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Que questões a inquietavam quando escreveu Tumba de Cães?

Tinha entre 19 e 20 anos. Nessa altura eu tinha a urgência de tratar temas ligados às questões familiares: quais tipos de relações de poder se constroem dentro das casas, e qual papel o silêncio, os segredos, desempenham na vida das pessoas quando vivem com outros seres humanos com quem compartilham o sangue. Em segundo lugar, queria contar uma história de guerra, em que ela fosse presente e ausente ao mesmo tempo: longe, porque combatida em lugares longínquos, e perto porque capaz de mudar profundamente o dia a dia dos civis, de pô-los em situações que desvelam a sua natureza complexa e profunda.

E hoje, que temas a tocam?

Acho que enfrentei vários temas nos textos mais recentes, como o esforço trágico que as pessoas às vezes fazem para mudar sua própria existência, ou as relações entre grupos de adolescentes, ou os problemas de coabitação entre grupos humanos com diferentes origens geográficas e culturais, ou, como no caso do texto que estou escrevendo neste período, a diferença entre culpa e responsabilidade. Mas, no fundo, para além dos temas, aquilo que todas as vezes faz com que eu comece a escrever uma história é a possibilidade de criar um universo, e deixar com que os personagens, através da própria história, construam um mundo dentro e fora de si.

Que dramaturgos na Europa e no Brasil você admira?

Se tivesse de responder com apenas um nome do teatro contemporâneo, diria Antonio Tarantino, dramaturgo italiano, pela lucidez do seu olhar e ao mesmo tempo a piedade, comicidade e tragédia dos seus textos. Não conheço tão bem a dramaturgia brasileira, mas espero que minha estada em Curitiba seja também a ocasião para remediar essa falta.

Romeno nunca abandonou tema da liberdade

Como a situação política da Romênia e sua experiência na França influenciam sua dramaturgia?

Estou na França desde 1987 e os países do Leste Europeu obtiveram "liberdade" em 1989, mas me preocupo ainda com o assunto liberdade, ou a relação entre as pessoas e a liberdade. Em meu país, como toda minha geração de escritores, eu havia buscado liberdade na literatura. Por meio da poesia, da metáfora, das alegorias e alusões, enfim, por meio de uma literatura codificada, podíamos denunciar o lado grotesco da ditadura e a lavagem cerebral operada pela ideologia.

O que não acontece na França...

É claro que, na França, pude aproveitar outra forma de liberdade, aquela "durável", que as grandes democracias souberam construir. Mas percebi que é mais fácil denunciar o mal num país totalitário, porque ele é mais visível. É o único conforto do artista e do intelectual numa ditadura: denunciar o culpado. Mas, na França, é preciso um trabalho de reflexão mais profundo. O artista precisa ser mais sutil para reconhecer formas de manipulação da informação, pela publicidade, a moda, a indústria do entretenimento, a sociedade de consumo em geral, os slogans do comércio, a linguagem da mídia e da informática... muitas vezes descobrimos que, nesses países, a lavagem cerebral se esconde por trás de uma grande tela de liberdade.

Quem são os dramaturgo que você admira?

Ainda gosto dos autores dos anos 50 e 60: Ionesco, Beckett, Arrabal…mas também Harold Pinter e Sam Shepard. Ou aqueles que descobri na França, como Valère Novarina, Wajdi Mouawad e Rémi de Vos. Mas também me nutro de romances. Gosto muito de Jonathan Coe e descobri recentemente Haruki Murakami.

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