Microfones de mão dupla

• 0

Arlete não para. Tem um caderno recheado com o nome das músicas que os ouvintes das rádios 98 FM e Mundo Livre FM querem ouvir. Em seis horas de trabalho por dia, atende mais de cem telefonemas. "Todos simpáticos", garante a recepcionista. Em tempos férteis na área das comunicações, parece que o veículo nunca irá perder espaço. Seja levando música, notícias ou entretenimento.

Foi ao som da banda Kings of Leon que a jornalista Margot Bissi conversou com a reportagem da Gazeta do Povo. Margot é a voz da Mundo Livre das 11 às 16 horas. Entre uma música e outra, insere notícias da área cultural que considera relevante.

"Esses dias fui até a rodoviária e um moço perguntou se eu era locutora e eu disse sim; se eu era a Margot, e eu disse sim. Ele me reconheceu pela voz. Existe uma intimidade, que ele tem comigo, mas não eu com ele", explicou a jornalista, antes de deixar uma música dos australianos do Spy vs. Spy no ponto.

Edson Jansen, coordenador de programação da caçula Mundo Livre (a rádio existe há pouco mais de um ano), entrou no estúdio logo depois. Por ser também locutor da 98 FM (criada há duas décadas), Jansen, de 39 anos, já sente o ouvinte bem mais perto.

"Na 98 há mais envolvimento. Recebemos visitas aqui na rádio. As pessoas chegam, dão presentes, te abraçam como se você fosse a pessoa mais íntima do mundo. É uma relação bem passional e interessante", disse o radialista, que iniciou carreira há 21 anos como telefonista, tal qual Arlete Bentivoglio – a do caderninho – citada no início desta reportagem.

A proximidade com o público também se dá de outras formas. Todos os sábados, em um palco montado na Praça Espanha, a Mundo Livre promove minishows com bandas de Curitiba. "É preciso cativar sempre", justifica-se Jansen, que ressaltou a magia do meio. "O rádio desperta a fantasia, por isso ele é forte. Eu vejo no rádio um companheiro de todos os dias".

Companheiro que acorda cedo. Desde 2003, a partir das 7 horas, o programa 91 Minutos – antes se chamava 96 Minutos – está no ar, trazendo opinião, histórias de Curitiba e muito bom humor. Apresentado pela advogada e psicóloga curitibana Maria Rafart, é um dos líderes de audiência no horário.

"Na época em que foi criado, o espaço jornalístico em uma rádio de rock era raro. Então surgimos como novidade", conta Maria, também autora de livros de autoajuda para mulheres recém-separadas. Hoje são dois temas diários, 25 comentaristas e cerca de 350 participações de ouvintes nas duas horas em que o programa está no ar.

"Minha maneira de fazer é sempre assim: penso no que interessa ao maior número de ouvintes", explica.

Embora saiba o segredo para estar com o humor tinindo mesmo às 7 horas ("Vou cantando no caminho até a rádio"), ainda faltam soluções para os convidados mais preguiçosos. Há quem não ache a rádio, quem não atenda o celular e, claro, os artistas. Esses, casos perdidos. "Não adianta convidar porque tão cedo eles não vêm mesmo", garante, sorrindo.

Dentre as 33 rádios registradas de Curitiba (12 FMs e 21AMs), duas têm somente notícias em sua programação.

A CBN foi a pioneira nesse modelo, e foi ao ar pela primeira vez em 5 de maio de 1995. Já a Band News surgiu no final de 2005.

"As pessoas pensavam que iria ser parecida com a Voz do Brasil", diz José Wille, diretor de jornalismo da CBN Curitiba, que enfatiza a importância do ouvinte.

"O essencial das opiniões, por mais estranhas que sejam, nós procuramos citar. É forma de estimular outras participações", explica o jornalista, que hoje comanda uma equipe de 12 profissionais.

E para Wille, a forma de se aproximar de seu ouvinte se dá justamente ao relembrar a função básica do jornalista.

"A nossa relação com a comunidade é termos repórteres nas ruas."