte do século 20. Sua mulher e sua filha estavam no apartamento, mas conseguiram escapar sem ferimentos.

Uma das mais importantes obras da história da arte brasileira e principal item da coleção de Jean Boghici, a pintura Samba (1925), de Di Cavalcanti, foi destruída no incêndio. Pioneiro no mercado da arte no país, o marchand começou a comprar obras nos anos 1960, quando abriu a galeria Relevo (fechada em 1969). Na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Duvivier, o espaço investiu em artistas que já tinham galeria, adquirindo obras de Alfredo Volpi, Di Cavalcanti, Pancetti e Guignard, mas também apostou nos novos nomes de então, como Antonio Dias, Rubens Gerchman e Wanda Pimentel.

Cenário

A galeria foi cenário de importantes exposições, como a coletiva da Escola de Paris, em 1964, que mais tarde deu origem à histórica mostra Opinião 65, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio. O apartamento dúplex na Rua Barata Ribeiro, onde o colecionador vive com a mulher, guardava os tesouros de seu acervo, que também ocupa parte da galeria que leva seu nome, em Ipanema. Sua coleção, que inclui telas viscerais de Antonio Dias dos anos 1960, é considerada uma das mais importantes do século 20 no país. Seu acervo de pinturas internacionais também tem nomes de destaque, como Lucio Fontana e Modigliani. Ele possui ainda móbiles de Alexander Calder e obras de Rodin.

Repercussão

O diretor da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, Jones Bergamin classifica o acervo de Boghici como "a mais valiosa coleção particular de arte brasileira".

"Não dá para calcular o valor das obras de Boghici. É algo na ordem de centenas de milhões de reais. Uma pintura como Samba, de Di Cavalcanti, por exemplo, não tem preço", disse Jones.

Nascido na Romênia, Boghici, 84 anos, desembarcou no Rio em 1949, e virou uma referência no mercado de arte da cidade, como galerista e colecionador.

Ivo Mesquita, diretor-técnico da Pinacoteca do Estado de São Paulo, chegou a ver de perto a coleção de Boghici. "Cheguei a visitar duas vezes o apartamento dele. É uma coleção valiosíssima, formada por artistas-chaves para a arte brasileira. E o Jean ajudou a construir a história de muitos desses nomes. É um homem que ajudou a consolidar o circuito de arte no país", avaliou Mesquita.

Amiga de Boghici, a curadora Vanda Klabin estava atônita diante da possibilidade de destruição das obras. "Ele estava separando uma boa parte das obras na casa dele para o MAR [Museu de Arte do Rio, com inauguração prevista para setembro]", disse Vanda.

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