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Show no Theatro Municipal do Rio de Janeiro contou com participação especial de Roberto Carlos | Claudia Ebert/ Divulgação
Show no Theatro Municipal do Rio de Janeiro contou com participação especial de Roberto Carlos| Foto: Claudia Ebert/ Divulgação

"Quando era criança, queria ser fuzileiro naval. Conhecia um cara que usava farda e achava aquilo bonito. Por um momento, também quis ser correspondente de guerra. Mas aí cresci e vi que era muito perigoso."

Erasmo Carlos, músico.

Lançamento

Erasmo Carlos – 50 Anos de EstradaAo Vivo no Theatro Municipal.

Coqueiro Verde Records. R$ 19,99 (CD) e R$ 24,99 (DVD). Rock.

Ele se arrepende de não ter uma tatuagem. "Queria algo pequenininho, bonitinho". Erasmo Carlos também queria ter aprendido a andar de moto – talvez para impressionar uns brotos por aí. Outro desejo não realizado em 70 anos de vida e 50 de carreira foi o de tocar guitarra "muito bem, tocar demais". Mas aí, se esse último pedido tardio se realizasse, talvez Erasmo não fosse quem é.

Ao completar 50 anos de estrada – "hoje em dia não pega bem escrever ‘carreira’, bicho" – Erasmo Carlos confirma seu lugar na história da música brasileira valorizando aquilo que sempre o fez único: simplicidade e serenidade, características marcantes de um sujeito bonachão e despojado que nunca deixou a jaqueta de couro de lado. Nem mesmo quando gravou ao vivo no pomposo Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em julho do ano passado, o DVD e CD 50 Anos de Estrada, lançados agora pela Coqueiro Verde.

No repertório do show – são 20 músicas – uma síntese expressiva de toda a sua obra. Cantando ao lado da jovem banda Filhos da Judith, o Tremendão empolga com "Negro Gato" e emociona com "Mais um na Multidão", em que Marisa Monte participa. Histriônico é o momento em que Roberto Carlos sobe ao palco para dividir os vocais de "Parei na Contramão" e "É Preciso Saber Viver" porque, detalhe: a jaqueta de Erasmo é marrom.

"Tem o TOC [Transtorno Obssessivo-compulsivo], né. Mas nessas horas...", desconversa Roberto, que foge do marrom como o diabo da cruz. A maneira como a dupla de compositores mais prolífica do Brasil se reuniu denuncia o vão que há entre os, vamos lá, Lennon e McCartney brasileiros, criado desde que Roberto deixou o rock e seguiu uma estrada mais "família". "O convite partiu da minha produção, não foi nem meu. Não fiz nada", diz Erasmo, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo.

Em português

O rapazote que aos vinte anos passava "gumex" nos cabelos para ficar parecido com Elvis Presley teve importância fundamental na consolidação do rock brasileiro. Erasmo Carlos traduziu, literalmente, toda uma geração.

"Eu perdi o medo de cantar rock em português. Isso influenciou bastante a geração roqueira dos anos 80, por exemplo. Quando fazia covers ou cantava em inglês, me sentia um papagaio, imitando o intérprete original", conta Erasmo, que nos anos 60 montou a banda The Snakes e participou dos Sputniks, grupo do qual Tim Maia era vocalista. "O Cauby Peixoto, por exemplo, até tentou também. Mas não era especialista, não deu certo", gaba-se o Tremendão.

Apesar de ter se reinventado – basta comparar a balada "Largo da Segunda-Feira" com a incendiária "Quero Que Vá Tudo pro Inferno" – o gene roqueiro de Erasmo permaneceu, mesmo com "ameaças" como a bossa nova. "Como sou compositor brasileiro, sofri um monte de influências de ritmos. Aqui no Rio sofro muito com isso por causa do samba. Antes de Rock’n Roll (2009), estava indo para a MPB, aí pensei: ‘tô deixando minhas raízes, um lugar que é meu.’"

Ser um rockstar, mesmo com 70 anos, tem das suas. Erasmo conta que se entrar em um aeroporto e andar devagar, está condenado a perder o voo. Serão poucos os que não irão pedir um autógrafo ou uma foto ao seu lado. "E aí nunca sai na primeira foto, tem que ter mais uma para garantir, e aí outra em uma posição diferente, tem os que piscam na hora H. Não é um porre, mas às vezes incomoda", desabafa. "Chato também é hotel, pegar mala, despachar mala, comer mal. Mas tudo bem, fazer show e pisar no palco compensa".

Cágado

Nascido em um bairro de classe média da zona sul do Rio de Janeiro, Erasmo diz que vivia "pobre e feliz, em perfeita harmonia com gatos, um cágado, 15 periquitos e as outras pessoas que moravam lá". O relato está em Minha Fama de Mau (2009), sua autobiografia. Mas, se antes eram bichos, hoje é a internet que distrai o Tremendão – que de mau mesmo só tem a fama.

"Sempre evitei usar minhas músicas como forma de protesto, mas faço isso nas redes sociais. Estou com o Twitter aberto aqui, aliás. Às vezes me surpreendo, porque fico no computador até de madrugada, ou ligo ele de manhãzinha, antes de qualquer coisa. Preciso disso, vou fazer o que?".

Erasmo completa 71 anos no próximo dia 5, e responde com segurança o que é preciso para saber viver. "Jogo de cintura para enfrentar os caminhos da vida. Sorte pra caramba e muito amor pra dar."

Momentos depois, quase surta quando ouve a palavra aposentadoria". "O que é isso?!", grita ao telefone. E tem uma tirada de mestre quando é questionado sobre a sua melhor composição."Não sei dizer, bicho. São mais de 600. Imagina se você tivesse 600 mulheres. Conseguiria escolher uma?"

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