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Carlos Vereza encarna um misto de narrador e alter ego do escritor Valêncio Xavier | Cris Lemos
Carlos Vereza encarna um misto de narrador e alter ego do escritor Valêncio Xavier| Foto: Cris Lemos

Há algo notável em Mistéryos, longa-metragem paranaense exibido na 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Os diretores Beto Carminatti e Pedro Merege, ao adaptar a literatura do escritor Valêncio Xavier, conseguiram transpor para a tela uma Curitiba, quase sempre oculta aos olhos contemporâneos, que foge dos clichês semeados pelo marketing político nas últimas décadas. Há autenticidade nos sotaques fortes, com toques eslavos; nos paralelepípedos úmidos pelo sereno da madrugada; no casario em estilo arquitetônico eclético, que data do fim do século 19; e num peculiar provincianismo entranhado em seus habitantes. Não é pouco.

O filme procura fazer uma transposição fiel de cinco narrativas contidas no livro O Mez da Grippe e Outras Histórias, lançado pela editora Companhia das Letras. Esse respeito quase literal pode atrapalhar o filme, criando um certo distanciamento perigoso entre o que está sendo mostrado na tela e o público, que por vezes parece perder o fio da meada, sem compreender aonde o longa pretende chegar. Essa limitação, contudo, é compensada, em outros momentos, também pela capacidade de entendimento do universo de casos policiais não-resolvidos, filmes pornográficos desaparecidos e almas notívagas de Valêncio, encarnado em Mistéryos por um misto de alter-ego do autor e narrador, vivido por Carlos Vereza, .

Quem assistiu a curtas-metragens de Carminatti, como A Deus Menino e Eternamente, sabe que seus filmes são muito bem-cuidados do ponto de vista visual. Em Mistéryos, essa marca também se faz presente. Dos belos créditos e grafismos à cuidadosa fotografia de Alziro Barbosa.

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