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O cantor e compositor nos dias de hoje | Amanda Copstein/Divulgação
O cantor e compositor nos dias de hoje| Foto: Amanda Copstein/Divulgação

Clássico

Loki?Arnaldo Baptista. Universal Music. Preço médio: R$ 14,90. Rock.

1974 não foi particularmente memorável para a história discográfica brasileira. O ano anterior, sim; aliás, foi sobre ele que se debruçou o recém-lançado livro 1973 – O Ano Que Reinventou a MPB, organizado por Célio Albuquerque, que resgata títulos que abriram a música brasileira para outros caminhos depois da bossa nova, da jovem guarda, da música de protesto e do tropicalismo.

Mas, na esteira dessas renovações, um álbum salta aos olhos na lista de quadragenários de 2014: Loki?, de Arnaldo Baptista. De repercussão tímida na época de lançamento, mas cultuado principalmente depois da redescoberta dos Mutantes nos anos 90, o disco é uma peça chave em uma das histórias mais dramaticamente fascinantes da música brasileira, mais recentemente conhecida por meio do documentário Loki – Arnaldo Baptista (2008), de Paulo Henrique Fontenelle.

O primeiro disco solo do cantor e compositor depois da saída dos Mutantes traz o momento conturbado de sua vida pessoal impresso nas canções, que falam sobre dor, loucura, inquietações. "Foi uma época de mudança durante a minha vida em que eu não tinha certeza se ia conseguir fazer algo sozinho", lembra Baptista, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "Fiz acontecer o Loki? no sentido de deixar aparecer o meu dia a dia, as coisas que eu sentia, os meus relacionamentos com pessoas", conta.

Baptista ainda sofria com sua separação de Rita Lee, que havia deixado os Mutantes em 1972. O uso intenso de drogas como o LSD preocupava pessoas próximas e chegou a afastar possíveis produtores para seu primeiro LP solo. O trabalho acabou sendo abraçado por Roberto Menescal, até então um nome ligado principalmente à bossa nova. "Realmente ele estava numa fase difícil", conta o músico e produtor, por telefone. "Podia não dar em nada. Mas senti que poderia ser importante. Quando terminou, tive mais certeza de que seria uma coisa histórica. O disco é um retrato marcante daquela época."

Invenções

Menescal conta que o universo musical particular registrado no álbum foi principalmente concebido pelo próprio Arnaldo Baptista, que acabou contando com a participação dos... Mutantes. Além do cantor, estão no disco Liminha (baixo), Dinho (bateria) e até Rita Lee (vocais). O tropicalismo também se fez presente na participação de Rogério Duprat (1932-2006), que assina arranjos dos mais interessantes em "Uma Pessoa Só" – canção feita ainda com Os Mutantes – e na bossa "Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?". Com esta formação básica, o álbum ainda percorre baladas de rock, um tema instrumental, algo de folk.

"Eu estava tentando coordenar um modo de rock-and-roll na terra do samba. No sentido em que lá fora era evoluidíssimo, com bandas como Yes, e aqui ainda não. Desde a época em que o rock-and-roll era uma imitação do rock italiano eu estava bem distante do que estava acontecendo", lembra Baptista, referindo-se à revolução do estilo no Brasil que promoveu com os Mutantes.

Loki? foi uma amostra da evolução destas invenções, mas também se tornaria emblemático ao prenunciar um período crítico para Baptista, que formaria o grupo Patrulha do Espaço em 1976 e gravaria trabalhos como o Singin’ Alone (1980) antes de um acidente que o marcaria para o resto da vida em 1982. Ele andava esquecido e sofrendo com problemas que causaram internações em clínicas psiquiátricas. Naquele ano, em São Paulo, ele acabaria se jogando pela janela e se ferindo gravemente. Foi quando começou sua fase ao lado de Lucinha, com quem vive até hoje em Juiz de Fora (MG), onde se divide entre criações musicais e a pintura. "Hoje sou um pouco mais feliz que na época que fiz o Loki?", conta Baptista. "No sentido total: de estar pesquisando o que eu queria, me aventurando por onde eu queria."

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