
Desde seu primeiro trabalho como artista solo, em 2000, o músico americano Sufjan Stevens foi percebido como um compositor excepcional.
Mas foi o quinto álbum, o conceitual Illinois (2005), o responsável por deixar as impressões mais marcantes de sua música – além de ter se tornado um hit na carreira do artista, mais ligado ao universo alternativo.
As canções eram informadas por pesquisas; as melodias, doces e inspiradas. Com sonoridade indie folk pontuada por construções orquestrais e coros complexos, ele criou um pop sofisticado e extraordinariamente criativo que moveu também o álbum seguinte, Age of Adz (2010).
O novo trabalho do cantor e compositor, no entanto, faz olhar para a sonoridade mais plácida de algumas canções do início de carreira e que dá o tom introspectivo e etéreo de Seven Swans ( 2004). Mas parece trazer junto toda a maestria melódica do trabalho de Stevens ao longo dos últimos 15 anos potencializada por uma inspiração devastadora: a morte da mãe, Carrie, em 2012, vítima de câncer no estômago.
Lançado em 31 de março, Carrie & Lowell é inteiramente dedicado às memórias e às feridas da relação problemática de Stevens com a mãe.
Carrie sofria de transtorno bipolar e esquizofrenia, teve problemas com drogas e se afastou de Sufjan mais de uma vez – quando ele tinha 1 ano e entre 3 e 4 anos (conforme ele conta em “Should Have Known Better”). Um dos períodos de reaproximação aconteceu quando ela foi casada com Lowell Brams – o padrasto de Stevens que se tornou mais próximo do músico que o próprio pai.
É ele que aparece ao lado dela na imagem da capa do disco, que reproduz uma foto instantânea que parece ter sido achada em uma caixa de sapato, com toda a intimidade que pode representar.
O resultado é uma obra de uma beleza dolorosa, mas transcendental. Tanto pelo caminho espiritualizado tomado por Stevens, que é cristão e faz várias referências à religião, quanto pela delicadeza de suas canções, interpretadas aos falsetes e sussurros, dedilhados delicados, cordas abafadas, sons meditativos.
É por meio destas texturas enternecedoras que o músico trata dos temas mais devastadores, como a morte, que surge concretamente em “Fourth of July”, narrada no leito de Carrie. “É uma ideia tão estranha te enrolar em panos”, canta Stevens, com o mesmo detalhismo e intimidade com que revela pensamentos suicidas (”The Only Thing”) e dispara contra a falta de sentido da própria sublimação artística (”Eugene”).
Carrie & Lowell leva quem se entrega a ele a um mergulho em imagens tristes, do ponto de vista de uma criança e também de um adulto, aos 39 anos, tentando se reconciliar com o passado e com sua própria vida.
“Isso não é meu projeto artístico”, disse Stevens, em uma entrevista ao site Pitchfork, em janeiro. “Isso é minha vida.”



