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Recentemente premiada com o Man Booker International Prize, a norte-americana Lydia Davis é uma das atrações mais aguardadas desta edição | Divulgação
Recentemente premiada com o Man Booker International Prize, a norte-americana Lydia Davis é uma das atrações mais aguardadas desta edição| Foto: Divulgação
  • Conde: visibilidade a autores pouco conhecidos no Brasil

No último dia 10 de junho, quando começaram as vendas de ingressos para a Festa Literária Internacional de Paraty 2013 (Flip), que se inicia na quarta-feira, 3 de julho, as primeiras mesas a terem seus bilhetes esgotados foram aquelas com perfil multidisciplinar. Ou seja, aquelas que não vão abordar temas estritamente ligados à literatura. Entre elas, Culturas Locais e Globais, com a historiadora Marina de Mello e Souza e o compositor Gilberto Gil; Lendo Pessoa à Beira-mar, que tem participação da cantora Maria Bethânia e da poeta, estudiosa de literatura e integrante da Academia Brasileira de Letras Cleonice Berardinelli; e Uma Vida no Cinema, encontro do cineasta Nelson Pereira dos Santos com a cantora Miúcha.

Em entrevista à reportagem da Gazeta do Povo, por telefone, o curador da Flip 2013, o jornalista e crítico Miguel Conde, que já desempenhou essa função na edição do evento no ano passado, disse que a grande procura por ingressos para essas mesas era esperada, uma vez que elas reúnem personalidades importantes e conhecidas da cultura brasileira. Ele diz que, desde a sua origem, a Flip, que vai até dia 7 de julho, sempre buscou dialogar com outras manifestações artísticas. Portanto, não há exatamente um novo direcionamento na programação nesse flerte com outros campos, e sim a intensificação da conversa com essas áreas. E tudo dentro de uma coerência curatorial, é claro.

Cinema

Em se tratando de cinema, por exemplo, a mesa que reunirá Nelson Pereira dos Santos e Miúcha, de certa maneira, acabará abordando a grande importância que a obra do escritor alagoano Graciliano Ramos, autor homenageado pela Flip 2013, tem na filmografia do cineasta, um dos nomes fundamentais da geração do cinema novo. Por duas vezes, o diretor de Rio 40 Graus se dedicou à obra de Graciliano, levando às telas os romances Vidas Secas, escrito entre 1937 e 38 e filmado em 1963; e Memórias do Cárcere, obra autobiográfica publicada postumamente, em dois volumes, no ano de 1953, e apenas transformada em longa-metragem 31 anos mais tarde, com Carlos Vereza no papel do escritor.

Os dois filmes, assim como São Bernardo, outra adaptação de Graciliano, assinada por Leon Hirzman, serão lançados pelo Instituto Moreira Salles durante a Flip em uma caixa de DVDs.

Vale lembrar que a conferência de abertura da Flip neste ano será proferida, na noite de quarta-feira, pelo escritor Milton Hatoum, e terá como título Graciliano Ramos: Aspereza do Mundo e Concisão da Linguagem. Professor de Literatura, o autor amazonense de Dois Irmãos e Cinzas do Norte é grande estudioso da obra do alagoano

Coutinho

No sábado, dia 6, ao meio-dia, com mediação do cineasta Eduardo Escorel, a Flip abrirá espaço para outro monumento do cinema nacional: o documentarista Eduardo Coutinho (de Cabra Marcado para Morrer e Jogo de Cena), que completa 80 anos. Em comemoração ao diretor, a editora Cosac Naify publicará, especialmente para a ocasião, um pequeno livro, com tiragem de apenas 200 exemplares, que reúne uma faceta esquecida de Coutinho: a de crítico de cinema, ofício que exerceu entre os anos de 1973 e 1974 nas páginas do Jornal do Brasil. O livreto traz ainda um texto raro de Coutinho sobre o documentário, escrito a pedido do crítico Paulo Paranaguá para o festival francês Cinéma du Réel. Há também ensaios sobre sua obra escritos por Ferreira Gullar, João Moreira Salles e Eduardo Escorel.

