É o que chamam de filme com "pegada popular". Escolha um roteiro que poderia ser adaptado para a tevê, junte um punhado de atores de tevê e filme como se fosse um programa de tevê. E não esqueça de divulgar, é claro, na tevê. Eis a fórmula quase infalível de alguns dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional recente: Sexo, Amor e Traição, Se Eu Fosse Você, Avassaladoras, A Dona da História, A Partilha, Lisbela e o Prisioneiro, etc.
Trair e Coçar É Só Começar, que estréia hoje em circuito nacional, segue a mesma cartilha. Versão para as telas da peça teatral homônima, em cartaz há 20 anos (leia quadro ao lado), o filme tem o carimbo da grife Diler & Associados. Comandada por Diler Trindade, considerado o grande produtor da fase de retomada do cinema nacional, a empresa assina os longas de Xuxa Meneghel, Renato Aragão e Padre Marcelo Rossi. Ou seja: é especialista nessa cinematografia com jeitão televisivo.
Ao todo, a companhia esteve por trás de 30 produções, arrecadando mais de R$ 30 milhões desde os anos 90. Dez de seus filmes estão na lista das 30 maiores bilheterias da retomada, sendo que Lua de Cristal, com Xuxa, teve quase cinco milhões de espectadores foi o recordista da década passada. Dito isso, fica difícil duvidar do potencial comercial de Trair e Coçar. Até porque o longa se apóia num texto consagrado, conta com atores globais e tem distribuição da poderosa Fox, com mais de cem cópias espalhadas pelo país.
Dirigido por Moacyr Goés, o mesmo das produções estreladas pelo Padre Marcelo, o longa inaugura a nova aposta da Diler & Associados: filmes baseados em peças de teatro (mas com cara de tevê). Bonitinha, Mas Ordinária, de Nelson Rodrigues, seria o primeiro da safra, porém foi adiado por problemas de direitos autorais. Sobrou para Trair e Coçar, o próximo da lista.
A história é simples, assim como seus cenários, figurinos e trilha sonora (digna das vinhetas do Zorra Total). Trair e Coçar narra as confusões causadas por uma doméstica em um condomínio de classe média. Olímpia (Adriana Esteves) desconfia que seus patrões (Bianca Byington e Cassio Gabus Mendes) têm amantes e envolve seus amigos, vizinhos e empregados numa série de desencontros e situações constrangedoras. Talvez funcione melhor no teatro. Como cinema, daria um episódio engraçadinho do extinto Sai de Baixo. G1/2