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A obra que originou o premiado filme Bicho de Sete Cabeças está censurada. O Tribunal de Justiça do Paraná decidiu que todas as edições do livro Canto dos Malditos, do curitibano Austregésilo Carrano Bueno, que contenham menções injuriosas ao médico psiquiatra Alô Guimarães, falecido em 1985, devem ser retiradas de circulação num prazo de 60 dias. Caso contrário, Bueno será obrigado a arcar com uma multa diária no valor de R$ 5 mil, além dos R$ 20 mil de indenização que serão pagos aos filhos de Guimarães. A decisão foi publicada na última sexta-feira, mas ainda não é definitiva. Bueno e a editora do livro, a Rocco, ainda podem recorrer aos tribunais superiores.

Esta é a segunda decisão da Justiça que obriga Bueno a indenizar alguém citado na obra. Em novembro do ano passado, o mesmo tribunal determinou que o autor pagasse R$ 30 mil ao médico Alexandre Sech. Os dois o atenderam nas instituições psiquiáticas por onde ele passou nos três anos em que ficou internado, depois de seu pai ter descoberto um cigarro de maconha junto ao seus pertences, em 1974, quando Bueno tinha 17 anos. As duas decisões são em segunda instância e contrariam o parecer da primeira.

"É uma injustiça eu ser obrigado a pagar indenização aos meus torturadores", afirma Bueno. "Sou uma vítima que deu lucro àquelas famílias que já são ricas, minha internação foi um erro grosseiro", continua. Segundo Bueno, Alô Guimarães teria mandado interná-lo sem qualquer exame.

O escritório Pedro Xavier & Advogados Associados, que representa a família de Guimarães, acredita que a decisão da Justiça não fere os princípios da liberdade de expressão. "Não se trata de cercear a liberdade de pensamento, mas de exercer o direito com responsabilidade", afirma o advogado Muriel Gonçalves Matymychen. Ele alega que edições do livro anteriores a 2001 conteriam expressões ofensivas à honra dos médicos.

Alô Guimarães foi prefeito de Curitiba duas vezes, secretário de estado do Interior e Justiça, secretário de estado da Saúde, senador da república, deputado federal, redator da Gazeta do Povo e diretor dos hospitais psiquiátricos Nossa Senhora da Luz e Bom Retiro. Morreu ao 81 anos, no dia 4 de março de 1985.

Já Bueno, hoje com 49 anos, é membro ativo do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial (MNLA). Ainda apresenta algumas seqüelas do anos em que ficou internado e dos 21 choques elétricos a que foi submetido. "Instituição psiquiátrica é tudo um chiqueiro, só é boa aquela que conseguimos fechar", afirma. "Lutamos por um método de tratamento substitutivo, com casas terapêuticas e os centros de apoio psicossocial, o que já é lei, mas nem todo mundo cumpre."

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