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Registrar é preciso. Principalmente quando o assunto é o rock curitibano, muito comentado e pouco ouvido. Enquanto a indiferença do grande público persiste (ou o problema seria das bandas, incapazes de se comunicar além das garagens?), quem produz música por aqui tem a "obrigação histórica" de deixar um legado para a posteridade. Vai que, daqui há dez, 20 anos, alguém se interesse pelo efervescente underground curitibano das últimas duas décadas?

Popular ou não, o fato é que a cena roqueira da cidade vê o surgimento de novos grupos a cada semana. Observador atento dessa movimentação, o videomaker Marcelo Borges faz mais do que acompanhar os passos dos artistas locais. Desde o início dos anos 90, ele fotografa e filma shows realizados nos porões, com ênfase no já lendário Espaço Cultural 92 Graus, pedra fundamental do "moderno" rock curitibano. Seu currículo também inclui vídeos experimentais, documentários, clipoemas e videoclipes – entre eles "Resist Control", das extinta banda homônima, exibido durante algum tempo pela MTV.

Dono de uma acervo considerável, Borges, hoje radicado em Londres, acaba de dar um presentão para a cultura da cidade. "Publicou" nada menos do que 101 vídeos no site You Tube, portal audiovisual festejado como um marco da internet (leia quadro). São registros de shows, clipes e exemplares de sua produção como videoartista, que compõem um expressivo panonarama do underground curitibano dos últimos 15 anos. Não se trata de uma coleção abrangente, no sentido de contar com artistas de todas as tribos, mas, certamente, engloba boa parte das criações mais interessantes já vistas e ouvidas por estes lados.

Exemplos não faltam, a começar pelos clipes. A cultuada banda Jully et Joe, por exemplo, aparece no You Tube com seu primeiro vídeo, datado de 1991. Mas há também trabalhos mais recentes, como os produzidos para os grupos Poléxia, Sofia, Íris, Limbonautas, OAEOZ e Magnéticoss (com dois "esses" mesmo). Outra boa leva dá conta do projeto Única Coisa, que promoveu o encontro de Borges com o músico Lucio Machado e o poeta Amarildo Anzolin. No início da década, o trio lançou um elogiado pacote de vídeos experimentais – todos disponíveis no portal.

O grosso da coleção, no entanto, são os registros do festival anual Rock de Inverno, que desde 2000 escala bandas de vários estilos para duas (às vezes três) noites de apresentações. A lista de artistas é enorme: Relespública, Cores D Flores, Plêiade, Loxoscelle, Trio Quintina, Zaius, Svetlana, Pelebrói Não Sei?, Magog, Excelsior, AAAAAA Malencarada, Quisto, Zeitgeist Co., Loaded, Criaturas, Zigurate... Sem contar os grupos de outros estados que passaram pelo evento (Hurtmold, Pipodélica, Casino, etc.) e até uma atração internacional (o conjunto britânico Transgargo). Faltam datas específicas e outras informações relevantes, mas nada que não possa ser aperfeiçoado.

Mais conhecido nas internas como "Marcelinho", o videomaker se alterna entre vários trabalhos para sobreviver na Inglaterra. Além de filmar e fotografar, faz serviços de carpintaria e ilumina performances de bandas e DJs em casas noturnas londrinas. Nas horas vagas, viaja pela Europa. Neste exato momento, deve estar em trânsito entre a Polônia e a Rússia, num tour previsto para terminar na Alemanha, em plena final da Copa da Mundo. Enquanto ele não volta, alguém se habilita a registrar o que anda acontecendo por aqui? A cena agradeceria.

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