Aos 26 anos, compositor é pupilo de Elton John.| Foto: Sandra Ciampone/Divulgação

A crítica especializada tem usado a expressão “Dividir para dominar”, estratégia de conquista de territórios desde os tempos dos romanos, para falar do novo álbum do cantor britânico Ed Sheeran. É um tanto chavão, mas resume bem o efeito que “÷” (“Divide”), causou no mundo pop atual desde que foi lançado oficialmente, em 3 de março. Sheeran é “o cara”, o principal artista do gênero neste momento.

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Todas as 16 músicas de seu lançamento estão no Top 20 da parada britânica. A Austrália e os Estados Unidos também abraçaram muito bem esse que é terceiro disco de sua carreira. No Brasil, onde o ruivo volta a se apresentar em maio, incluindo Curitiba (assinantes da Gazeta do Povo têm 45% de desconto), “Shape of You”, o primeiro single, foi um dos principais hits nas últimas semanas. Para se ter uma ideia, ofuscou até mesmo funks que eram certos como os hinos durante o Carnaval. Foi o que mostrou a lista do Spotify, serviço de música on-demand.

Em entrevista à edição britânica revista GQ em fevereiro deste ano, Sheeran, 26 anos, revelou o que muitos já desconfiavam. “Eu nunca fui o mais popular da escola”. No contexto, se comparava à amiga americana Taylor Swift, que, segundo ele, também não era o centro das atenções na adolescência. “Ela quer ser a maior artista feminina no mundo e eu quero ser o maior artista masculino do mundo. Isso vem também de sempre falarem ‘você não pode fazer isso’ e tipo, responder: ‘dane-se. Eu posso”, resume.

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Os sheerios, como são chamados os fãs do ruivo tatuado, parecem se identificar com esse sonho do ‘perdedor que chegou lá’, quase como num conto adolescente falado em inglês. Um cara que não necessariamente pareça uma estrela, mas que se transforma em uma assim que pega em um violão. E que também, neste mês, chegou à capa da Rolling Stone, principal referência do que é importante no universo pop.

“A empatia do público com ele tem muito a ver com isso. Ele passa a imagem de qualquer pessoa poderia ser o Ed Sheeran. Um amigo da escola, o seu vizinho”, diz o produtor musical e compositor Vadeco Schettini.

Essa característica ‘normal’ frequentemente vira piada, endossada pelo próprio compositor. No filme “O Bebê de Bridget Jones”, ele faz uma pontinha. Bridget (Renée Zellweger) e a amiga não o reconhecem e praticamente recusam uma selfie com ele, que, minutos depois sobe ao palco.

Antes dessa aparição, ele já era bem conhecido das trilhas. Embalou romances em “Cinquenta Tons de Cinza” e “Como Eu Era Antes de Você”, entre outros filmes. As novelas brasileiras também escolheram músicas como “Sing” e “Thinking Out Loud” como temas de seus protagonistas.

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A música

Hitmaker, Sheeran faz uma música que não ‘incomoda’, diz Schettini. “Ele não é genial, mas também não incomoda. Você pode tocar a música dele no churrasco, na casa da sua vó, com as crianças. Pode aparecer em um filme de amor, num de suspense. É comum e muito permeável. Mas, dependendo de onde está você nem percebe o que está tocando”, diz.

Schettini também acredita que as possibilidades artísticas do britânico possam ser ampliadas no futuro. Os críticos musicais que detonaram “Divide” pelas letras pueris e falta de originalidade melódica podem se surpreender. “Eu acho que ele tem uma possibilidade de evoluir musicalmente. Agora ele está aproveitando para vender bem e se tornar conhecido”.

Professor do curso de produção musical do Centro Europeu, Alonso Figueroa lembra que é Sheeran é pupilo de Sir Elton John (que também se apresenta em Curitiba no fim do mês). “Se ele viu uma possibilidade, não se pode descartar que ele tem conteúdo musical”, diz.

Elton ficou muito bem impressionado com os primeiros trabalhos do garoto,na época com 20 anos, e o trouxe para sua companhia, a Rocket Music, que gerencia a carreira de Sheeran até hoje. São amigos tão próximos que Sheeran costuma dizer que se inspira no ‘gerente’ para não fazer besteiras. O veterano, por sua vez, manda até vídeos obscenos para o ‘afilhado’.

“A formulazinha das composições dele acertou na loteria. São timbres bem atuais, de acordo com o que é usado na música eletrônica e ainda tem um pouco de hip hop , um vocal agradável, melodias chicletes e, acima de tudo não incomoda”, avalia Figueroa.

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