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Quem mora nas imediações da Arena da Baixada, o estádio do Atlético, já se acostumou com as longas filas para comprar ingressos, normalmente para as partidas do clube. Mas com certeza jamais viu tamanha concentração de adolescentes, quase exclusivamente meninas, que desde a última sexta-feira (29) transformaram as calçadas da Rua Buenos Aires em um "assentamento", com pelo menos 20 barracas. A razão de todo o furor chama-se Rebelde (ou RBD para os íntimos), a banda teen mexicana que se apresenta na noite de quinta-feira, em Curitiba.

As primeiras fãs começaram a chegar ao estádio na sexta-feira, faltando quase uma semana para a apresentação. "Falaram que a partir de sábado iam começar a chegar caravanas de outros lugares, então resolvemos vir na sexta para garantir um bom lugar", explica Janaína Pereira, 16 anos, uma das 53 pessoas que ocupam a primeira barraca. "Estamos aqui desde sexta-feira às 7 horas da manhã, mas vale a pena", completa Vanessa Portela Nascimento, 18 anos, que ocupa a mesma barraca. E deve valer mesmo: elas (ou melhor, os pais) pagaram entre R$ 125 e R$ 133,50 pela meia entrada.

Janaína e Vanessa sintetizam o perfil de quem tenta garantir um lugar no gargarejo: meninas, entre 13 e 18 anos, e devotas da banda mexicana. Mas as garotas esclarecem que não ficam o tempo todo na rua, e que, inclusive, continuam indo à escola. "Fazemos um revezamento: quem estuda à tarde guarda o lugar para quem estuda de manhã, e quem pode dormir aqui guarda o lugar para quem não pode", explica Janaína. É o revezamento que também permite que elas tomem banho e comam alguma coisa em casa. Além disso, alguns adultos também acompanham os adolescentes na provação.

Para as meninas, o pior de ficar na rua é o tédio e a dieta a que elas se submeteram. "Comemos quase só porcaria: salgadinhos, bolachas, balas, chicletes, refrigerantes, chocolates... até tem alguns restaurantes aqui perto, mas é tudo muito caro", relata Janaína, lembrando que apenas a mãe de uma das garotas levou comida de casa para ela. Frio e chuva? Tiram de letra: "Passamos um pouco de frio num dos dias, mas o pior foi a chuva no fim de semana. Molhou tudo aqui", contou outra fã, que não quis se identificar. O medo de ficar na rua de madrugada também foi superado. "Deu um pouco de medo na sexta e no sábado de madrugada, quando só tinha a nossa barraca, mas agora que tem essa galera toda tá tranqüilo", conta Vanessa. "E também tem o módulo (da PM), sempre tem algum policial por perto."A explicação para tanta paixão é a mesma que move todos os adolescentes desde o surgimento dos Beatles: identificação. "Ah, tanto na banda como na novela eles falam das coisas dos nosso dia-a-dia, como problemas com os pais, os pais que querem mandar muito, gravidez na adolescência, a realidade na escola", enumera Janaína.

Por pouco todo o sacrifício para ver o RBD de perto não foi por água abaixo nesta terça-feira. Antônio Carlos Machado, agente de proteção da 1.ª Vara da Infância e da Juventude, esteve no local levantando os nomes e os dados das adolescentes, para conferir se elas tinham autorização dos pais ou responsáveis para ficar na rua. "Fomos conferir o que estava acontecendo e pegamos os dados, que serviram de base a um relatório entregue à juíza Lídia Munhoz Mattos Guedes, que vai dar o seu parecer", explicou. "Mas, se elas têm autorização dos pais, não há muito a fazer." A reportagem tentou entrar em contato com a juíza, mas até o fim da tarde ela não foi localizada.

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