• Carregando...
Atores cantam e dançam em Diga Que Você Está de Acordo!, além de falar uma língua inventada. | Deyvison Teixeira/Divulgação
Atores cantam e dançam em Diga Que Você Está de Acordo!, além de falar uma língua inventada.| Foto: Deyvison Teixeira/Divulgação

Quando um escritor estimado deixa algum texto inacabado, pode ter certeza de que muita gente irá se concentrar nele. A curiosidade em torno do que aquilo poderia ter sido estimula adaptações, como acontece com a peça sem desfecho conhecida como Material Fatzer, escrita em fragmentos entre 1926 e 1931 por Bertolt Brecht. Entre outros, o conceituado dramaturgo Heiner Müeller fez uma versão que completa a obra, que ele chamou de O Declínio do Egoísta Johann Fatzer.

A versão que o grupo cearense Teatro Máquina traz durante o Festival de Curitiba, Diga Que Você Está de Acordo! – Máquina Fatzer – transforma aquilo que Brecht deixou, com nova roupagem. “Novos temas precisam de novas formas”, diz a diretora Fran Teixeira, citando Brecht, que por sua vez citava, surpreendentemente, Jesus.

Em conversa com a reportagem por telefone, a partir da distante Fortaleza, Fran contou que o material bruto é composto de cenas abertas, meras indicações do que poderia ser feito no palco. Como num diário pessoal, o dramaturgo alemão deixou registrados não apenas os rudimentos da trama, que se passa durante a Primeira Grande Guerra, mas diversas ideias de rubrica para uma futura montagem, descrições de personagem, teoria teatral, poesia e músicas.

O enredo fala de quatro soldados que desertam e se escondem na casa de um deles, onde está sua mulher. Os cinco personagens, que aguardam uma revolução, vivem em seguida um período tenso de confinamento em que cada decisão precisa ser debatida arduamente – no que, à época, representava uma paródia da formação dos sovietes, os conselhos operários russos pós-revolução. Entre eles, o ex-soldado Fatzer surge como o egoísta do grupo e elemento de conflito.

Diga Que Você Está de Acordo! – Máquina Fatzer

Teatro da Reitoria (R. XV de Novembro, 1.299), (41) 3360-5066. Dias 1º e 2 de abril às 21 horas. R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada). Classificação indicativa: 18 anos.

Na montagem que teremos dias 1.º e 2 de abril no Teatro da Reitoria, a dificuldade de comunicação é expressada por uma “nova forma”, também ela uma homenagem a Brecht. Trata-se do idioma falado pelos personagens, que é uma língua inventada. O exercício perdura por todo o espetáculo.

“O grupo Máquina se atém mais ao lado formal e gestual de Brecht, não diretamente ao político”, diz Fran, referindo-se ao traço politizado, comumente destacado nas peças do alemão. “Esse é um autor instigador do nosso trabalho, mas não fazemos teatro engajado, nem ‘brechtiano’”.

Além de dança e música, que eram frequentes no teatro de Brecht, existe espaço para o improviso, algo que acrescenta um elemento de risco às apresentações.

O resultado é um misto de diversão com tensão, em se tratando de um tema pesado como a guerra.

O trabalho com o material original da peça fez parte da pesquisa do doutorado de Fran. Durante o processo de construção do espetáculo, o grupo Máquina teve o apoio de artistas brasileiros e alemães, a partir do Prêmio Funarte Myriam Muniz 2013 de estímulo a novas montagens. A peça que agora circula pelo país comemora os 10 anos do grupo cearense.

“Nosso espetáculo não retrata apenas quatro soldados confinados. É muito mais sobre o acordo e sobre o que nos resta. Sobre esse lugar sombrio que revela a natureza, revela o que pensamos termos construído como humanidade, revela o que não podemos entender como homens, o que não queremos saber”, afirma Fran.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]