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A mãe Carrie e o padrasto Lowell, que dão nome ao álbum de Sufjan Stevens. | Reprodução
A mãe Carrie e o padrasto Lowell, que dão nome ao álbum de Sufjan Stevens.| Foto: Reprodução

Desde seu primeiro trabalho como artista solo, em 2000, o músico americano Sufjan Stevens foi percebido como um compositor excepcional.

Mas foi o quinto álbum, o conceitual Illinois (2005), o responsável por deixar as impressões mais marcantes de sua música – além de ter se tornado um hit na carreira do artista, mais ligado ao universo alternativo.

As canções eram informadas por pesquisas; as melodias, doces e inspiradas. Com sonoridade indie folk pontuada por construções orquestrais e coros complexos, ele criou um pop sofisticado e extraordinariamente criativo que moveu também o álbum seguinte, Age of Adz (2010).

O novo trabalho do cantor e compositor, no entanto, faz olhar para a sonoridade mais plácida de algumas canções do início de carreira e que dá o tom introspectivo e etéreo de Seven Swans ( 2004). Mas parece trazer junto toda a maestria melódica do trabalho de Stevens ao longo dos últimos 15 anos potencializada por uma inspiração devastadora: a morte da mãe, Carrie, em 2012, vítima de câncer no estômago.

Discografia

Veja os principais trabalhos de Sufjan Stevens:

Seven Swans (2004)

O quarto disco tem uma sonoridade a que o novo trabalho de certa forma presta tributos. Menos livre e anárquico que Sun Came (2000), onde a veia folk do cantor já chamava a atenção, Seven Swans aborda temas espirituais e introspectivos com canções delicadas e sonoridade contida – com destaque para o banjo –, embora mais próximo do folk e do pop rock que em Carrie & Lowell. A sonoridade se diferencia bastante da presente no disco anterior, Michigan, em que Stevens já experimenta com dezenas de instrumentos, ritmos ímpares e upbeat, coros e orquestrações.

Illinois (2005)

Também creditado como Sufjan Stevens Invites You To: Come on Feel the Illinoise, o álbum seria uma continuação de um projeto que, mais tarde, o cantor confessaria ter sido uma jogada de marketing: depois de Michigan, de 2003 – um álbum todo dedicado ao imaginário sobre o estado –, Illinois era o segundo de uma série de discos sobre cada um dos 50 estados americanos. Com melodias ainda mais inspiradas que as do trabalho anterior, foi também o mais bem-sucedido comercialmente na carreira de Stevens, com a faixa “Chicago” na trilha sonora do filme Pequena Miss Sunshine (2006).

Age of Adz (2010)

O sexto álbum de Stevens une a arquitetura complexa de suas composições e arranjos a um aprofundamento em seus experimentos eletrônicos – já presentes no denso e dissonante Enjoy Your Rabbit, seu segundo disco, com faixas temáticas sobre o horóscopo chinês. Sob as camadas de sons sintetizados, o compositor já se voltava para questões mais pessoais que em Michigan e em Illinois, marcadamente conceituais.

Lançado em 31 de março, Carrie & Lowell é inteiramente dedicado às memórias e às feridas da relação problemática de Stevens com a mãe.

Carrie sofria de transtorno bipolar e esquizofrenia, teve problemas com drogas e se afastou de Sufjan mais de uma vez – quando ele tinha 1 ano e entre 3 e 4 anos (conforme ele conta em “Should Have Known Better”). Um dos períodos de reaproximação aconteceu quando ela foi casada com Lowell Brams – o padrasto de Stevens que se tornou mais próximo do músico que o próprio pai.

É ele que aparece ao lado dela na imagem da capa do disco, que reproduz uma foto instantânea que parece ter sido achada em uma caixa de sapato, com toda a intimidade que pode representar.

O resultado é uma obra de uma beleza dolorosa, mas transcendental. Tanto pelo caminho espiritualizado tomado por Stevens, que é cristão e faz várias referências à religião, quanto pela delicadeza de suas canções, interpretadas aos falsetes e sussurros, dedilhados delicados, cordas abafadas, sons meditativos.

É por meio destas texturas enternecedoras que o músico trata dos temas mais devastadores, como a morte, que surge concretamente em “Fourth of July”, narrada no leito de Carrie. “É uma ideia tão estranha te enrolar em panos”, canta Stevens, com o mesmo detalhismo e intimidade com que revela pensamentos suicidas (”The Only Thing”) e dispara contra a falta de sentido da própria sublimação artística (”Eugene”).

Carrie & Lowell leva quem se entrega a ele a um mergulho em imagens tristes, do ponto de vista de uma criança e também de um adulto, aos 39 anos, tentando se reconciliar com o passado e com sua própria vida.

“Isso não é meu projeto artístico”, disse Stevens, em uma entrevista ao site Pitchfork, em janeiro. “Isso é minha vida.”

O disco está disponível para streaming no Spotify.

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