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O rock independente já se apossou de um espaço relevante no cenário musical brasileiro. As subvertentes do estilo têm seus próprios festivais e lugares cativos, como o Porão do Rock, bar curitibano por onde circulam bandas apartadas do esquemão do mercado fonográfico. Mas qual a situação da produção independente de MPB?

Menos articulada do que o rock nacional, a música popular brasileira ainda está descobrindo como forjar um circuito independente que dê condições de produção à pluralidade de artistas que não encontra espaço nas grandes gravadoras. Ou prefere não se submeter a seus ditames.

É o caso do casal de músicos Téo Ruiz e Estrela Leminski, autores do livro Contra-Indústria, sobre a produção independente de MPB. A obra é oportuna no momento em que a crise das gravadoras e a facilidade de troca de arquivos pela internet conduz o olhar às alternativas de produção musical. Concebida como projeto final da pós-graduação em Música Popular Brasileira pela Faculdade de Artes do Paraná, está à venda nas livrarias Fnac, Guerreiro e Chain, e no site www.musicaderuiz.art.br.

Integrantes do grupo Casca de Nós, os autores percorrem no livro o trajeto histórico da música popular brasileira independente, que tem como marco inicial o lançamento do disco Feito em Casa, de Antônio Adolfo, em 1977. Nesse percurso, a vanguarda paulista foi determinante por atender à demanda por criatividade, enquanto a indústria fonográfica evitava ousadias em nome do lucro. Em torno do projeto Lira Paulistana, transitaram artistas inventivos como Arrigo Barbabé, Itamar Assumpção e o grupo Rumo (de Ná Ozzetti, Paulo e Luiz Tatit.

"A música independente já é uma realidade. Não está mais à margem nem é feita por amadores. Mais de 60% das prensagens na Zona Franca de Manaus são de títulos independentes. Quem propõe coisas novas são os artistas independentes e não mais as gravadoras", defende Téo Ruiz.

A independência, na opinião do casal, é hoje uma opção atraente tanto para artistas em começo de carreira quanto para veteranos, pela liberdade criativa que apresenta e, tão importante quanto, por entregar ao artista o domínio dos direitos autorais de sua produção.

A maior dificuldade ainda é a distribuição da obra – alcançar os pontos de venda mais distantes. "Essa é a desvantagem de você comprar a briga da independência, mas, por outro lado, um grupo como o Cordel do Fogo Encantado, melhor exemplo da cena independente atual, só tem a ganhar depois: são eles quem decidem o show e o CD", diz Téo.

A internet já permite vislumbrar novas alternativas de divulgação e distribuição, que ajudam a romper distâncias e com o preconceito do público em relação ao artista independente, ainda considerado – do ponto de vista de quem se restringe à lógica da indústria fonográfica e do que toca nas rádios e na televisão – o "coitadinho" da história.

A questão das rádios em Curitiba preocupa o casal, pela pouca variedade de emissoras universitárias ou comunitárias na cidade. "Na Educativa existia espaço para os artistas independentes, mas agora está submersa nessa MPB velha cheirando a mofo. A Lúmen começou arrasando, mas hoje repete as mesmas músicas todos os dias", critica Estrela.

Téo identifica mais duas questões a serem superadas: a dificuldade de articulação entre a classe musical e a falta de valorização do trabalho de composição, visto que em Curitiba há muito mais espaço para bandas covers e para o "entretenimento" do que para o trabalho autoral.

São as pedras no caminho da independência.

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