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O Capital Inicial tenta subverter a onda atual do rock nacional, que “ficou muito bonzinho” para os integrantes da banda | Divulgação
O Capital Inicial tenta subverter a onda atual do rock nacional, que “ficou muito bonzinho” para os integrantes da banda| Foto: Divulgação
  • Lançamento: Saturno. Capital Inicial. Universal Music, R$ 24,90

Alguma coisa está fora da ordem: enquanto as paradas são dominadas por padres, sertanejos e pagodeiros e as listas de músicas mais baixadas no país oscilam entre Paula Fernandes, Adele, Psy e Roberto Carlos (!), quem estufa o peito e empunha a bandeira da rebeldia e do inconformismo – ainda que a bordo de uma grande gravadora, a Universal – são os tiozões do Capital Inicial, quase todos na faixa dos 50 anos de idade. Saturno, o 16.º álbum da banda brasiliense, lançado oficialmente ontem, é basicamente "fora de moda": guitarras distorcidas, baixo, bateria, referências ao cinema e à literatura, indignação e protesto. Ou seja, um disco de rock – com direito inclusive a punk ("Saquear Brasília") e hard ("Apocalipse Agora" e "O Cristo Redentor").

"Esse disco é uma reafirmação dos valores que nos levaram a virar músicos, a querer montar uma banda de rock", contou por telefone o baterista Fê Lemos. "Procuramos recuperar o espírito do início dos anos 1980, quando estávamos ouvindo Sex Pistols, The Clash, Ramones e queríamos causar algum incômodo. Talvez esse seja o pano de fundo, resgatar aquele rock-and-roll mais contundente. Queríamos fazer barulho, tocar alto, mas sem deixar de lado a crítica social, os dilemas existenciais e as letras de protesto, que fizeram parte do Aborto Elétrico [banda punk na qual Fê tocava com o irmão Flávio e com Renato Russo] e também estavam nos primeiros discos do Capital."

Ele constata que, com o passar dos anos, essa raiva se "diluiu": "A esperança que tínhamos dez anos atrás, quando finalmente um operário chegou ao poder no Brasil, de que novas práticas políticas seriam adotadas, acabou frustrada: os costumes políticos estão tão ruins ou ainda piores do que sempre foram, a educação continua uma lástima, e ainda há muita miséria urbana", enumera o baterista. "Para completar, como cantava o Cazuza, nossos inimigos continuam no poder. Esse estado das coisas transparece no disco, que é mais melancólico, perturbado, sofrido."

E não soa esquisito cinquentões bem-estabelecidos vociferando contra os poderosos de Brasília? "Existe uma certa anestesia, as pessoas não estão muito interessadas em pensar, você não vê a juventude indagando ou questionando nada, o que é muito bom para quem está no poder", teoriza Fê Lemos. "Você vê um país festejando, indo atrás da última dancinha da moda, falando de bebedeira e mulherada, que é o zeitgeist [espírito do tempo] dessa geração. E o rock nacional deste início de século ficou muito bonzinho... o mundo não é tão cor-de- rosa, e esse disco é para os roqueiros não perderem a fé nas bandas de rock brasileiras."

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