Destaques

No âmbito mais estritamente literário, Conde diz que, embora prefira não destacar um ou outro participante, está especialmente feliz por contar neste ano com a participação de escritores que admira muito, mas que ainda não são conhecidos no Brasil.

O curador se mostra bastante entusiasmado com a presença da contista Lydia Davis, que recentemente recebeu o Man Booker International Prize, que distingue escritores vivos de todo o mundo.

A escritora, dona de uma literatura concisa e surpreendente, acaba de ter lançado no Brasil, pela Companhia das Letras, o volume de ficções Tipos de Perturbações. "Ela é uma autora extremamente inventiva, que diz muito em muito pouco, sempre surpreendendo o leitor", diz Conde. Lydia Davis participa, no sábado, às 17 horas, da mesa Os Limites da Prosa, ao lado do escritor irlandês John Banville.

Conde também cita, com entusiasmo, a participação do francês Laurent Binet, autor de HHhH, que venceu em 2012 o prêmio Goncourt na categoria de melhor obra de estreia, láurea máxima da literatura na França. O livro, também lançado pela Companhia das Letras, mistura ficção e história para reconstituir o atentado que assassinou, em 1942, na cidade de Praga, o general alemão Reinhard Heydrich, um dos cabeças da SS, organização paramilitar encarregada das maiores atrocidades cometidas pelo Nazismo antes e durante a Segunda Guerra Mundial. "Acho que esse livro é incrível e não teve a atenção devida quando saiu no Brasil ano passado. A Flip talvez lhe dê uma outra chance junto aos leitores daqui."

Também da França viria, na condição de grande astro da Flip em 2013, o polêmico Michel Houllebecq, autor de Partículas Elementares e O Mapa e o Território (Editora Record). O escritor cancelou sua participação na última quarta-feira, alegando motivos pessoais.

Agenda

Confira a programação completa da Festa Literária Internacional de Paraty:

3/7 – Quarta-feira:

19h – Graciliano Ramos: Aspereza do Mundo e Concisão da Linguagem, com Milton Hatoum

21h30 – Show de Gilberto Gil

4/7 – Quinta-feira:

10h – O Dia a Dia Debaixo d’água – Alice Sant’Anna, Ana Martins Marques e Bruna Beber

12h – As Medidas da História – Paul Goldberger e Eduardo Souto de Moura

14h30 – Culturas Locais e Globais – Marina de Mello e Souza e Gilberto Gil

17h15 – Formas da Derrota – José Luiz Passos e Paulo Scott 19h30 – Olhando de Novo para "Guernica", de Picasso – T. J. Clark

5/7 – Sexta-feira:

10h – Graciliano Ramos: Ficha Política – Randal Johnson, Sergio Miceli e Dênis de Moraes

12h – O Prazer do Texto – Lila Azam Zanganeh e Francisco Bosco

15h – A Vida Moderna em Kafka e Baudelaire – Roberto Calasso e Jeanne Marie Gagnebin

17h15 – Ficção e Confissão – Tobias Wolff e Karl Ove Knausgard

19h30 – Lendo Pessoa à Beira-mar – Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli

21h30 – Uma Vida no Cinema – Nelson Pereira dos Santos e Miúcha

6/7 – Sábado:

10h – Maus Hábitos – Nicolas Behr e Zuca Sardan

12h – Encontro com Eduardo Coutinho

15h – O Espelho da História – Aleksandar Hemon e Laurent Binet

17h15 – Os Limites da Prosa – John Banville e Lydia Davis

7/7 – Domingo:

11h – Graciliano Ramos: Políticas da Escrita – Wander Melo Miranda, Lourival Holanda e Erwin Torralbo Gimenez

13h – Tragédias no Microscópio – Daniel Galera e Jérôme Ferrari

15h – Literatura e Revolução – Tamim Al-Barghouti Mamede e Mustafa Jarouche

17h – A Arte do Ensaio – Geoff Dyer e John Jeremiah Sullivan 18h45 – Livro de Cabeceira – Vários autores

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