| Foto: Truls/Wikimedia Commons

Lançado na primeira metade deste ano pelo selo sueco BIS, o álbum “Alma Brasileira”, de Radamés Gnattali, recebeu críticas europeias muito elogiosas.

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Uma delas, assinada por William Yeoman na sisuda revista inglesa “Gramophone”, começa com uma espécie de puxão de orelhas nos músicos e no público: “A música do prolífico pianista, compositor e arranjador Radamés Gnattali (1906-1988) tem tal fluência e é tão atraente que é difícil acreditar que essas qualidades se voltaram contra o reconhecimento do músico como um artista sério durante sua vida e mesmo após sua morte”.

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Realmente, muita gente ligada à música clássica, torce o nariz quando ouve falar o nome do compositor, principalmente, o que é estranho, aqui no Brasil.

A “fluência” que o crítico inglês destaca se deu tanto no setor popular quanto no setor clássico, e muitas vezes Gnattali é comparado ao americano George Gershwin (1898-1937) por sua versatilidade nos dois estilos.

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O maestro Osvaldo Colarusso escreve o blog “Falando de Música

No entanto o genial George Gershwin nunca explorou um setor da música clássica onde o brasileiro demonstrou toda sua genialidade: a música de câmera. Esse CD, além de obras belíssimas para solo de violão e de piano apresenta duas raridades camerísticas: a “Segunda Sonata para Violão e Piano” e a “Sonata para Violoncelo e Violão”.

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A “Sonata para Violão e Piano” incluída no CD, composta em 1957, é a mesma obra que Gnattali batizou posteriormente de “Divertimento para Piano e Quinteto de Sopros”, obra esplendorosamente gravada pela pianista Maria Teresa Madeira e o Quinteto Villa-Lobos.

Mais um toque de gênio do grande compositor: nas duas roupagens a mesma obra apresenta uma sonoridade sensacional. É muito raro termos obras camerísticas com a participação de um violão, e o compositor colabora de forma acentuada no enriquecimento da literatura violonística ao compor também uma bela sonata para este instrumento junto a um violoncelo. Obra extremamente refinada, de 1969, apresenta em seu primeiro movimento uma das maiores inspirações do compositor.

“Alma Brasileira”

O disco com obras de Radamés Gnattali, acompanhado do livreto, está disponível na iTunes Store e no Presto Classical por U$10 (cerca de R$40).

Detalhes

Dois detalhes engrandecem ainda mais o disco “Alma Brasileira”: os textos do encarte muito bem escritos pelo violonista brasileiro Fabio Zanon e a bela imagem que aparece na capa do CD: uma linda fotografia de Parati feita pelo próprio violonista Franz Halász. Detalhes que fazem deste CD uma joia, uma gravação obrigatória para todos nós.

O que é mais estranho é que as poucas gravações que existem da obra foram sempre realizadas por instrumentistas de outra nacionalidade, nunca brasileiros, com destaque para o registro do violonista albanês Admir Doçi e do violoncelista suíço Mattia Zappa.

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Penso que essa nova gravação, com o violoncelista taiwanês Wen-Sinn Yang (violoncelo solo da Orquestra da Rádio Bávara) e o violonista alemão Franz Halász, é ainda superior, uma verdadeira referência. Realmente as interpretações são primorosas e, nas obras para piano solo de Gnattali, a pianista Débora Halász não fica nada a dever a Roberto Szidon, referência na obra pianística do autor.

Radamés Gnattali realmente deve ser motivo de orgulho de todos nós e algo me diz que a origem deste bem-sucedido CD deve ter sido ideia da pianista Débora Halász, brasileira, discípula de Beatrz Balzi e Myrian Dauelsberg, e que reside há muitos anos na Alemanha.

O marido dela, o excelente violonista Franz Halász, não só adotou o sobrenome de Débora, mas adotou também um amor muito grande à nossa música e ao nosso país.