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Livro recém-lançado mostra diversidade dos quadrinhos argentinos | Divulgação
Livro recém-lançado mostra diversidade dos quadrinhos argentinos| Foto: Divulgação
  • Liniers, quadrinista de sucesso na Argentina, criou personagem em visita ao Brasil

Foi a leitura de Adolfo Bioy Casares, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar – escritores argentinos – que deu o clique em Lielson Zeni. "Pensei: se os quadrinhos forem na mesma toada, devem ser muito bons." Um amigo próximo fazia a ponte aérea Curitiba–Buenos Aires com frequência, o que facilitou as coisas, trazendo para Zeni – colaborador do portal Universo HQ –historietas e alguns exemplares da revista Fierro, que reúne autores argentinos. "Logo me dei conta de que eram coisas de altíssimo nível. Histórias com personagens fixos e mais longas, coisas que só têm sido feitas no Brasil mais recentemente."

Paulo Ramos, o autor do recém-lançado Bienvenido: um Passeio pelos Quadrinhos Argentinos (Zarabatana Books), defende posicionamento afim. Doutor em Letras e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ele mantém desde 2006 o Blog dos Quadrinhos, espaço em que iniciou a série de reportagens que mais tarde seriam reescritas para o volume de 176 páginas – narrado com farto material gráfico, com reproduções das historietas.

"O que justifica o intercâmbio é que são produções de alta qualidade, adultas, que trazem bons roteiros e desenhos", diz. "É como se o leitor daqui tivesse sido privado, por uma série de fatores, da literatura de um país. Conhecer tal nação passa obrigatoriamente pelo acesso à cultura daquele país. Ganha-se, nunca se perde com isso."

Ramos cita o caso do ilustrador Albert Breccia, "que veio antes e foi melhor que Frank Miller". No Brasil foi publicado pela Conrad o álbum Che: os Últimos Dias de um Herói, ilustrado por ele e roteirizado por Héctor Oesterheld, "o melhor escritor de histórias em quadrinhos do mundo", na opinião de Eugenio Colonnese, outro ilustrador que trabalhou com o roteirista.

Liniers-Liniers-Liniers

A capa de Bienvenido é ilustrada por Liniers. Capas de discos fo­­­ram ilustradas por ele. Liniers, el Trazo Simple de las Cosas, um do­­­cu­men­­tário sobre Liniers, entrou em cartaz nesta quinta-feira na Ar­­gentina (que deve aterrissar no Brasil via circuito de festivais). "Já o vi e achei muito lindo. Um olhar de um artista sobre outro artista", comenta Ricardo Liniers, cujo sobrenome, Siri, ele logo avisa, nada tem a ver com casquinha de siri.

Em Bienvenido, Ramos explica que a repercussão de Liniers no Brasil "ainda é tímida se comparada à vista na Argentina". Mesmo assim, os dois livros da série Maca­­­nudo publicados no país estão entre os mais vendidos da Zara­batana Books. Na Argentina, ele próprio edita seus livros.

Liniers tem 36 anos e uma fala alegre, recheada de brincadeiras. Publicou pela primeira vez por aqui em 1998, na revista bilíngue Olho Mágico/Ojo Mágico, que reuniu quadrinistas de Porto Alegre e Buenos Aires. Ele considera Fábio Zimbres, o editor da publicação, seu desenhista favorito no Brasil. Falando de outro brasileiro, An­­­geli, com quem coabita as páginas do jornal Folha de São Paulo, lamenta que ele não seja conhecido na Argentina. "Sempre achei isso algo muito triste. Ele produz um tipo de humor que nos faz falta aqui", diz.

Tem acompanhado com particular atenção a produção de quadrinhos argentinos na internet. Em seu blog, cita diversos deles, como a turma que faz o Historietas Reales, em que a cada dia da semana diferentes autores publicam histórias de modo continuado. "Blog é uma forma barata, acessível. Tudo o que eu sonhava ter quando era moleque, quando só havia a fotocopiadora." Dos quadrinistas jovens, cita, de pronto, três: Minaverry, editada pela Edi­­torial Común (sua editora), Kios­kerman e Tute.

Sobre o intercâmbio entre os quadrinhos dos dois países entende que se perdeu muito tempo olhando apenas a Europa e os Estados Unidos. "Acho que as coisas estão, lentamente, mu­­­dando", diz. Fala também que a cada desculpa que aparecer, voltará ao Brasil.

El Eternauta

"É uma aventura pura, uma obra-prima. Li quando tinha 12 anos e mudou a minha vida", conta Liniers sobre a descoberta de El Eternauta, que depois de 52 anos de sua publicação na Argentina (1957), segue inédito no Brasil. "Não acreditava que poderia existir algo assim. Foi nesse momento que decidi ser quadrinista", completa. "É o grande clássico dos qua­­drinhos latino-americanos", derrete-se Zeni, citado no início desta matéria.

A narrativa, que trata de um ataque alienígena à Terra, contado a partir de Buenos Aires, é a obra mais conhecida de Oes­terheld, cujas histórias profissional e pessoal – ele e as quatro fi­­­­­lhas foram assassinadas pela Ditadura Militar argentina – têm capítulos à parte no livro de Ramos.

Consultado, o editor da Zara­batana Books, Claudio Martini, que publica Liniers no Brasil, conta que leu El Eternauta e gostou, mas não poderia publicá-lo no momento. "Há outras editoras no Brasil que já demonstraram interesse em publicar a HQ de Oesterheld e do (ilustrador Solano) López e creio que uma edição em português preencheria uma lacuna histórica e teria seu público", diz. (RU)

Serviço:

Na internet: macanudoliniers.blogspot.com

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