O escritor no Passei Público: o cronista como “pastor de acasos”.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

No texto que abre seu terceiro livro de crônicas, “Detetive À Deriva”, que será lançado em Curitiba nesta terça-feira (16), o escritor Luís Henrique Pellanda compara o seu ofício ao dos investigadores profissionais.

CARREGANDO :)

A analogia entre as profissões não é nova, lembra o autor. “A comparação é mais literária e não é a primeira vez que é feita. O [escritor] João do Rio (1881- 1921) já falava do cronista ‘flaneur’, que domina ‘a arte de perambular com inteligência como uma secreta, à maneira de Sherlock Holmes”.

Publicidade

No caso de Pellanda, a detecção a que se propõe é andar e pensar as ruas de Curitiba e tentar achar algum sentido na confusão urbana.

“A cidade é um caso insolúvel. Era para ser a colônia de segurança da nossa espécie, mas a transformamos num labirinto e numa arapuca. É um caso insolúvel, mas a gente não o arquiva”.

Titular da crônica literária publicada às terças-feiras na Gazeta do Povo, Pellanda define seu trabalho como um “pastor de acasos”, que estão por aí à solta, à espera de serem interpretados.

“Acredito que tudo é acaso. Não tenho fé, não acredito que haja um plano maior. As coisas vão acontecendo por acaso, obedecendo a leis físicas que a ciência um dia vai investigar dentro de suas limitações”.

Assim, contar boas história faz parte de um processo de busca de significados para as coisas pequenas .

Publicidade

“Todo mundo adora contar as coisas para alguém e receber em troca algum tipo de aprovação. Quando eu vejo alguma coisa na rua e penso que isso pode ser contado de alguma forma, eu recrio para dar sentido à narrativa. Vou buscando um sentido que não estava no fato, mas que está em mim e pode interessar alguém”.

Fora do caixote

Pedestre vocacional, Pellanda sempre sabe onde achar as histórias: nas ruas. “Como é minha profissão, às vezes é preciso escrever agora, eu desço de casa para rua e vou atrás de uma história que sempre aparece”.

Como detetive literário, o cronista “sai por aí sem caso e sem cliente na esperança de que uma história dessas me cubra os honorários e me dê uma esmola da atenção dos leitores”.

As crônicas de Pellanda fogem da tendência atual de transformar o espaço semanal no jornal em tribuna de opinião. O cronista olha e escreve sobre o cotidiano, sempre com um recorte político presente, mas sutil.

Publicidade

Biografia

Luís Henrique Pellanda nasceu em Curitiba em 1973. Escritor e jornalista, é autor dos livros “O macaco ornamental” (contos), “Nós passaremos em branco” (crônicas, finalista do Prêmio Jabuti 2012) e “Asa de sereia” (crônicas, finalista do Portugal Telecom 2014). É cronista do jornal Gazeta do Povo desde 2010 e escreve todas as terças-feiras desde 2014 .

“Eu escolho a crônica que não ‘sobe no caixote’, que não faz o discurso politico direto para trair o aplauso fácil de quem concorda comigo ou o ódio de quem discorda na primeira instância. Para isso existem colunistas políticos competentes”.

Escritas entre 2013 e 2016, porém as crônicas deixam de mostrar o conturbado cenário da política nacional no período.

“Ainda que apareça em plano secundário não é menos importante. As manifestações passam pelas minhas crônicas e os urubus do centro as observam, do mesmo jeito que precisamos nos posicionar, ainda que sem querer”.

Publicidade