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Os Ramones em sua foto mais célebre: arquitetura punk. | Evening Standard/Getty Images
Os Ramones em sua foto mais célebre: arquitetura punk.| Foto: Evening Standard/Getty Images

29 minutos, 14 músicas, US$ 6,4 mil e 6 dias de estúdio. Há exatos 40 anos, o primeiro álbum dos Ramones mudava a história da cultura pop e salvava o rock de um perigoso caminho de excessos.

A banda criada dois anos antes na vizinhança de classe média do Queens, misturou os três acordes do rock primordial, uma reinterpretação da atitude sofisticada do underground de Nova York com a velocidade e fúria daquilo que a partir do lançamento álbum de estreia Ramones ficou conhecido como punk rock.

“Fazer um álbum em uma semana e produzi-lo por esse preço [US$ 6.400, equivalente a R$ 114 mil em valores atuais] era inédito, ainda mais um álbum que de fato mudou o mundo”, disse Joey Ramone (1951-2001), vocalista da banda, em depoimento ao livro Mate-Me Por Favor, de Legs McNeil e Gillian McCain.

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Show dos Ramones na Pedreira Paulo Leminski em 1994 foi o “woodstock curitibano”

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O álbum Ramones foi pouco vendido logo após seu lançamento. Só chegou à marca do disco de ouro (500 mil cópias) trinta e oito anos depois, em 2014. Mas teve o mérito de, como ocorrera com os Beatles na década anterior, convocar uma geração de garotos desajustados a montar a própria banda.

E como uma banda formada por quatro jovens que mal sabiam tocar seus instrumentos dividiu a história e inverteu a regra do jogo no meio dos anos 1970? Mostrando que não era necessário ser um virtuose ou ter dinheiro farto das gravadoras para emocionar o público. A ideia era que rock voltasse a ser rápido, barulhento e divertido como era quando eles ainda eram crianças, nos anos 50 e início dos anos 60.

“Ramones não é só sinônimo de um estilo, o punk americano, mas também a marca de um estilo de vida – retrô, conservador, saudosista, mas ao mesmo tempo visceral e intenso, com uma urgência que os próprios músicos demonstraram em vida”, avalia o jornalista Marcelo Moreira, do site Combate Rock.

Blitzkrieg

Produzido por Craig Leon, para o selo Sire Records, o álbum Ramones é uma coleção de clássicos rápidos, duros e divertidos como “Blitzkrieg Bop”, “Beat On The Brat” e “I Wanna Be Your Boyfriend“, entre outras pérolas. Em pouco tempo, nos Estados Unidos e na Inglaterra, apareceram inúmeras bandas que replicavam a falta de modos e o jeito “faça você mesmo” dos Ramones. O pedantismo artístico das grandes bandas de então se tornou obsoleto e um novo rock surgiu.

No grupo original, Joey [vocal] “era um cara doce, e as canções que ele escreveu eram ternas. Dee Dee [baixo] era Dee Dee. Tommy [bateria] era o cérebro do grupo. Johnny [guitarra] era o Paul McCartney da banda, era ele quem a mantinha unida”, explicou Craig ao New York Times.

Hoje os quatro Ramones originais estão mortos. 40 anos depois do lançamento do primeiro álbum, a banda é um dos ícones do universo pop, em cima do qual eles criaram a sua música inovadora.

Tudo planejado

Mas só dizer que o primeiro disco dos Ramones mudou o rock e inventou o punk é um clichê (ainda que real). O que não fica tão claro é o quanto os Ramones foram o fruto de um projeto bem pensado e executado e não uma manifestação espontânea na cena de Nova York.

O jornalista Andre Barcinski explica que a banda “não nasceu de jaquetas de couro, fazendo músicas de 60 segundos e com aquela postura de palco quase imóvel. Mas foi quase assim”, afirma.

Na verdade, o homem com o plano na banda foi Thomas Erdelyi, ou mais tarde, Tommy Ramone. Tommy era o mais rodado dos quatro e foi ele que sugeriu que os Ramones se parecessem com uma gangue, usando o mesmo sobrenome e indumentária: jeans, tênis e jaqueta de couro.

Ramones Day

Na próxima quinta-feira (28) acontece a 5ª edição do Ramones Day, a festa que tradicionalmente celebre a mitologia do quarteto nova-iorquino fundador do punk rock. Desta vez a festa será totalmente dedica a celebrar o quadragésimo aniversário do álbum “Ramones”. No palco do Vox Bar (Barão do Rio Branco, 418, Centro), a banda Magaivers vai tocanr grandes hits e clássicos do quarteto nova-iorquino, e uma jam-session com músicos da cena curitibana tocando todas do álbum “Ramones”. Os ingressos custam R$ 20 (antecipados) e R$ 25 na hora.

Uma estética que não foi criada do dia para noite, mas já estava pronta e consolidada quando a fotógrafa Roberta Bayley fez a sessão de fotos da capa do primeiro disco.

O universo das músicas do Ramones era a realidade de adolescentes de classe média na Nova York violenta dos anos 1970, além de muita rádio FM e a mitologia pop que vinha dos quadrinhos, filmes B de terror, televisão e desenhos animados.

Além disso, os Ramones sempre amaram o pop, explica Barcinski , e “apesar de toda a agressividade e minimalismo de sua música, tinham um lado doce e ingênuo, quase infantil, e uma queda pelas girl groups dos anos 60 – Ronettes, Supremes etc. – grupos que, assim como os próprios Ramones, foram montados por produtores espertos”.

Algo que não desmerece em nada a banda, afirma o pioneiro do punk brasileiro Clemente Nascimento. “Ele mesmo se arquitetaram. Ninguém monta uma banda sem saber como quer soar ou parecer. Os Ramones conseguiram criar uma identidade muito particular a partir das coisas que eles curtiam”, opina.

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