Iria: concerto dionisíaco na “contramão da urgência”| Foto: Leonardo Franco/Divulgação

Show

Iria Braga

Teatro do Sesc da Esquina (R. Visconde do Rio Branco, 969, Centro), (41) 3304-2222. Quinta-feira, 28, às 20 horas. R$ 12 e R$ 6 (meia -entrada).

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Desde que o mercado de discos se consolidou, na metade do século passado, artistas em geral adotam o seguinte esquema: compõem um punhado de músicas que são ensaiadas e gravadas em estúdio, para depois produzir um concerto, ou vários, para divulgá-las.

Há quem goste de remar para o outro lado, como a cantora Iria Braga. No final do ano passado, Iria lançou seu primeiro álbum, Iria Braga, em seu site e na página Musicoteca.

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O disco de nove faixas percorre sua trajetória de intérprete, em 15 anos de carreira. Iria, porém, preferiu não fazer imediatamente um show. "A minha ideia é que o disco andasse um pouco sozinho. Precisei que as músicas fossem para os ouvidos das pessoas por conta própria. Escolhi caminhar na contramão da urgência", explica.

A necessidade de respeitar o próprio trabalho é outro motivo que justifica a espera. "Gravar um disco não é só afinar a voz e cantar uma sessão de músicas num estúdio ou em casa, o que é muito fácil", avalia. "Talvez, precisemos recuperar o frescor e a delicadeza de produzir música com todo o cuidado", pondera.

O repertório do show – e do álbum – refazem a trajetória "afetiva e artística" da carreira da cantora curitibana. Algo que se ouve nas experimentações dodecafônicas de "Crotalus Terrificus", de Arrigo Barnabé e Paulinho da Viola. Ou na reinvenção ousada do tema "Habanera", a passagem mais célebre da ópera Carmen, do compositor francês Georges Bizet (1838-1875).

"São escolhas arriscadas que eu assumo. Isso é parte importante da minha personalidade. Cada vez mais, eu gosto de correr mais riscos", afirma.

Há ainda texturas musicais bem diferentes, como Cartola ("Peito Vazio"), os curitibanos Du Gomide e Estrela Leminski ("Chapéu de Sobra"), canções folclóricas e até uma faixa assinada pela própria cantora, em parceria com Elizabeth Fadel. Iria, porém, não se vê como compositora.

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"Sou uma intérprete. Isso significa conquistar uma voz, buscar uma individualidade. A tua forma de ser dentro da música", reflete.

Dionísio

Entre a gravação do disco e este show que estreia amanhã, a cantora apresentou o concerto Volátil, ao lado do pianista Davi Sartori, em que cantava um repertório ensolarado de canções da MPB.

Um espetáculo bem diferente, segundo Iria, das experimentações e teatralidades do novo show. "Este é o contrário daquele. Um é yin, o outro é yang. Um é apolíneo e este é claramente dionisíaco", compara.

Sob a direção de Carmen Jorge e Indioney Rodrigues, no novo show a cantora espera explorar possibilidades de interpretação "que até hoje ainda não fez". "Um amigo meu me disse e eu acredito: se você não pode fazer melhor do que o que um compositor faz com a música, não cante ela", resume.

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