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Gomorra: filme sobre a máfia fez com que os realizadores fossem jurados de morte | Divulgação
Gomorra: filme sobre a máfia fez com que os realizadores fossem jurados de morte| Foto: Divulgação

Paraná

Mistéryos estréia na Mostra

Depois de levarem R$ 110 mil e o troféu Araucária de Ouro no Festival de Curitiba de Cinema Latino Brasileiro, os diretores Beto Carminatti e Pedro Merege exibem hoje, pela primeira vez na 32ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o longa-metragem paranaense Mistéryos.

O filme será apresentado às 22h30, no Espaço Unibanco Arteplex, do Shopping Frei Caneca, e terá outras duas sessões nesta semana.

Baseado em contos do escritor paulista radicado em Curitiba Valêncio Xavier, o filme tem Carlos Vereza, Stephany Brito (foto) e Leonardo Miggiorin à frente do elenco.

São Paulo - Matteo Garrone e Paolo Sorrentino. Guardem esses nomes. Desconhecidos fora da Itália, os dois diretores conseguiram um feito e tanto: quebrar o marasmo que tomou o mundo do chamado cinema autoral em 2008.

O Festival de Cannes, realizado em maio passado, foi alvo de críticas por ter reunido em sua mostra competitiva filmes mornos, esquecíveis, sem nada de muito novo a dizer e incapazes de provocar. Salvo algumas memoráveis exceções. Duas delas estão na programação da 32ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Gomorra, de Garrone, venceu o Grande Prêmio do Júri em Cannes. Il Divo, de Sorrentino, levou o Prêmio do Júri. Poucas vezes na história recente do festival francês, dois títulos de um mesmo país saíram laureados simultaneamente – e com merecimento. Sinal de que algo novo e importante acontece no país de cineastas lendários como Federico Fellini (1920-1993) e Michelangelo Antonioni (1912-2007).

O mais interessante é que, do ponto de vista formal, estilístico, os dois longas-metragens não poderiam ser mais diferentes em vários aspectos.

Gomorra bebe da fonte latino-americana de diretores como o mexicano Alejandro González Iñarritu (Amores Brutos) e os brasileiros Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e José Padilha (Tropa de Elite).

Entrecruzando de forma fragmentada, não-linear, cinco histórias, Garrone tece um painel perturbador do impacto do tráfico de drogas e do crime organizado nas províncias de Nápoles e Caserta, no sul italiano. Mostra que tudo no país, da alta-costura à política, tem o dado da Gomorra, a máfia regional.

Representante italiano no Oscar 2009, Gomorra é realista, violento e arrebatador. Mas, sobretudo, não se limita apenas ao exercício do virtuosismo narrativo e aos arroubos visuais. Tem personagens memoráveis, como os dois adolescentes que se rebelam contra os chefões locais e brincam com a idéia de agir de forma independente. Ou o alfaiate que presta serviço a grandes grifes e resolve ensinar seus segredos à competição chinesa.

Sucesso de bilheteria na Itália, Gomorra já trouxe a Matteo Garrone e a Roberto Saviano, autor do best seller que originou o filme, o dissabor de estarem jurados de morte pela máfia. Hoje vivem 24 horas por dia sob a proteção da polícia.

Cinebiografia

Também surpreendente, mas sem a intenção de parecer quase documental, como Gomorra, Il Divo é uma das melhores cinebiografias dos últimos anos, fugindo da tentativa de reconstituir, do berço ao túmulo, a vida de alguém ilustre.

No caso, o personagem central é Giulio Andreotti (Toni Servillo, em atuação espetacular), uma das figuras políticas mais importantes na Itália do século 20, tendo ocupado o cargo de premiê por sete vezes. Na última, na década de 1990, quando o democrata cristão já havia passado dos 70 anos, foi acusado de manter relações perigosas com a máfia e foi levado a julgamento, para depois ser absolvido.

Sorrentino assume estar lidando com um personagem maior do que a vida, com dimensões de mito e aparência física muito particular – era feioso e levemente corcunda. Taciturno, porém extremamente perspicaz, Andreotti enfrentou, incólume, batalhas eleitorais, campanhas difamatórias, o terrorismo das Brigadas Vermelhas e a própria máfia. Ainda vivo, o político completa 90 anos em 2009.

Diante de tal figura, o diretor opta por um tom muito original – a narrativa, a um passo da paródia, transforma o cenário político italiano entre os anos 1980 e 1990 numa ópera bufa com toques de história em quadrinhos, sobretudo em sua surpreendente e exuberante concepção visual. Mas também há momentos de lirismo e rara beleza em Il Divo, que, sem negar o mito que é Andreotti, consegue humanizá-lo.

O editor do Caderno G viajou a São Paulo a convite da organização da mostra.

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