Dercy Gonçalves de calças
Agência O Globo
Com vasto trabalho na TV, no teatro e no cinema, Jorge Dória tinha uma legião de admiradores entre os colegas. Veja algumas declarações:
Mauricio Sherman, diretor de TV: "O rei do caco. Ele tinha uma naturalidade extrema, uma maneira de representar muito própria. Ele beirava um pouco o exagero, mas que ficava bem nele, dava resultado. Alguns o chamavam até de Dercy Gonçalves de calças. Estreamos em teatro no mesmo ano, 1951, ele na companhia da Eva Todor e eu na do Graça Mello. Disputamos o título de ator revelação do ano e eu ganhei. A gente brincava muito com isso, desde essa época nós ficamos amigos, trabalhei com ele na Tupi, na Globo. O Dória era uma pessoa encantadora e muito criativo, e sempre foi muito namorador."
Diogo Vilela, ator: "O Jorge é um dos maiores atores brasileiros que já existiram. Ele tinha uma capacidade de ser emotivo sem ser piegas, que é a coisa mais difícil do mundo. Tinha uma capacidade histriônica e de improviso fora do comum. Fez Moliére, fez grandes personagens no teatro, no cinema e na televisão. Tive a honra de conhecê-lo aos 17 anos. Conheci vendo ele em cena em A Gaiola das Loucas. Nunca tinha visto um ator daquele tipo. Estou muito emocionado e acho que é uma lacuna que ele deixa na cultura e no teatro brasileiro."
O ator Jorge Dória morreu às 15h05 de hoje (6), aos 92 anos, após complicações cardiorrespiratórias e renais. Ele estava internado no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Barra D'Or, na zona oeste do Rio, desde o dia 27 de setembro.
Dória havia dado entrada no hospital com um quadro de pneumonia, que se agravou. Vítima de um acidente vascular encefálico em 2004, estava sem atuar desde então. Até o momento não havia informações sobre seu velório e seu enterro.
Carioca, nascido em Vila Isabel (zona norte do Rio) em 12 de dezembro de 1920, Jorge Pires Ferreira adotou o sobrenome Dória ao iniciar sua vida artística, na década de 1940, na Companhia Eva Todor de teatro, à qual permaneceu filiado por quase dez anos.
Sua primeira participação foi no cinema, como coadjuvante em "Mãe" (1947), filme baseado em uma rádio-novela de sucesso da época. Dória participou de mais de 20 filmes ao longo da carreira.
Estreou na extinta TV Tupi em 1970, na novela "E Nós, Aonde Vamos?", da cubana Glória Magadan. Três anos depois, foi para a Rede Globo, onde participou de 16 novelas --entre seus papéis de destaque está o Conselheiro Vanoli em "Que Rei Sou Eu?" (1989)-- e marcou presença em humorísticos, como a primeira versão de "A Grande Família" (1973) e "Zorra Total". No teatro, ele dizia ter encontrado o caminho para atrair o público.
"Se vou fazer uma peça argentina, traduzida por um cearense, adaptado por um gaúcho e dirigida por um italiano, aí, meu filho, sai da frente, porque vou fazer miséria. Faço monólogos que não existem, jogo os fatos do dia em cena, pinto e bordo, faço o público gargalhar, e a peça que era uma merda, fica um ano em cartaz", disse Dória, em entrevista ao jornalista Simon Khoury, publicada em uma coleção de livros sobre o teatro brasileiro.
No mesmo depoimento, Dória falou sobre a intensidade do improviso em suas atuações. "Quando entro em cena, baixa o santo! Vou em frente, porque a meta principal é divertir o público. Em cena não sou o Jorge Dória, sou o personagem, e esse personagem tem vida própria, não posso detê-lo. Às vezes, faço um monólogo que tem três minutos e no dia seguinte faço o mesmo monólogo em doze minutos. Nunca sei o que vai acontecer."
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