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O Grande Circo Místico, de 1983: um clássico nacional concebido nos bastidores do Guaíra | Divulgação
O Grande Circo Místico, de 1983: um clássico nacional concebido nos bastidores do Guaíra| Foto: Divulgação
  • Da esq. para a dir.: Wanderley Lopes, Julio Mota e Eleonora Greca
  • Cronologia

O Balé Teatro Guaíra completa 40 anos na próxima terça-feira (12). As comemorações começam bem tímidas, com a estreia, em data ainda não definida até o fechamento desta edição, de um novo espetáculo da companhia, A Lenda das Cataratas do Iguaçu, uma nova versão coreografada por Rui Moreira para a montagem Lendas do Iguaçu, com música de J. Zenamon, feita por Carlos Trincheiras, em 1987.

Depois, o corpo de baile da companhia, formado por 30 bailarinos, viaja por sete cidades do interior do estado para exibir algumas obras consagradas do repertório (que soma 140), entre elas, a aclamada Segundo Sopro, com música de F. Cardia e coreografia de Roseli Rodrigues, que completa dez anos; e Romeu e Julieta, que estreou no ano passado, com coreografia de Luiz Fernando Bongiovanni.

Nada que não faça parte da rotina normal de uma companhia. Mas e a festa? Só no dia 1º de agosto, quando a "grande família" do balé se reúne em uma noite de gala com direito a vinho e muita dança: bailarinos e ex-bailarinos, coreógrafos, técnicos e todos os que participaram em algum momento do dia-a-dia da companhia, desde a sua criação em 1969. A data foi escolhida por ser um mês de férias na Europa. "Assim, os convidados que trabalham por lá poderão vir", conta a idealizadora do evento, Eleonora Greca.

A festa está sendo organizada por iniciativa própria dos bailarinos. "Esperamos contar com o apoio empresarial para realizar o evento", diz Eleonora, bailarina da companhia desde 1976 e primeira bailarina da companhia há 29 anos. Ela já começou a contatar os convidados, incluindo a bailarina Ana Botafogo e o músico Edu Lobo, que já confirmaram presença.

Realizações

O carioca Julio Mota, bailarino do Guaíra desde 1983, considera a comemoração uma forma de sensibilizar a população para a importância da companhia. "Na vida do bailarino, cada ano é muito importante, afinal, é uma profissão com prazo de validade curto. Por isso, estes 40 anos tem de ser comemorados. A criação do balé contribuiu para que o Paraná deixasse de ser um estado somente agrícola para ser um produtor cultural", diz.

Após ficar fascinado com as apresentações da companhia pelo Rio, Julio Mota veio participar de uma audição, foi aprovado e imediatamente passou a integrar o elenco da montagem que é, sem dúvida, a mais popular da companhia: o Grande Circo Místico (leia quadro). "É um clássico nacional", define Eleonora.

Mota é um dos oito membros da companhia sênior G2, criada em 1999 para reunir os bailarinos do corpo estável interessados em desenvolver a pesquisa e a experimentação. "Esse é um fato a se destacar. Dentre as cinco companhias oficiais do Brasil, somente o Balé da Cidade de São Paulo e Balé do Teatro Guaíra mantêm um grupo sênior", diz.

Ele também aponta que a companhia ajudou a formar plateias que lotam os mais de dois mil lugares do Teatro Guaíra a cada apresentação. "As pessoas, mesmo leigas, hoje já se aventuram a criar um discurso crítico, ajudamos a desenvolver um senso estético", comemora.

Carla Reineck, integrante da companhia há 33 anos e sua atual diretora, diz que o corpo de baile realiza ensaios abertos e apresenta espetáculos em escolas da rede pública. "Queremos um público novo", diz ela, que em 2004 remontou o Quebra-Nozes, um dos grandes sucessos da companhia coreografado por Trincheiras, em 1980. Ela menciona os preços acessíveis das apresentações e a participação no projeto Teatro para o Povo, que no último domingo do mês apresenta espetáculos gratuitos nos auditórios do Guaíra.

Poucas viagens

"Esta é uma arte muito difícil, que exige muito de seus artistas, e a gente pode mostrá-la muito pouco", diz Eleonora, referindo-se às poucas chances que a companhia teve de se apresentar pelo mundo. De fato, em 40 anos, o balé nunca excursionou pela Europa. "Fomos somente a Portugal, em 1984", diz.

Seu marido, Wanderley Lopes, primeiro bailarino da companhia desde 1988 e há 27 anos no Teatro Guaíra, sente falta de uma política cultural que atenda melhor as artes cênicas. "O Guaíra não tem verba para projetos independentes. O pouco que tem investe nos corpos estáveis e, por isso, a gente não está viajando", diz.

Os percalços da companhia – que sempre existiram, mas parecem se agravar a cada nova gestão estadual – vão desde a falta de recursos à dificuldade em agendar apresentações. "O Guaíra não tem um programa fixo e ouço muitas pessoas dizerem que ele virou um espaço de locação para formaturas, e não de produção", lamenta o bailarino.

Mesmo a duras penas, os integrantes da companhia não desistem de fazer perdurar a arte que produzem. "Há muito a comemorar", diz Eleonora, lembrando inúmeros outros bons momentos da companhia. "Mas a gente não pode ser conformista. No futuro, haverá muito mais a comemorar", diz.

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