• Carregando...
 |
| Foto:

Alfabeto

O órgão dominante da orientação sensorial e social nas sociedades anteriores ao alfabeto era o ouvido: "ouvir para crer." O alfabeto fonético obrigou o mundo mágico do ouvido a ceder terreno ao mundo neutro do olho. O homem trocou o ouvido pelo olho. A História ocidental foi modelada durante três mil anos pela introdução do alephbet fonético, um meio que depende apenas do olho para a compreensão. O alfabeto é uma construção de peças e partes que em si não possuem nenhum significado semântico e que devem ser encadeadas numa linha, como um colar, e numa ordem prescrita. Seu uso criou e encorajou o hábito de perceber todo o ambiente visual e espacial — particularmente em termos de um espaço e de um tempo uniformes, c,o,n,t,í,n,u,o,s e c-o-n-e-x-o-s. A linha, o continuum, tornou-se o princípio organizador da vida. "Racionalismo" e lógica vieram a depender da apresentação de fatos ou conceitos encadeados e sequenciais. A fragmentação das atividades, nosso hábito de pensar em partes e pedaços — o "especialismo" — refletem o processo linear e gradual de departamentalização inerente à tecnologia do alfabeto.

Automóvel

O carro tornou-se a carapaça, a concha protetora e agressora do homem urbano e suburbano. Mesmo antes do Volkswagen, observadores situados acima do nível da rua já haviam notado a semelhança dos carros com insetos de carapaça reluzente. Na era do mergulhador com sua roupa colante de borracha, a carapaça dura e luzidia é uma das marcas mais sinistras que atestam contra o automóvel. Foi para o homem motorizado que os shopping plazas emergiram. São estranhas ilhas que fazem o pedestre sentir-se sem amigos e vazio. O carro, em uma palavra, remodelou completamente todos os espaços que unem e separam os homens.

Cinema

Filmes como uma forma de experiência não verbal são como fotografias, uma forma de declaração sem sintaxe. Na verdade, como na imprensa e na foto, os filmes assumem um alto nível de alfabetização entre seus usuários e se mostram desconcertantes aos iletrados. Nossa aceitação letrada do mero movimento do olho da câmera enquanto segue ou faz desaparecer uma figura de nossa visão não é aceitável para uma audiência africana. Se alguém desaparece do quadro da tela, o africano quer saber o que aconteceu com aquela pessoa.

Escrita

A pena de ganso acabou com a fala. Aboliu o mistério. Produziu a arquitetura e as cidades. Fez nascerem estradas e exércitos, a burocracia. Foi a metáfora básica com que começou o ciclo da civilização, o degrau das regiões escuras rumo às regiões claras da mente. A mão que enchia a página de pergaminho construiu uma cidade.

Fala

Até a invenção da escrita, o homem vivia no espaço acústico: ilimitado, sem direções, sem horizontes, no escuro da mente, no mundo da emoção, pela intuição primordial, pelo terror. A fala é um mapa social desse pantanal.

Imprensa

A imprensa confirmou a ampliou a ênfase visual iniciada pela escrita. Forneceu o primeiro produto que se podia repetir uniformemente, a primeira produção em massa, em linha de montagem. Criou o livro portátil, que os homens podiam ler na intimidade, isolados uns dos outros. O homem podia agora inspirar – e conspirar. Como a pintura de cavalete, o livro impresso acrescentou muito ao novo culto do individualismo. O ponto-de-vista particular, fixo, tornou-se possível e a alfabetização veio conferir o poder de desligamento, de não-envolvimento.

Meios

Todos os meios de comunicação atuam completamente sobre nós. São tão penetrantes em suas consequências políticas, econômicas, estéticas, psicológicas, éticas e morais que não deixam de tocar, afetar ou alterar toda parte de nós. Todos os meios são extensões de alguma faculdade humana ou psíquica. A RODA É UMA EXTENSÃO DO PÉ. O LIVRO É UMA EXTENSÃO DO OLHO. A ROUPA É UMA EXTENSÃO DA PELE. OS CIRCUITOS ELETRÔNICOS SÃO UMA EXTENSÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL. Os meios de comunicação, alterando o meio ambiente, evocam em nós relações singulares de percepção sensorial. A extensão de qualquer de nossos sentidos altera nossa maneira de pensar e de agir — nossa maneira de perceber o mundo. Quando essas relações mudam, OS HOMENS MUDAM.

Tecnologia sonora e visual

Um breve resumo dos acontecimentos tecnológicos relacionados ao fonógrafo: o telégrafo traduziu a escrita em som, um fato diretamente relacionado com a origem do telefone e do fonógrafo. Com o telégrafo, as únicas paredes deixadas foram as paredes vernáculas que a fotografia, o cinema e a telefoto sobrepujam tão facilmente. A eletrificação da escrita foi quase um passo tão grande para o espaço não-visual e auditivo quanto os passos dados depois pelo telefone, pelo rádio e pela tevê.

O telefone: fala sem paredes.

O fonógrafo: music hall sem paredes.

A fotografia: museu sem paredes.

A luz elétrica: espaço sem paredes.

O cinema, o rádio e a tevê: sala de aula sem paredes.

O homem, o coletor de comida, reaparece incongruamente como coletor de informação. Nesse papel, o homem eletrônico é não menos um nômade do que seus ancestrais paleolíticos.

Zodíaco

O homem tribal está hermeticamente fechado numa consciência coletiva integral que transcende as fronteiras convencionais de tempo e espaço. Como tal, a nova sociedade será uma sociedade de integração mítica, um mundo ressonante similar à velha câmara de eco tribal onde a mágica voltará a viver: um mundo de ESP (percepção extra-sensorial). O interesse atual da juventude pela astrologia, clarividência e pelo ocultismo não é nenhuma coincidência. A tecnologia eletrônica não requer palavras assim como um computador digital não requer números. A eletricidade torna possível — e não no futuro distante — uma amplificação da consciência humana, sem qualquer tipo de verbalização.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]